Sabemos já que o Eng Lisboa Lima foi o autor do projecto da Linha de Goba para a Suazilândia. O Eng. Lopes Galvão no seu livro "A Engenharia Portuguesa na Moderna Obra de Colonização" publicado em 1940 escreveu detalhadamente sobre a sua vida profissional e juntou-lhe a foto seguinte (ver mais biografia e foto na wikipedia):
FOTO 1
ALFREDO AUGUSTO LISBOA DE LIMA (1866-1935) |
O texto completo é apresentado em baixo e por isso faço aqui um resumo mais dedicado ao seus trabalhos em Lourenço Marques (LM), actual Maputo para os Caminhos de Ferro de Lourenço Marques, porto e cidade.
O militar de engenharia Lisboa de Lima em 1898 com 32 anos de idade foi trabalhar na Beira para a majestática Companhia de Moçambique mas em 1903 passou para o serviço do Estado para fazer os estudos do caminho de ferro da Swazilândia. Em 6 meses fêz o reconhecimento de 140 quilómetros e elaborou o projecto que foi aprovado em 1904 pelo Governo Central. Foi Lisboa de Lima que o pôs em execução já como chefe dos serviços de construção dos CFLM, cargo que assumiu a partir de c. Abril de 1905 (ver PS). Os referidos 140 km suponho que incluiram traçados alternativos, ramais e talvez até estudo dentro da Suazilândia dado que a linha em Moçambique tem 74 km no total e descontando a secção comum a partir da estação da Machava tem individualmente uns 64 km de comprimento.
Mostra-se aqui a escavação de trincheira na construção dessa linha
FOTO 2
Escavação de colina arenosa na linha de Goba para a Suazilândia (Essuatini) |
Mais geralmente, pouco depois do trabalho na linha de Goba o Eng. Lisboa de Lima assumiu as funções de director dos caminhos de ferro (CFLM) acumulando depois com o de director interino do porto. Nesta situação se manteve até Agosto de 1910 tendo sido exonerado depois da instauração da República em Outubro de 1910.
Seguindo mais o livro "Grandes foram os melhoramentos introduzidos na linha férrea (da África do Sul, via Ressano Garcia) e no porto durante a sua administração. A linha foi rectificada em grandes extensões, eliminando-se curvas e reduzindo-se inclinações dos traínéís. As obras de arte foram melhoradas. A Lisboa de Lima se devem o projecto e construção da casa para os chefes de serviço dos caminhos de ferro e o projecto da nova estação da cidade".
Pela data esta construção é a gare de passageiros da qual que mostrámos aqui duas fotos em construção. Depois de construída e antes de ampliação posterior temos a gare nesta foto do site delagoabayworld:
FOTO 3
Gare de Passageiros de Lourenço Marques, Central projectada por Lisboa de Lima e construída em 1909/10 |
Note-se que esta foto será de entre 1913 e 1916 dado que se vê a fundo a construção do edificio da fachada da estação projectado por Ferreira Maia, após a saída de Lisboa de Lima dos CFLM.Foi sob a direcção de Lisboa de Lima que se iniciou a reconstrução da ponte cais Gorjão inicial em madeira e se iniciou o seu prolongamento para montante, trabalhos em betão armado (ver aqui).
Ainda segundo o livro do Eng. Galvão, ao Eng. Lisboa de Lima se deve também a criação da praia da Polana e a organização dos serviços e melhoramentos ali criados. Deste artigo uma foto já conhecida desse local e tirada pouco depois dos trabalhos:
Depois de deixar a direcção dos CFLM em Moçambique, Lisboa de Lima trabalhou no Ministério das Colónias em Portugal onde se tornou o principal consultor técnico. De 1914 a 1916 exerceu o cargo de Ministro das Colónias e faleceu cerca de 20 anos depois.
Uma curiosidade, o horário dos combóios dos CFM a partir de Maio de 1909 à venda no site olx:
Texto completo escrito em 1940 pelo Eng. Lopes Galvão que foi subordinado do Eng. Lisboa de Lima nos CFM:
Uma curiosidade, o horário dos combóios dos CFM a partir de Maio de 1909 à venda no site olx:
FOTO 5
O director: A. A. de Lisboa de Lima |
Outra foto de Lisboa de LIma, provávelmente na época em que foi Ministro das Colóniasda jovem República Portuguesa:
Eng. Lisboa de Lima |
Texto completo escrito em 1940 pelo Eng. Lopes Galvão que foi subordinado do Eng. Lisboa de Lima nos CFM:
"Lisboa de Lima é nome de grande relêvo na engenharia colonial. Tal qual como Joaquim José Machado, teve uma carreira exclusivamente colonial e bem brilhante ela foi, tôda devotada ao progresso e ao engrandecimento dos nossos domínios ultramarinos.
