Concessões na Polana: Sommerschield inicial, restante e plano de desenvolvimento (3/7)

Nos dois artigos anteriores falámos primeiro dos terrenos da DBLS que na zona alta da Polana ia do nível do Hospital, o seu limite mais a sul, até à Rua da Nevala de Lourenço Marques (LM), actual Nkrumah de Maputo.
Falámos depois, na parte final do segundo artigo desta série que esses terrenos teriam feito parte duma concessão que bordejava a baía de LM para N - NE da zona da Polana para norte e tinha sido atribuida em 1887 a Oscar Sommerchield e em 1896 adquirida pela companhia Delagoa Bay Lands Syndicate (DBLS). A parte acima da Rua da Nevala dessa Concessão de Sommerschield (CdS) inicial não tinha sido incluida nas negociações de 1902/1912 entre a DBLS e o Estado e tinha continuado desocupada, salvo a sua parte mais a sul que tinha sido aproveitada para campo de golfe
Ora para o início dos anos 50 a DBLS teria já vendido a maioria dos terrenos da sua concessão na Polana e teria considerado ser a altura certa para comercializar parte do restante (pós 1912) da CdS inicial. algures para norte da Rua da Nevala. A Câmara Municipal de LM deve ter também achado que era oportuno começar a urbanizar essa zona e as duas partes entraram em negociações. Dessa conjugação de interesses resultou um novo contrato e relativa a ele está disponível no google (para procura limitada) a publicação "A Concessão de Sommerschield e o novo contrato entre a Câmara Municipal de Lourenço Marques e a 'Delagoa Bay Lands Syndicate, Limited'":
Publicação da Câmara de LM de 1953 relativa ao 
contrato com a DBLS suponho que de 1952

Vemos a seguir uma figura (65) da tese de doutoramento de Lisandra Franco de Mendonça e que provém desse contracto de 1952/53. Mostra-se aí a cidade de cimento urbanizada até essa altura na qual inseri os nomes dos seus bairros principais e para norte - nordeste aparece a parte da CdS inicial que não tinha sido incluida no acordo entre a DBLS e o Estado em 1903/1912:


PLANO DOS ANOS 50 DE URBANIZAçÃO de LM (clique para aumentar)
Áreas verde e amarelo: presumo que do Estado acima da Rua da Nevala, ver em baixo
Área colorida acima das anteriores: área restante da CdS inicial a nordeste da cidade, incluindo na parte alta e junto à praia
Preto com bolinhas: limite a "sul" e "sudoeste" da CdS inicial restante
Tracejado preto e branco: aproximadamente posição da futura 
Av. N.S. de Fátima, actual Kaunda
Rosa: Rua da Nevala, actual Nkrumah
Laranja claro: Av. Massano de Amorim, actual Tung
Azul médio: actual Av. Nyerere, antiga da Polana depois António Enes
Roxo: Av. Pinheiro Chagas, actual Mondlane
Verde claro (linha): Av. Augusto de Castilho, actual Lenine
Violeta: actual Av. Sung, antiga General Rosado, passa em frente à antiga Cadeia Civil
Arco azul escuro: Av. Caldas Xavier, actual Ngouabi, circunvalação do lado oeste 
Arco azul acinzentado: linha da circunvalação do lado leste 
Vermelho: antiga Av. General Machado, actual Guerra Popular

