Prédio Pott - estudo da U. Pretória, arquitectura (10/12)

Há um estudo da Universidade de Pretória (UP SA) sobre o prédio Pott / Avenida Buildings com desenhos e modelos que tentei esmiuçar inicialmente para tentar esclarecer um pouco mais a questão da localização do salão = estúdio da firma fotográfica dos Lazarus que suponho tivesse estado no "barracão" na traseira da secção norte. Mas como veremos parte dos desenhos e modelo desse estudo parecem ter sido feitos em função do que agora resta pelo que não servem para se esclarecer o que terá existido inicialmente ou pelo menos existia antes do incêndio e colapso parcial do interior da construção. Para mais o desenho que poderia mostrar o passado parece-me que não está correcto como veremos em baixo (DESENHO 2) e assim sobre o salão = estúdio / barracão não se adianta nada mas consegue-se apreender um pouco melhor como foi o prédio.
O primeiro desenho da UP SA mostra o estado inicial do prédio dado que se vê as duas torres gémeas ainda completas, o que antes do incêndio já não acontecia e piorou depois.


DESENHO 1 (fachada virada a leste vista para oeste)
Fachada do prédio Pott mais longa virada para leste, do lado da
actual Av. Samora antigamente Aguiar e D. Luis

Sobre o(s) estilo(s) arquitectónico(s) seguido(s) no prédio mostramos ao fundo a parte relevante do estudo da UP SA.
Segue-se um modelo tridimensional do prédio feito pela UP SA visto aproximadamente na mesma direcção do desenho de cima (aqui visto de ponto virtual mais elevado). Marco nele elementos relevantes, alguns em linha com o que fiz nos artigos anteriores:

MODELO virado a leste do que se mantém
Rosa: actual Av. Samora antigamente Aguiar e D. Luis
Preto e "preto e branco": respectivamente níveis do pavimento e do tecto do 3o piso estando as torres gémeas acima da sua placa de tecto
Amarelo e laranja: frontões triangulares na fachada no topo do segundo piso
Traços castanho: onde foi a traseira do terceiro piso da secção norte
e onde estava o "barracão roxo" nas traseiras
Púrpura: corpo saliente nas traseiras com dois pisos
 (vê-se assim a sua cobertura ao nível do pavimento do 3o piso)
Verde normal: terraço da construção no 3o piso (sobre uma grande sala 
à profundidade do prédio e o corpo de escadas)

Passemos agora a um desenho onde a UP SA me parece tentou estimar o que existia antes do incêndio. Como mostra o terceiro piso e as torres gémeas que só existem na secção norte em princípio este "corte" ao prédio Pott teria sido feito por aí.


DESENHO 2 (CORTE do prédio na direcção oeste - leste, visto para norte)
Rosa:  direcção da actual Av. Samora, antigas Aguiar e D. Luis
Verde claro: direcção da actual Av. 25 de Setembro, antigas da República e D. Carlos
Preto e "preto e branco": respectivamente níveis do pavimento e do tecto do 3o piso estando as torres gémeas acima da sua placa de tecto
Roxo: barracão separado na traseira do 3o piso da secção norte do prédio
Carmesim: espaço (corredor) entre o barracão na traseira 
e o corpo principal do prédio onde estão as torres gémeas
Verde médio: parte recuada do terraço da grande sala e do corpo de escada
na zona mais a norte desta secção no 3o piso
Verde escuro: telhado a descer para o interior do prédio, 
suponho que seja a cobertura dos compartimentos entre as duas torres gémeas

Como estimei aqui na imagem real e desenhei aqui o espaço coberto entre as torres gémeas teria uns 8.5 m no lado mais longo frente à rua e uns 3.5 a 4 metros de profindidade para o interior do 3o piso. Se o CORTE for mesmo daí então significa que o telhado desse espaço descia para o interior do prédio e seria essa a razão para não se vê-lo da frente do prédio, mesmo do alto, por exemplo aqui.
Parece-me também, olhando para as diversas fotos antigas que o mostram bem que o telhado do "barracão roxo" está mal desenhado. Vimos por exemplo aqui que a sua cumeeira era central, não estava deslocada para o lado das torres gémeas = leste  como aparece nesse CORTE.
Podemos ver mais dessa secção do prédio com duas fotos dos anos 40 / 50 com vista do prédio mais ou menos para norte tal como a que se aplicou no DESENHO 2 do CORTE. As cores nas legendas correspondem às das imagens precedentes neste artigo:

FOTOS DOS ANOS 40/50 vistas para norte
Rosa:  actual Av. Samora antigamente Aguiar e D. Luis
Verde claro: direcção da actual Av. 25 de Setembro, antiga da República e D. Carlos

