Continuamos a seguir o que Freire de Andrade (FA) descreve na sua parte do seu relatório "Explorações portuguezas em Lourenço Marques e Inhambane: relatórios da Commissão de limitação de fronteira de Lourenço Marques" (pdf aqui) relativamente ao progresso dos trabalhos da fronteira entre Moçambique / Portugal e a ZAR /África do Sul que como vimos aqui se iniciaram junto à recente estação de caminho de ferro de Ressano Garcia e à portela do rio Incomáti nos Montes Libombos a 2 de Junho de 1890.
Nestes artigos com as imagens disponíveis no ACTD, as partes do texto do relatório mais geográficas, uma carta que veremos depois e a informação do google imagens vou acompanhar o percurso da comissão de sul para norte quase 130 anos depois da sua realização.
Os marcos desta fronteira foram construidos em pedra solta e em pedra seca (não sei a diferença entre eles), só um deles, o K, o foi em areia e barro. O texto de FA sobre os dois primeiros não é claro mas interpreto-o da seguinte maneira: uma comissão de fronteira anterior tinha colocado (e teria sido um a dois anos antes) o marco de fronteira crucial para definir onde se juntariam as linhas férreas dos dois países. Esse é o marco em alvenaria que vimos neste artigo que tinha placas em bronze escritas em português e afrikaans e foi na sua proximidade que do lado português foi criada a estação ferroviária de Ressano Garcia. Essa comissão anterior também instalou o marco seguinte, um pouco mais para norte mas esse, tinha entretanto sido estragado pelo tempo e foi reconstruido em alvenaria pela comissão de 1890 e por isso é considerado o seu primeiro marco, ou seja o A.
Também se bem entendo o que FA escreveu foi só quando a comissão de 1890 chegou ao Rio Sabié, ponto onde erigiu o marco D, que definiu o tipo que serviu de base para os seguintes com pequenas excepções. Daí não sei qual o desenho usado para os marcos B e C mas o D e os seguintes passaram a ter forma piramidal (um tronco de cone encimado por uma calote esférica, quer dizer um cone arredondado em cima), construção em pedra solta e altura entre 3 metros e 3.5.
Há poucas fotos no ACTD com marcos mas na seguinte temos precisamente o que será o marco D que fica na portela do rio Sabié. Aí esse rio atravessa os Montes Libombos vindo de oeste e segue para leste pois vai desaguar no Incomati já em Moçambique (ver na carta em baixo). A comissão portuguesa estabeleceu os campos 5 e 6 nas margens do rio Sabié a 13 e 18 de Junho e erigiu o marco D a 17 de Junho de 1890.
FOTO 1
actd album 10 web_n3251: Marco da portela do Sábie |
Podemos ver aqui a imagem actual de google desse local. Note-se que pouco depois do Sabié entrar em Moçambique dá agora lugar à albufeira da sua barragem hidro-eléctrica da Corumana (ver aqui no google maps) e que aqui é dito ter sido construída depois da independência. Nestes artigos e para a procura do caminho da comissão no google maps as grandes albufeiras servem de referência dado que a zona é como em 1890 muito igual e desabitada (tanto que do lado da África do Sul está o Kruger National Park).
Continuamos na posição da fronteira junto ao rio Sabié que devia passar na parte mais baixa ao fundo da FOTO 1. Nessa foto via-se que a margem oposta devia primeiro elevar-se ligeiramente e depois tornava-se alcantilada o que não se vê na foto seguinte:
FOTO 2
Passagem do Rio Sabié pelas carretas (ACTD album 10) |
Com um pouco de observação e lógica penso que se pode orientar as duas fotos. Primeiro notar que as comissões e por isso as carretas que suportavam a sua logística seguiram de sul para norte e na FOTO 2 podemos ver o sentido da sua deslocação.
Na imagem do google vê-se que o rio Sabié atravessa os Libombos com direcção aproximada oeste - leste (para simplificar assumo aqui que sim) por isso a margem de lá da FOTO 2 devia ser a do lado norte pelo que seria a margem esquerda (o rio correria para a direita da FOTO 2). Começo por aí e junto as ideias na montagem seguinte:
Assim a tenda da FOTO 1 (veremos que era portuguesa quando falarmos disso) estaria do lado português e as duas fotos teriam sido tiradas por FA desse lado o que parece lógico ter acontecido.
Com o google earth vejo que do lado sul da fronteira a partir do rio numa distância até cerca de 1 000 metros a elevação máxima é bastante menor que a do lado norte. Tal é compatível com na FOTO 1 se ver no que suponho ser a margem sul a parte alcantilada e (relativamente) mais elevada do que a margem donde a foto foi tirada que seria a norte e confirmaria o meu "achismo":
Podemos ver a posição dos primeiros quatro marcos, do A junto ao rio Incomáti ao D junto ao rio Sábie, colocados nas portelas dos dois cursos de água nos Limombos, na nova carta de Jeppe produzida em 1892 e por isso com os dados recolhidos pela comissão sul-africana de 1890 como veremos depois:
Na imagem do google vê-se que o rio Sabié atravessa os Libombos com direcção aproximada oeste - leste (para simplificar assumo aqui que sim) por isso a margem de lá da FOTO 2 devia ser a do lado norte pelo que seria a margem esquerda (o rio correria para a direita da FOTO 2). Começo por aí e junto as ideias na montagem seguinte:
MONTAGEM das FOTOS 1 e 2 na portela do Sabié ou perto
Azul: Rio Sabié Vermelho: carretas indo de sul para norte Branco: linha da fronteira na direcção sul - norte passando pelo Marco D Castanho: tenda portuguesa em forma de tipi |
Com o google earth vejo que do lado sul da fronteira a partir do rio numa distância até cerca de 1 000 metros a elevação máxima é bastante menor que a do lado norte. Tal é compatível com na FOTO 1 se ver no que suponho ser a margem sul a parte alcantilada e (relativamente) mais elevada do que a margem donde a foto foi tirada que seria a norte e confirmaria o meu "achismo":
FOTO 3 (Google Earth para ver elevações)
Vê-se assim que a elevação máxima na margem sul é uns 100 metros superior à da margem norte, diferença relativa que correspondia à aparente na FOTO 1 na MONTAGEM. Vê-se também a linha da fronteira não está na elevação máxima o que é um tanto surpreendente mas analisaremos depois porquê. Note-se que o GE dá elevações e não directamente as altitudes, que seriam as elevações relativamente ao nivel do mar, mas para comparar relativamente os diversos pontos as suas elevações são suficientes.Roxo: elevações máximas nas faixas de cerca de 1.5 km para norte e sul da fronteira Branco: linha da fronteira Azul: rio Sabié na fronteira (25°11'06.6"S 32°01'53.4"E) |
Podemos ver a posição dos primeiros quatro marcos, do A junto ao rio Incomáti ao D junto ao rio Sábie, colocados nas portelas dos dois cursos de água nos Limombos, na nova carta de Jeppe produzida em 1892 e por isso com os dados recolhidos pela comissão sul-africana de 1890 como veremos depois:
NOVA CARTA DE 1892 COM A FRONTEIRA MARCADA
Verde: rio Sabié Azul: rio Incomáti Castanho: linha férrea de LM a Pretória. ainda em funcionamento parcial Amarelo: Montes Libombos e fronteira, aprox.na direcção Norte - Sul |
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