A área verde até aos anos 40 tinha sido usada como zona militar, para o aeródromo da Carreira de Tiro e para a Cadeia Civil. Entretando o aeródromo foi transferido desse local  para Mavalane e essa zona fundamentalmente passou e continuou depois a ser usada como zona militar mais alargada do que a inicial e para a cadeia. A faixa amarela com uns 380 metros de largura tinha sido utilisada até ao início dos anos 50 para a parte mais a sul do campo de golfe incluindo o edifício do seu clube.
No plano de cima vemos o limite da cidade previsto em 1892 que era uma semi-circunferência com centro na Praça 7 de Março actual 25 de Junho na Baixa. Do lado do Alto-Maé esse limite traduziu-se no terreno por uma avenida (a "azul escuro" da Av. Caldas Xavier, actual Ngouabi) e do lado leste ficou-se por um arco virtual "azul acinzentado" e que continuava o do lado oeste até à Ponta Vermelha. 
Em 1887 o objectivo da atribuição pelo Estado da CdS inicial seria o seu aproveitamento para a agricultura e floresta mas quando a DBLS a adquiriu, nove anos depois, seguramente a sua intenção seria já a de especulação fundiária. Embora em 1896 a cidade prácticamente se restringisse a uma parte da Baixa actual e a algumas casas na Ponta Vermelha e o limite previsto fosse a circunvalação mencionada em cima dos "arcos azuis", o ritmo de desenvolvimento urbano deve ter convencido a DBLS de que mais tarde ou mais cedo esse limite teria de ser expandido. E a DBLS previu bem porque como dissemos já no plano de 1912 o limite definido em 1892 para o lado oeste manteve-se entre a Munhuana na cidade e a Mafalala no subúrbio (a dita Av. Caldas Xavier) mas o limite do lado leste foi expandido até à Rua da Nevala, actual Nkrumah "rosa" utilisando a área sul da CdS inicial. Se em 1896 foi Sommerschield que propôs o negócio à DBLS ou se ele aceitou o que esta lhe propõs e se ele teve muito ou pouco lucro seriam boas perguntas mas ....
Como se pode ver no PLANO DOS ANOS 50, a área restante (pós 1912) da CdS inicial seria bastante superior à da cidade de cimento ocupada até essa altura e que tinha atingido o limite "azul e rosa" fixado em 1912. A cidade ia nessa época da Polana ao Alto Maé no eixo Leste - Oeste e da Baixa à linha definida pela Av. Caldas Xavier e Rua da Nevala no eixo Sul-Norte (note-se que o Bairro da Malhangalene não estava ainda urbanizado / planeado mesmo no início dos anos 50). Como essa área tinha demorado mais de 50 anos a ser ocupada, seria natural que a urbanização da nova zona acima da Rua da Nevala fosse progressiva e as diversas cores inseridas no PLANO representavam as suas fases.
A seguir podemos ver dois mapas da cidade, à esquerda o último feito antes (ANOS 40) e à direita (ANOS 50) o primeiro já com pelo menos o plano viário para parte da CdS inicial que não tinha sido incluida nos acordos de 1903/1912 e ficava a cima da "linha preta às bolinhas". Nesse mapa da direita (ANOS 50) tentei especialmente inserir as cores das fases como apareciam no PLANO de cima:

MAPAS DOS ANOS 40 e 50 
Tracejado preto e branco: Av. N.S. de Fátima, actual Kaunda, uma das avenidas principais da urbanização da área restante da CdS inicial
Rosa: Rua da Nevala, actual Nkrumah
Laranja claro: Av. Massano de Amorim, actual Tung
Azul médio: actual Av. Nyerere, antiga da Polana depois António Enes
Roxo: Av. Pinheiro Chagas, actual Mondlane
Verde claro: Av. Augusto de Castilho, actual Lenine
Violeta: actual Av. Sung, antiga General Rosado
Verde normal: Parque José Cabral, actual dos Continuadores
Púrpura: Av. Cabral, antiga Pero de Alenquer e cuja direcção seria aprox.
 o limite da nova urbanização do lado oeste
Áreas amarela e verde: como dissemos em cima antes da alteração 
eram terrenos do Estado e tal não se modificou pelo menos no início dos anos 50
Outras áreas pintadas: aprox. as cores das fases como no PLANO de cima
Laranja normal: Cadeia Civil, vinha de 1930 e manteve-se
Rosa forte: local do futuro Seminário Pio X que foi construido entre 1964 e 68 
no limite a norte da faixa "amarela" de terrenos do Estado

Ficamos assim com ideia no mapa da direita dos anos 50 do que foram as primeiras fases que foram urbanizadas da área restante (pós 103 e 1912) da Concessão de Sommerschield (CdS) inicial e que deram origem ao Bairro dos Cronistas.
Concretizaremos melhor essas ideias no artigo seguinte..

Comentários