Demarcação de fronteira com a ZAR em 1890 - no rio dos Elefantes e afluente Letaba (8)

Continuando artigo anterior, falaremos aqui do que se passou com a comissão de 1890 de marcação da fronteira entre a ZAR (África do Sul) a oeste e Portugal (Moçambique) a oeste nos montes Libombos na posição em volta do rio dos Elefantes (Olifants River em inglês na África do Sul) e do seu afluente Letaba onde foi erigido o marco L.
Os rios que vimos anteriormente, o Sabié e o Uanetsi, pertencem à bacia hidrográfica do Incomáti e o dos Elefantes que veremos aqui é o primeiro para norte que pertence à do Limpopo, o que significa uma alteração do relevo na zona a sul do dos Elefantes.
Utilisando como usualmente as fotos do actd.iict com as legendas originais, a primeira:

FOTO 1
web_n3259 rio dos Elefantes
Outra foto do rio reforçando a ideias de que devia formar rápidos na passagem pelos montes Libombos:


FOTO 2
web_n4682 rio dos Elefantes
Presumo que para o fundo desta FOTO 2 fosse aprox. o leste = nascente, o lado de Moçambique mais plano e por isso que o rio dos Elefantes (rdE) fosse a descer para lá mas .... Se assim fosse, por aí estará agora a albufeira da barragem de Massingir que de acordo com o site das Águas de Moçambique foi construída de 1972 a 77 mas cujos primeiros estudos foram em 1924. É de terra e betão e a mais longa de África. 
O rio Letaba é um afluente do rdE e pode-se ver a zona da junção na África do Sul com o google images. O Letaba está à esquerda chegando do lado noroeste e para a direita = leste da junção o rdE "engrossado" atravessa os montes Libombos e como disse forma agora a albufeira de Massingir. 
Segue-se foto da foz do Letaba em 1890 mas não tento fazer a sua orientação, onde será montante e jusante:


FOTO 3
web_n3999 foz do rio Letaba
Na foto seguinte, tendo em conta a legenda e a largura do curso de água (e lembro que estas fotos são do mês de junho, normalmente época seca), presumo que mostrasse o rio dos Elefantes no ponto onde recebe o Letaba pela esquerda e dai os montes para o fundo seriam os Libombos. Se assim for esta foto teria sido tirada na África do Sul, o que pelo que disse antes teria significado um convite dos boer aos portugueses para "darem o salto" sobre a fronteira. Quem tiver curiosidade extra pode tentar ver o que dirá o relatório de Freire de Andrade sobre peripécias passadas na zona.


FOTO 4
web_n4000 foz do rio Letaba (onde?)
Num artigo a publicar sobre as carretas veremos mais fotos do rio Letaba em zona mais plana por isso presumo que a montante da foz que aqui apareceu.
Podemos ver na carta seguinte estes dois rios confluentes e a posição dos quatro marcos (de K a N) colocados pela comissão na secção da fronteira na sua cercania e ao longo dos montes Libombos:

CARTA DE 1892 COM A FRONTEIRA MARCADA
Cinzento: rio dos Elefantes que passa os montes de oeste para leste
Azul
: rio Letaba, último afluente do rdE na África do Sul vindo de noroeste
No curso do RdE pode ver-se à direita a aldeia de Massiguani donde deve provir o nome de Massingir. No google maps a fronteira actual acima do rio parece flectir mais fortemente para a esquerda = oeste do que nesta carta e não sei porque motivo.
O relatório de 1890 tem um anexo sobre os marcos da fronteira e sumarizo em baixo a sua informação, mais alguma do texto principal, para os quatro que destaquei na carta:
Marco Categoria Material Localização
K secundário areia e barro num caminho marcado pelo padre Berthoud
e onde há povoações e lagoas

L

principal

?

na portela do rdE perto da junção do Letaba e
onde estava um grande baobá.
Do marco vê-se o rdE.

M

secundário

pedra seca

ponto alto a 4 milhas da portela do rdE

N

secundário

pedra seca

num outeiro na base do qual passa o
caminho para a casa de João Albasini


A diferença entre marcos principais e secundários não era no tamanho, relevância ou tipo de construção como pode parecer à primeira vista. Principais eram os que mesmo que se viessem a deteriorar no futuro pelo local aberto e visível podiam ser ainda fácilmente reconhecidos, secundários eram os mais "perecíveis" visualmente e por isso para os quais FA deixava maior número de indicações no texto para o caso de terem de ser relocalizados. Não percebo porque não foram tomadas as coordenadas de todos eles e não se as insiriu na tabela o que seria mais científico. Pode tirar-se as coordenadas da carta de Jeppe mas  ele pode ter errado e é sempre menos preciso. Quanto à posição dos campos falaremos depois.
Relativamente ao marco K, o anterior ao do rdE, na tabela é dito que passava perto dele um caminho que tinha sido marcado pelo padre Berthoud, um missionário protestante suíço que foi dos pioneiros das informações geográficas científicas nestas paragens. Todavia na carta é mostrado que o marco K foi colocado junto a um caminho de nativos (kaffer) e que o caminho de Berthoud, que ele seguiu (de ida e volta) em 1891 entre o litoral e o interior, passava muito mais acima = para norte entre os marcos Q e T. 
No relatório FA refere ainda ter o marco N ficado junto ao caminho para a casa de João Albasini, um comerciante luso-italiano muito poderoso por estas paragens mas esse caminho não está marcado no mapa. Os caminhos através dos montes podem indicar passagens mais facéis e / ou existência para o interior de zonas ricas, seja por actividade tradicional dos africanos ou pelas trazidas pelos boers.
No próximo artigo acompanharemos a comissão para cima do marco N, ou seja do rio Nitsintsa até ao marco T onde acabam a norte os Libombos. 

NB 1: para termos uma ideia, a distância da portela do rio Sabié (actualmente com a barragem da Corumana) onde ficou o marco D até à do rdE (barragem de Massingir) onde ficou o marco L (a do Uanetsi onde ficou o marco I fica entre elas) é de aprox 137 km em linha recta. Do rdE até ao Pafuri / Limpopo, fim a norte da fronteira marcada em 1890 são cerca de 180 km em linha recta.
NB 2: neste artigo sigo a ortografia em português correcta para nomes de rios, montes, etc.

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