Prédio Pott - mais sobre o barracão na secção norte (9/12)

Nos artigos anteriores desta série falámos do barracão na traseira do terceiro piso da secção norte do prédio Pott para o qual coloquei a hipótese de ter servido para o salão = estúdio dos fotógrafos Lazarus entre 1906 e 1908. 
A FOTO 1 mostra as ruínas da secção intermédia do prédio a chegar à secção norte onde estão as torres gémeas e tento indicar onde esteve esse barracão, antes do desabamento dessa parte do prédio. Mas note-se que no passado não seria possível ter essa vista dado que entre a posição do obervador e a face sul do barracão havia o tecto do compartimento onde ele estaria, o telhado, paredes para o fundo, etc. 
Baseio a minha estimativa no que vê nas três inserções que coloco no canto superior esquerdo mostrando essa parte do prédio nos anos 30 e 50 do século passado:

FOTO 1 de Silasse Solomone no FB Cankima
e fotos mais antigas em medalhão (clique para aumentar)
Castanho claro: marca do telhado do compartimento no 2o piso 
da secção intermédia e que ia até à secção norte
Preto e "preto e branco": respectivamente níveis do pavimento e do tecto
 do 3o piso do prédio na secção norte, aqui vistos do lado sul 
Castanho escuro: estimativa da posição da face a sul do barracão na traseira 
do 3o piso da secção norte (se não houvesse mais obstáculos à visão)
Azul escuro: vertente do telhado do barracão virada para nascente = leste 
Azul normal: vertente do telhado do barracão virada para poente = oeste 
Carmesim: espaço entre o barracão na traseira (que desabou entretanto)
e o corpo principal onde estão as torres gémeas

Desde a construção o telhado do prédio Pott do lado poente (esquerda na FOTO 1) prolongava-se para o lado nascente passando para lá da cumeeira pelo menos um metro criando assim uma pala que se via por exemplo 
aqui dentro do círculo azul. Nas FOTO 1 pode-se fazer ideia de como foi essa pala, que estava visível na inserção antiga no canto superior esquerdo e que para os anos 40/50 tinha deixado de existir como se vê nas outras inserções.
Podemos também ver essa parte do prédio, entre as secções intermédia e norte, mas do lado exterior que está virado para leste = Av. Samora, antiga Aguiar e D. Luis na foto seguinte também recente. Tento aí marcar também a face sul do barracão mas de novo sublinhando que no passado essa vista seria impossível porque havia elementos da construção na linha de vista a partir da rua a impedirem-na como sejam janelas na fachada principal, divisórias e tectos dos compartimentos no segundo piso, o telhado por cima deste, etc.. 

FOTO 2 do FB Camkima 
e fotos mais antigas em medalhão (clique para aumentar)
Preto e "preto e branco": respectivamente níveis do pavimento e do tecto do 3o piso estando as torres gémeas acima deste último
Amarelo e verde normal: janelas na torre mais a sul e que se viam também na FOTO 1
Castanho escuro: estimativa da posição da face a sul do barracão 
na traseira do 3o piso (se não houvesse mais obstáculos à visão)
Verde escuro: ver correspondência no desenho inserido na FOTO 4
Roxo e preto: onde estaria a parte mais a sul da pala do telhado 
(se não houvesse mais obstáculos à visão)

Da posição donde foi tirada a FOTO 2 penso que não se veria a pala e por isso marco a sua posição estimada, tal como o resto certamente com imprecisão, pois apareceria por trás da parte superior da fachada do segundo piso.
Dando um salto de quase 90 anos para o passado, podemos nas duas fotos seguintes olhar para o prédio mais ou menos na mesma direcção e posição que na FOTO 2 e confirmar que não seria fácil dessa posição ver o barracão que poderia por isso passar despercebido a muitos transeuntes nessa zona de Lourenço Marques, actual Maputo. Estas fotos são das melhores disponiveis desse ângulo e parecem ser duas versões ligeiramente diferentes. São de cerca de 1929 pelo que poderia já ter havido algumas mudanças no barracão inicial, caso da parte do telhado que era em vidro ter sido substituída por material opaco, mas ele teria mantido o formato geral.
Veremos então a seguir fotos tiradas da rua para o lado do prédio e captando as suas secções intermédias e norte, aparecendo os obstáculos acima enunciados que dificultam a visão da traseira do 3o piso da sua secção norte, aquela que com vista livre deveria poder ser observada aproximadamente como estimo na FOTO 2 (e de ângulo diferente na FOTO 1):


