Defesa de LM em 1894 - terras da Coroa e revoltosos (11/14)

Sigo aqui o livro de Eduardo Noronha (EN) "A rebelião dos indigenas em Lourenço Marques" para falar um pouco sobre o domínio português no sul de Moçambique em 1894 e os régulos revoltosos.
Sobre o primeiro ponto e colocando-se Lourenço Marques (LM), actual Maputo e as "terras da Coroa" no centro da descrição, diz EN na sua linguagem franca aqui um pouco simplificada e adaptada:
"As terras ao norte do rio Incomati nem nos pagam tributo nem nos prestaram vassalagem, sendo umas completamente independentes, e outras, a maior parte, de que o regulo Gungunhana é suserano. Ao sul ficam as terras de Maputo que apesar de nos prestarem vassalagem in nomine e d'ali termos dois residentes, um professor e duas professoras, nunca nos pagaram imposto, nem em boa verdade nos obedecem".
Sobre as "terras da Coroa" rodeando LM (de que falámos antes aqui e mais recentemente aqui a propósito de Anguanee seus habitantes escreve EN:
"As terras da Coroa foram divididas em quatro grandes circumscripções, a central, a da Magaia, a das terras do Incomati e a do Norte. Os régulos principaes são, pelo número de pessoas que pódem pôr em armas: 
1. Magaia, 6 000 homens. 
2. Zixaxa, 2 000 homens. 
3. Moamba, 3 000 homens. 
4. Matolla, 2 000 homens. 
5. Xerinda, 1 500 homens.
6. Manhiça do norte e sul, 1 500 homens. 
7. Terras do Incomati, régulos Hanhane, Mabila, Mafabaze, 1 000 homens,
8. Terras do Norte, régulos Mubango, Maguche, Xacanhana, Morremilla, Manacalala, Xibango, Xicuco, Matuto e Mataninga, 3 000 homens. 
9. Mahotas, Catermbe, Maxaquene e Polana, 1 500 homens, 
O total dos guerreiros das terras da Coroa deve dar uns vinte mil homens, quando todos reunidos. 
O total da população avassallada deve-se computar, com velhos, mulheres e creanças em 60 000 almas, tendo leis communs, mas obedecendo a differentes regulos, quasi sempre em desavença por várias causas".


H. A. Junod um missionário suíço publicou para o final do século XIX (19), mais ou menos ao tempo dos escritos de EN, um mapa do sul de Moçambique para o povo ronga. No entanto não sei se a sub-divisão mostrada nesse mapa corresponde aos diferentes dialetos da língua ronga ou aos seus regulados, é possível que haja até coincidência entre esses dois elementos. 
De qualquer modo podemos ver que apesar de pequenas variantes nos nomes, no mapa estão os regulados principais listados por EN para as terras da Coroa com excepção de Magaia, que seria o maior pelo menos em termos de guerreiros autorizados. Mas por excusão e partes é possível que Magaia corresponda a Nondouana, que é um dialecto do Ronga.
Nesta carta não aparece Anguane, onde começaram os problemas precisamente com o regulado de Magaia mas devia estar um pouco acima = norte de fronteira de Mabota, na direcção de Rikatla, uma das estações da missão suíça na zona.
Carmesim: Lourenço Marques (LM), actual Maputo, cidade
que foi cercada por terra durante quase dois meses e meio

 Laranja: 
Maputo, regulado fora das terras da Coroa mas vassalo de Portugal
e que finalmente permaneceu neutro

Roxo: Matola, nas terras da Coroa e que permaneceu neutro
Outros regulados nas terras da Coroa: aderiram à revolta.
Penso que Nondouana 
corresponderá a Magaia
Mancha negra: limite dos Ronga
Mancha azul clara: rio Incomáti no curso inferior 
Note-se que a curva a norte do Incomáti em princípio era a fronteira das Terras da Coroa (administradas por Portugal) com o reino vassalo de Gungunhana, situação reconhecida no tratado de 1891 entre as duas partes.
Penso que reforça a ideia que Nondouana ("vermelho" na carta de cima) seria a equivalente a Magaia o facto de EN num dos seus livros dessa época chamar ao rio Incomáti (que passa em Marakwen = Marracuene) o rio da Magaia.

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