Com inteira justiça se pode dizer que bem mereceu de todos êles.
Nasceu êste ilustre engenheiro em Lamego a 7 de Setembro de 1866, vindo a falecer em Lisboa em 25 dee Outubro de 1935. Tendo tirado com distinçâo os preparatôrios para o curso de engenharia, abraçou a carreira militar, de que foi distinto ornamento, mas pouco pouco tempo permaneceu ao serviço da Guerra.
Logo que se lhe ofereceu oportunidade, passou ao serviço das Colônias, nas quais viveu por largo tempo.
Tendo concluído o seu curso na Escola do Exército era, aos 25 anos promovido a alferes para o antigo regimento de engenharia. Ali desempenhou funçôes de responsabilidade e entre elas a de ajndante do regimento, lugar sempre da confiança do Comamdante e para qual se necessitava de especial competência e aptidâo.
No ano de 1898, tendo 32 anos de idade, foi convidado para Secretário do Govemador em África da Companhia de Moçambique.
Chegado à cidade da Beira foi logo nomeado Chefe interino do gabinete militar e a seguir Secretârio Geral interino e substituto do Governador nas suas ausências, início, como se vê, de uma carreira auspiciosa.
Em Janeiro de 1901 passou a exercer as funçôes de director dos serviços urbanos, lugar técnico de grande responsabilidade, que acumulou com o de chefe da secção militar da Secretaria Geral. Antes havia sido encarregado de auxiliar o dírector das obras públicas nos serviços técnicos, cargo que continuou desempenhando até meados de 1902.
Durante os seis anos em que esteve ao serviço da Companhia de Moçambíque, desempenhou varíadíssimas comissões de serviço, umas de carácter técnico, outras de carácter administrativo. E em tôdas elas se houve sempre por forma a merecer justificado louvor.
A êle se deve o primitivo mercado da Beira, tendo sido louvado pelo modo como dirigiu a abertura e a exploração do mesmo.
Dirigiu a construção da muralha de defesa da praia da Alfândega, tendo executado uma parte importante dêsse trabalho, que era difícil e de grande responsabilidade, em boas condições de segurança e com a mais estrita economia. Do louvor que então recebeu consta que demonstrou não só zêlo e actividade, como também milita competência. técnica.
Por mais de uma vez desempenhou o cargo de Secretário Geral ínterino do Govêmo dos territórios. E sempre com ponderado critério.
Em 10 de Agôsto de 1903 deixou o serviço da Companhia de Moçambíque para passar ao do Govêrno da Colónia ... para fazer os estudos do caminho de ferro da Swazilândia, tendo-se apresentado em Lourenço Marques em 8 Junho dêsse ano. Desta missão se desempenhou com superior competência e com extraordinária rapidez. Em 6 meses fêz o reconhecimento de 140 quilómetros e elaborou o projecto pelo traçado mais conveniente.
O projecto foi aprovado em 1904 pelo Govêrno Central que o mandou logo pôr em execução por êle mesmo, tendo embarcado para Lourenço Marques em Março de 1905 como chefe da 2." divisão, serviços de construção da Direcção dos caminhos de ferro (a 1ª divisão era a da exploração).
Uma vez ali, assumiu logo as funções de director dos caminhos de ferro na ausênoia do director efectivo que pouco depois era exonerado, sendo Lisboa de Lima confirmado no lugar que vinha exercendo interinamente.
Com a saída do director do pôrto foi também nomeado director interino. do mesmo, ficando assim criada pràticamente a direcção única do porto e dos caminhos de ferro. Nesta situação se manteve até Agôsto de 1910, ano em que embarcou para a Metrópole no gôzo de licença graciosa.
Grandes foram os melhoramentos introduzidos na linha férrea e no põrto durante a sua administração. A linha foi rectificada em grandes extensões, eliminando-se curvas e reduzindo-se inclinações dos traínéís. As obras de arte foram melhoradas.