Preto e "preto e branco": respectivamente níveis do pavimento e do tecto do 3o piso estando as torres gémeas acima da sua placa de tecto
Roxo: face sul do barracão na traseira do 3o piso da secção norte do prédio
Azul escuro: vertente do telhado desse barracão virada para nascente = leste 
Carmesim:  espaço (corresdor) entre o barracão na traseira 
e o corpo principal do prédio onde estão as torres gémeas
Verde médio: parte recuada do terraço da construção mais a norte do 3o piso
Púrpura: corpo saliente na traseira do prédio com dois pisos 
(chega ao nível da placa do terceiro piso)
Verde escuro: aponta para o telhado dos compartimentos do prédio
 entre as duas torres gémeas
Castanho claro: telhado do segundo piso na secção intermédia 
para sul da das torres gémeas

A foto seguinte tirada da Baixa para a alta da cidade é anos 70 pois aparece a casa de ferro já no local actual, aí a ser vista pela sua fachada principal virada para sul. Em primeiro plano estava o prédio Pott e via-se assim o barracão na traseira do seu terraço do lado norte:
Barracão cuja face à esquerda = lado poente tinha janelas abertas,
o que presumo que não acontecia inicialmente (ver fotos)

estudo da Universidade de Pretória sobre o Prédio Pott / Avenida Buildings tem informação muito interessante sobre o seu desenho, do qual pudemos apreciar a fachada mais longa no DESENHO 1. Segundo o que dissemos anteriormente o prédio foi construído pelo menos em duas fases e resumindo muito o que diz estudo o arquitecto era de Durban e o seu desenho misturou estilos Holandês e Inglês originais e o chamado "Transvaal Republican" já hibrido desses dois e também com influências alemãs (ver detalhe no PS em baixo).
No próximo artigo olharemos um pouco mais para a estrutura da construção.

PS: Apesar de ser listado, em outubro de 2021 o edifício tinha sido substancialemente demolido. A comunicação é que no final o seria parcialmente mas pelo menos a parte mais alta com as torres deixou de existir e por isso nem as fachadas poderão ser mantidas na totalidade.

PS: Formato / desenho (estudo da Universidade de Pretória)
"The eclectic style found within the building originates largely as a result of a varied range of influences within the building’s history. Following the appointment of Dutch architect Sytse W. Wierda as the head of the Transvaal department of public works by President Kruger in 1877 (Corten, 2009; 16), a number of buildings commissioned through the department show distinct stylistic references to Dutch architecture of the time. The Ou Raadsaal (1889-1902) and Palace of Justice (1897), were largely designed by Dutch trained architects, a number of whom had strong working ties to Transvaal Republic. In contrast to the popular Victorian style of architecture, seen used during this time period internationally, the influence of the Dutch as opposed to the colonial British architects, led to a more eclectic style of architecture being developed. The “Transvaal Republican” style (Corten, 2009; 16) is essentially a derivative of the Wilhelmine style of architecture which has links to both 19th Century German and Dutch architecture. As former consul (mas note-se que quando fez o prédio era ainda consul) to the republic of Transvaal (Perez, 2011,5), Gerard Pott would have undoubtedly been familiar with governmental architecture of the time which may have been influential on the subsequent design of the Predio Potts.
In addition, the architectural practice responsible for the design of the building, based at the time in Durban, South Africa, would also have had a large influence on the eclectic style of the building. FJ Ing of the firm ING and WELLS (later ING and ANDERSON), a British trained architect, had been working in Johannesburg during the 1880’s, until such time as he and then partner EP Wells, were awarded the contract to build the Durban Club in 1898 (ref here). When examining buildings designed and built in a similar time period within the Durban context such as the Town Hall ( see illus **) one can see clear stylistic references such as the incorporation of Corinthian capitols, plasterbanding and decorative , almost byzantine style towers.
With the outbreak of the Anglo-Boer war in 1899, work and building materials within South Africa became a scarcity. In this time, the firm were commissioned by Pott, to design the primarily commercial building in the city of Lourenço Marques.
Steel shortages in South Africa due to the war, as well as the proximity of the Maputo Port, facilitated the large amount of imported (quer dizer levou a que o aço / materiais tivessem sido importados da Europa e não da África do Sul) building materials within the building.
Largely built as a steel framed warehouse typology, the building incorporated large ground floor openings for retail purposes, and smaller residential units (added at a later stage, pode não ter sido bem assim) on the level above.
Predominantly two storeys in height, the northern portion on Avenue Samora Machel is the only three storey portion on the site with the tall tower structures raised above this level. Roofs would have originally been constructed with corrugated iron roof sheeting on double pitched, timber roof truss construction. Cast iron decorative fretwork and balustrading was used, some of which can still be seen in portions of the building. Internal rooms on ground floor are relatively large due to column structure, whilst on the upper levels smaller roughly square partitioned rooms, suitable to the residential function can be found. 
The building in both style and materiality can be clearly identified as completely foreign to its surrounding context (Hart, 2011). It is this unique architectural quality, as well as its cultural connection to political powers based in Lourenco Marques at the time, that give this building such an important historical identity with the Baixa context."

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