Concluimos a série sobre o cais da estâncias a partir duma publicidade inseriida num artigo de Robert C. de Jong sobre a construção da linha férrrea de Pretória para Lourenço Marques (LM), actual Maputo.
IMAGEM 1
Wilcken & Ackermann (W & A) em 1895, ano da inauguração da linha férrea |
A actividade da firma W&A era de transitário, desembarcador e embarcador de mercadorias de e para os navios que chegavam ao porto de LM e por conta dos clientes que não podiam tratar disso por eles próprios, caso das firmas sul-africanas. Temos de pensar que o transporte internacional de mercadorias não era o mesmo que pôr uma carta no correio, era composto de partes separadas (o transporte por caminho de ferro, o transporte por mar, a colocação nos navios, etc) e era preciso alguém ser contratado pelos dois interessados finais (quem comprava e quem vendia as mercadorias) para efectuar a ligação entre essas partes de forma eficaz (ver livro de David Glass).
O armazenamento e manuseamento destas grandes cargas nas instalações portuárias de LM foi rápidamente deslocado para a zona que ficava abaixo da barreira da Malanga pois junto à cidade não havia espaço disponível e por isso surgiu aí o cais das estâncias utilisado por grandes firmas, normalmente estrangeiras. Inicialmente a carga principal aí operada era madeira, material que vemos em primeiro plano no anúncio de 1895 e que mesmo nas fotos de Santos Rufino de 1929 aparecia ainda em destaque.
Tendo em vista cativar potenciais clientes, a W&A no anúncio mostrava instalações amplas de depósito para as mercadorias em trânsito e os navios bem visíveis dando a subentender que tinha um cais privado ou que haveria um cais perto das suas instalações, Por outro lado nessa altura, ao início da exploração da linha até Pretória, a W&A não devia ter armazéns cobertos pois na imagem aparece só um prédio à esquerda e que provávelmente seria de escritório.
Todavia na foto dos Lazarus de entre 1899 e 1908 e que já conhecemos aparece já um grande armazém com o nome da firma escrito na fachada lateral virada a leste e também na principal virada a sul, para o estuário, à esquerda. Vimos no artigo anterior já vários aspectos desta instalação mas voltamos de novo a eles:
FOTO 1
Instalações da Wilcken & Ackermann (W & A), era das primeiras a nascente no cais das estâncias |
Via-se ainda na FOTO 1 que nessa altura a W & A tinha uma ponte cais que parecia privativa. Aí acostariam barcaças que ligavam aos navios que ancoravam para o meio do estuário, mais para a esquerda, pelo que a proximidade dos veleiros na publicidade podia ser um tanto enganadora quando à facilidade das transferências de mercadorias de terra para o mar e vice-versa.
Estas instalações da W&A que terão nascido cerca de 1895 existiam ainda em 1937, quando Mary Light Meader fez as suas prezadas fotos aéreas de LM, as quais vimos já mais genéricamente num dos artigos anteriores:
FOTOS 2 e 3
A zona do parque de vagões dos CFM (vê-la aqui noutras épocas) acima referida aparece, vista de norte para sul, na foto seguinte de 1926 reproduzida do Boletim Geral das Colónias:
FOTO 4
Linhas de depósito de carvão (marcas castanha escuras nas FOTOS 2 e 3) |
Como indica a legenda, ao fundo do parque de vagões, junto à ponte-cais e ao estuário via-se à direita = oeste a carvoeira Mac Miller. O cais das estâncias era desse lado mas recuado para o lado de terra, numa reentrância do estuário que não aparecia deste ângulo / campo de visão.
Podia ainda acrescentar-se à legenda da FOTO 4 que a carvoeira Provay, com duas torres de elevação, estava à esquerda e mais à esquerda aparecia o último armazém do porto nessa altura, em 1926.
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