Navio a vapor "Neves Ferreira" |
João das Neves Ferreira que deu o nome ao navio foi oficial da Marinha de Guerra Portuguesa (MGP) e Governador Geral de Moçambique em 1889-90 e teve acção destacada na resistência ao ultimato inglês de 1890 como se pode ler aqui.
O autor luso-moçambicano Alfredo Pereira de Lima no livro "Pedras" descreve assim as características do «Neves Ferreira»: "vapor de ferro, de 340 toneladas, 2 hélices e demandando 2,5 metros, portanto dificil de navegar em águas pouco fundas". Como se pode ver as massas parecem diferentes e não se percebe porquê (ver aqui que a "tonelagem" devia ser medida em volume e só o "deslocamento" é medido em unidade de massa, por isso ...) .
O Neves Ferreira (NF) não está na lista dos navios de guerra portugueses na wikipedia mas a explicação será, como se vê no arquivo da MGP, tratar-se dum "Navio de Comércio - Passageiros e Carga". No livro "A Rebelião dos Indígenas" de Eduardo Noronha de 1894 é dito que o NF tinha sido alugado à Casa Cohen e armado nessa altura, na segunda metade de 1894 mas como veremos também parece que o mesmo Eduardo Noronha se contradiz depois.
Seguimos já o livro "A Rebelião dos Indígenas" nos
artigos sobre o cerco e defesa da
cidade de LM e são aí mencionados vários eventos
de relevo em que o "Neves Ferreira" foi utilizado e que apresento em
sequência cronológica:
evento 1. fim de agosto de 1894, na reacção portuguesa ao início da rebelião que se manifestou pelo corte do tráfego fluvial e ataque a viajantes e comerciantes na foz do Incomáti pelo chefe da Magaia. O NV foi para a barra do Incomáti mas o casco era demasiado fundo para subir o rio nessa ocasião pelo que o seu comandante passou para a lancha Xefina. Essa acção militar foi inconsequente e o rio ficou aberto para os rebeldes receberem armas contrabandeadas por comerciantes asiáticos.
evento 2. entre 25 de setembro e 4 de outubro de 1894, na tentativa de transporte dos guerreiros da tribo do Maputo, que supostamente iriam ajudar os portugueses, da
Catembe para a cidade rebocando lanchas através do estuário. Como esses "aliados" se recusaram a combater os rebeldes, os
portugueses tentaram tirar satisfacções com o seu chefe em Macassane nas margens do
rio Maputo mas o vapor Neves Ferreira tinha entretanto ficado avariado e não permitiu que essa
viagem se fizesse rápidamente.
evento 3. cerca de 25 de outubro de 1894, na reação ao ataque mortal a dois pescadores ocidentais por rebeldes na Xefina: "Chegados (os sobreviventes desse ataque) à cidade, mandou o governador Canto e Castro fretar o vapor Neves Ferreira, da casa Cohen, deu o commando ao tenente Furtado, mandou-o tripular pelos melhores atiradores da corveta (Raínha de Portugal), armado com um canhão revolver, e no dia seguinte, ás 10 horas, partiu para a Xefina. Chegados ali,... desembarcou a marinhagem, que trouxe os cadáveres para terra".
Destes três eventos concluir-se-ia que o NF estava ao serviço do Estado no fim de agosto de 1884 mas que só tinha sido armado c. de 25 de outubro, já para o final do cerco à cidade. Mas vê-se a incongruência de no "evento 1." o NF ser já comandado pelo militar tenente Furtado (o que não era normal se o NF fosse ainda um navio civil mas alugado para um serviço ainda civil de reboque de lanchas) enquanto que a informação do "evento 3." é que esse comandante só foi nomeado cerca de 2 meses depois.
Podemos mostrar uma sua foto de artigo do prolífico Eduardo Noronha na revista Serões n. 23 e sobre a defesa da cidade:
Eduardo Noronha diz que “a esquadrilha de Lourenço Marques, no principio da campanha, era formada pelo vapor Neves Ferreira, antigo, decrépito e arruinado transporte de emigrantes negros, commandado pelo segundo-tenente Raul Furtado”. Esse mau estado do navio coincidia com o descrito por António Enes e é de estranhar para um navio de 1882, por isso bastante novo em 1894, mas pode ser explicado pelo referido uso na derradeira fase da sua existência sul-africana. Continua-se no próximo artigo sobre a utilização do vapor Neves Ferreira na campanha militar portuguesa do sul de Moçambique, primeiro contra os rebeldes rongas da Magaia e Zixaxa após estes terem levantado o cerco à cidade e depois contra Gungunhana / Ngungunyane no coração de Gaza.
No próximo artigo falaremos mais do Neves Ferreira em Moçambique.
Destes três eventos concluir-se-ia que o NF estava ao serviço do Estado no fim de agosto de 1884 mas que só tinha sido armado c. de 25 de outubro, já para o final do cerco à cidade. Mas vê-se a incongruência de no "evento 1." o NF ser já comandado pelo militar tenente Furtado (o que não era normal se o NF fosse ainda um navio civil mas alugado para um serviço ainda civil de reboque de lanchas) enquanto que a informação do "evento 3." é que esse comandante só foi nomeado cerca de 2 meses depois.
Podemos mostrar uma sua foto de artigo do prolífico Eduardo Noronha na revista Serões n. 23 e sobre a defesa da cidade:
Tenente Furtado presumo que pouco depois
da sua comissão de serviço de 1894 em LM
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Eduardo Noronha diz que “a esquadrilha de Lourenço Marques, no principio da campanha, era formada pelo vapor Neves Ferreira, antigo, decrépito e arruinado transporte de emigrantes negros, commandado pelo segundo-tenente Raul Furtado”. Esse mau estado do navio coincidia com o descrito por António Enes e é de estranhar para um navio de 1882, por isso bastante novo em 1894, mas pode ser explicado pelo referido uso na derradeira fase da sua existência sul-africana. Continua-se no próximo artigo sobre a utilização do vapor Neves Ferreira na campanha militar portuguesa do sul de Moçambique, primeiro contra os rebeldes rongas da Magaia e Zixaxa após estes terem levantado o cerco à cidade e depois contra Gungunhana / Ngungunyane no coração de Gaza.
No próximo artigo falaremos mais do Neves Ferreira em Moçambique.
PS: No site almada virtual é dito que o vapor Neves Ferreira
foi construido em Portugal pelo estaleiro Parry & Son (antes Sampaio). Como
não me parece que tenha havido dois navios com o mesmo nome Neves Ferreira
presumo que isto seja engano, isto é confio mais na informação dele ter sido
construido em Durban mas ...
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