A Lisboa de Lima se devem o projecto e a construção da casa para os chefes de serviço dos caminhos de ferro e o projecto da nova estação da cidade.
Sob a sua direcção se iniciaram também as obras da renovação da ponte cais Gorjão e do seu prolongamento para montante feitas em cimento armado.
Por algum tempo desempenhou o cargo de director dos serviços telegráficos da Colónia.
Foi presídente do Conselho de distrito e presidente da Junta Mista criada pela Convenção de 1909 entre o Transvaal e Moçambique que García Rosado negociou, tendo como um dos colaboradores mais notáveis Lisboa de Lima.
A Lisboa de Lima se deve a criação da praia da Polana e a organização primitiva dos serviços e melhoramentos ali criados.
Pela saída de Costa Serrão da Colónia, foi nomeado Inspector das Obras Públicas interino, acumulando .o desempenho deste lugar com o da direcção do pôrto e dos caminhos de ferro. Era propósito do Govêrno provê-lo definitivamente no lugar de Inspector, logo que terminasse a licença graciosa.
Foi porém surpreendido na metrópole pela mudança das Instituições politicas, e a nomeação não se efectuou, não tendo regressado a Lourenço Marques, por ali ter sido exonerado dos cargos que ali desempenhava. Em todo o caso, a portaria que o exonerou fazia justiça aos seus méritos pois dizia que exercera êsses lugares com zêlo e inteligência.
Não deixou porém o serviço do Ministério. Exonerado do lugar de Director dos caminhos de ferro foi mandado apresentar na 3a Repartição da Direcção Geral e encarregado de colaborar no projecto do pôrto de Macau, tendo sido louvado pela intelígêncía e ínexcedível dedicação com que se houve nessa comissão de serviço.
Também fêz parte da comissão encarregada de dar parecer sôbre o traçado do caminho de ferro de Quelimane ao Chíre e seu prolongamento até Tete.
Com a saída do chefe da 3ª Repartíção foi êle provido definitivamente no lugar.
Ao mesmo tempo era nomeado vogal substituto do ConseIho Colonial.
Mais tarde foi nomeado Subdirector do Ministério e nessa situação o encontrou uma das muitas reformas do Ministério, reforma que extinguiu o lugar, passando Lisboa de Lima à categoria de adido, mas continuando sempre a prestar serviço ali.
Ele era por assim dizer o consultor técnico do minístério, sendo encarregado de estudar os mais importantes e os mais variados problemas que às Colónias diziam respeito.
Fêz parte do extinto Conselho Superior das Obras Públicas e Minas das Colónias, tendo exercido por algum tempo o lugar de presidente do mesmo Conselho.
Várias vêzes representou, sempre com brilho, o ministério em congressos técnicos internacionais.
De 1914 a 1916 exerceu o cargo de Ministro das Colónias, onde desenvolveu grande actividade.
Dá provas exuberantes dela a copiosa Legislação que promulgou e se encontra espalhada por inúmeras páginas do Diário do Govêmo. Essa legislação foi mais tarde compilada e publícada em volume.
Durante muitos anos foi více-presídente da Sociedade de Geografía e presidente da sua Comissão Africana à. qual imprimiu grande dinamismo. Ficaram notáveis nos anais da Sociedade muitos dos seus pareceres sôbre variados problemas, bem como as conferências que nela fêz.
Difícil é encontrar pessoa tão dedícada ao serviço das Colónias como o foi Lisboa de Lima. que apaixonadamente estudava todos os problemas de carácter técnico e económico que lhes diziam respeito. E houve-se sempre por forma a merecer e a receber louvores.
Era condecorado com a ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo e oficial da antiga nobilíssima Ordem de Santiago.
Quando a morte o surpreendeu tinha entre mãos um importante trabalho da Sociedade de Geografia. Horas antes de morrer ainda êle mandava dizer ao Secretário Geral da Sociedade que podia contar com o trabalho que estava quási todo pronto. Mal ímaginava êle que horas depois desapareceria, do número dos vivos."
PS: Segundo o Eng. Lopes Galvão no livro "A Engenharia", pág. 266, foi o Eng. José Maria Cordeiro de Sousa que foi noemado em inicio de 1905 presidente a comissão administrativa do porto de LM, cargo que ocupou até ter sido assumido pelo Eng. LL em Maio de 1905.
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