Egas Moniz Coelho, partes da sua vida, Conselho do Governo e duelos

Ao tempo da inauguração das linhas dos eléctricos de Lourenço Marques (LM), actual Maputo em 1904, fazia parte da direcção da companhia concessionária inglesa Delagoa Bay Development Company (DBDC) o português Egas Moniz Coelho. Como disse antes as grandes companhias desse tipo e principalmente as estrangeiras procuravam ter nos seus Conselhos de Administração em Lisboa personalidades de prestígio nacional e para além disso a DBDC deve ter achado conveniente recrutar para a gestão alguém com relevo local que como veremos seria o caso desse senhor. Sobre ele consegue-se alguma informação em pesquisa rápida na net mas a única foto onde aparece será a que vemos a seguir. Já a conhecemos por mostrar personagens ilustres de LM no tempos finais da monarquia e rodeando o Governador-Geral Freire d'Andrade que aparece sentado ao centro.

FOTO 1
Amarelo: Egas Moniz Coelho, sem a sua posição / profissão ser revelada
Por nesta FOTO 1 aparecer Francisco Ferrão como fazendo parte do governo de Moçambique dissemos antes que ela seria de entre 1907 e 1909. Isso é confirmado pela informação da foto seguinte que terá sido tirada segundos antes ou depois dela. 

FOTO 2
Amarelo: Egas Moniz Coelho fazia parte do Conselho do Governo em 1907

Sobre Egas Moniz Coelho o que podemos encontrar e que fosse anterior a 1907 é que era de antiga família nobre e tinha sido militar. Via-se aqui que tinha o posto de capitão em Moçambique em 1890 fazendo parte do enquadramento duma companhia de voluntários formada em LM para ir defender o território de Manica que era pretendido pelos ingleses. Essa companhia entrou num combate junto a Macequece mas teve de retirar tendo depois vindo tropas de Portugal para tentar lutar por essa posição, situação que acabou por ser resolvida por novo tratado de fronteiras com a Inglaterra assinado em 1891. O texto pertinente no livro de Eduardo de Noronha "O Distrito de LM e a África do Sul" é o seguinte: 
Capitão D. Egas Moniz Coelho no Batalhão de Voluntários 
mas parece que ficou em LM em 1890

Pelo que vemos nas FOTOS 1 e 2, em 1907 Egas Moniz Coelho teria já entre uns 50 a 60 anos de idade e por isso podia ter participado nos voluntários já na situação de militar na reserva. Não sei o que ele teria feito antes do exército, quando lá esteve e quando terá saído para além dessas referências relativas a 1890 e à função em 1904 na DBLC. 
Também não sei a que título pessoal e/ou profissional estaria ele nas FOTOS 1 e 2 mas aqui aparece-lhe outra referência e mais alongada para o ano de 1909. Trata-se dum texto publicado "em directo" no jornal Diário Ilustrado de Lisboa em que Egas Moniz desafia, o que seria em último recurso, para um duelo um tal José Carlos de Lara Everard. Os dois teriam tido uma grave disputa verbal no Conselho do Governo (o que quer dizer que Egas Moniz continuava nesse orgão dois anos depois das FOTOS 1 e 2) e por isso Egas Moniz pedia a conhecidos conjuntos (por acaso os também membros desse Conselho Francisco Ferrão e Coronel Baptista Coelho, respectivamente "verde" e "roxo" na FOTO 1) que servissem de intermediários para a resolução do conflito.
D. Egas Moniz Coelho escrevia que ou Lara Everard retirava o que tinha dito
ou que podia ser "convidado" para um duelo de honra

Segundo se lê na continuação dessa notícia no Diário Ilustrado de Lisboa, Baptista Coelho e Francisco Ferrão informaram logo no dia seguinte Egas Moniz Coelho de que Lara Everard ao ser contactado não tinha pedido desculpas, de facto parece-me que até agravou o caso. Mas deduzo que também não aceitou o duelo e por isso não sei como acabou a disputa sobre o que, do que se percebe, podia ser um tema actual (poderá alguém ser considerado honesto só porque não foi condenado pela justiça?)
Se o duelo proposto por Egas Moniz seria à pistola ou com espada não fica claro mas tendo ele sido militar e Lara Everard parecendo que não, o primeiro partiria com vantagem mesmo que pudesse ser mais velho que o segundo. Deste senhor temos alguns dados no geni e aparece aqui a sua foto e como faleceu só em 1941 temos a certeza que se safou a contento dessa problemática em 1909. Neste ponto do relato questiono-me se teria havido em LM muitos duelos e se deles teriam resultado fatalidades, tema de que nunca ouvi falar ...
Para se fazer ideia dessas curiosas situações, podemos ver aqui foto da preparação dum duelo à pistola em Lisboa motivada por disputa de tipo legal / político / económica semelhante à de LM. Esse duelo, de que não é dito qual o resultado final, aconteceu também em 1909 apesar de como diz a publicação eles serem proibidos por lei.
Podemos a seguir ver daqui uma representação dum duelo à pistola em Espanha e em que um dos participantes faleceu (nesse artigo explica-se a curiosa mecânica do "jogo"):
Final trágico dum duelo à pistola em Espanha em 1870 entre candidatos ao trono real

O mesmo blog monumentosdesaparecidos mostra ainda o último duelo com espada realizado em Portugal, nesse caso em 1914 e entre dois oficiais da Marinha o qual terminou com ligeiros ferimentos para ambos os opositores.
Voltando a Moçambique, é de realçar das informações disponíveis que Lara Everard em 1909 pertencia ao Conselho do Governo. O facto de em 1907 não estar nas FOTOS 1 e 2 tanto podia significar que não era membro nesse ano (podia até não ser veterano de Moçambique como era Egas Moniz) como que tivesse estado ausente no dia dessas fotos.
Voltando a Egas Moniz Coelho, já depois da instauração da República em 1910, continuou a fazer parte desse orgão consultativo do Governador-Geral como se vê neste estudo (vozes asiáticas) que menciona a sua participação num debate importante ocorrido no ano de 1913 (o seu título tinha passado do Dom monárquico ao Dr. "comme il fault"):
"Em princípios de outubro de 1913 o Conselho de Governo, à semelhança da vizinha União Sul-Africana, voltou a discutir um regulamento para a entrada de asiáticos. Nem todos os colonos porém concordavam com tal regulamentação. Numa alocução considerada brilhante pelo Guardian – opinião que soa a ironia – Dr. Egas Moniz Coelho (representante de Inhambane) disse que tal ato seria um « verdadeiro atentado à economia da Província ». Segundo o jornal ele fez «apologia» da importância dos asiáticos no Natal e na Província e recomendou a leitura das opiniões de Sá da Bandeira, Andrade Corvo e António Ennes, afirmando que não se devia atender à «orientação ou desorientação das maiorias locais, mas sim ao interesse coletivo ».
Para finalizar, no FB Obras de Pereira de Lima lê-se que Egas Moniz Coelho faleceu em Moçambique e que foi sepultado no cemitério de S. Francisco Xavier.

Comentários

MCA disse…
Não sei se tem interesse para si mas passou-me isto hoje pelas mãos.

http://id.bnportugal.gov.pt/bib/catbnp/2111452
Rogério Gens disse…
Caro MCA:
Obrigado. Pelo título não faço ideia que assunto relacionado com Egas Moniz Coelho seria tratado num livro UMA ILLEGALIDADE QUE O POVO NÃO DEVE CONSENTIR A QUAL REPRESENTA UMA EXTORSÃO AO PATRIMONIO DE NOSSOS FILHOS E DA PATRIA COMMUM!. Ao que tenho visto nessa altura usavam-se livros para derimir contendas pessoais, presumo que fosse umm caso desses. O autor Napoleão Leão foi um personagem de relevo em LM no início do século XX e do que apanhei sobre ele escrevi aqui: https://housesofmaputo.blogspot.com/2017/10/mais-sobre-napoleao-ferreira-leao-da.html
RG