FOTOS 3 (fotos de c. 1929) para  N - NW
Roxo: limite em linha recta na traseira e no nível superior 
para o centro - norte do prédio Pott
Rosa: av. Aguiar, depois D. Luis, actual Samora

Vê-se então ao alto e para a traseira do prédio algo que a imagem seguinte do filme de 1929 (bem como esta foto do artigo 12) esclarece porque mostra ser a parte superior da pala no telhado do barracão dado aparecer desse ângulo a sua extremidade a sul,


FOTO 4 (Cinemateca Portuguesa)
Roxo: limite superior da pala
Preto: limite a sul da pala
Castanho claro: cumeeira do tellhado da secção intermédia.do prédio Pott
Rosa: av. Aguiar, depois D. Luis, actual Samora

Parece-me que mesmo na FOTO 4, embora se visse a pala certamente quase a toda a sua profundidade, não se via o telhado do barracão pois na linha de vista ele aparecia tapado pela cumeeira do tellhado da secção intermédia. Mas se se visse o telhado do barracão seria só a sua parte superior junto à cumeeira e mesmo em 1906 seria difícil discernir-se se uma parte do telhado era em vidro ou não e certamente não se veria da rua o alpendre em vidro referido pelo jornalista do LM Guardian em 1906 (e de que falámos no artigo 8) dado que ele estaria ao nível da parte inferior do telhado. 
Ter-se-ia o jornalista equivocado na descrição do alpendre como sendo visível da rua? É que mesmo recuando-se da posição onde esteve o fotográfo para tirar as FOTOS 3 e 4 (isto é indo para mais a direita) não me parece que daria para se ver muito do telhado ou algo do alpendre. 
Complementando o tema e como nem tudo desabou nas traseiras do prédio especialmente na parte mais chegada a norte, do que por lá existe temos a foto seguinte tirada para sul / sudeste parte À direita aparece um corpo saliente com paredes em betão e para nos localizarmos podemos fazer a correspondência desta foto com o que está num DESENHO 1 da fachada principal virada a leste do prédio.

FOTO 5 com prédio Santos Gil ao fundo para S - SE (e desenho)
Preto: nível do pavimento do 3o piso (ou do tecto do 2o piso) na traseira
Púrpura: cobertura do corpo saliente na traseira com dois pisos 
(chega do nível do solo ao da placa do 3o piso)
Traços castanho: chapas de zinco na traseira do 3o piso da secção norte
e onde esteve o barracão supostamente salão = estúdio dos Lazarus
Amarelo e laranja: frontões triangulares na fachada no topo do 2o piso
Vermelho: um dos torreões dessa fachada do prédio
Verde escuro (no desenho): corresponde ao frontão 
do canto superior esquerdo da FOTO 2

Noutras imagens vê-se que o lado norte (o mais próximo na FOTO 5) do corpo saliente marcado a "púrpura" ia mais ou menos até à direcção da linha intermédia entre as torres gémeas. Como na foto de cima nesse lugar estão chapas de zinco (que seriam uma solução ad hoc pós incêndio a fazer de telhado para o segundo piso) isso significa que pelo menos parte do pavimento da traseira do 3o piso do prédio desabou. Foi aí que esteve o canto a sudoeste do barracão que presumo tenha sido o do salão = estúdio dos Lazarus, quer dizer as letras finais do nome LAZARUS pintada nesse telhado, digamos RUS, estiveram uns 5 metros acima donde estão agora essas chapas.
Tentando agora ver o que se passava na vertical do barracão no interior do prédio, ele estava dois pisos acima do pátio da galeria comercial. Vê-se esse pátio aqui mas como está agora completamente descoberto isso quererá dizer que as chapas de zinco que se viam na FOTO 5 foram retiradas depois dela ter sido tirada. Nessa foto do pátio vê-se para o fundo o corpo "púrpura" da FOTO 5 nesse caso a partir da frente do prédio, confirmando-se que esse corpo tem dois pisos e a cobertura plana em betão (o pavimento do barracão ficava a esse nivel mas imediatamente para cá dele, onde agora está descoberto).
Dessa mesma zona, no rés do chão da secção norte do prédio Pott, é a foto seguinte à esquerda e junto-lhe à direita parte da foto já referida. Mostra-se assim nestas FOTOS 6 o lado esquerdo = sul do pátio da galeria da secção norte do prédio Pott, sobre a qual e para o fundo esteve o barracão.

FOTOS 6 de Nuno do Rosário
Branco: parte esquerda = sul e para o fundo do pátio da galeria
Outras marcas: correspondência entre as fotos / confirmação do local

A foto da esquerda mostra um tecto /  pavimento dos pisos encaixado nos perfis em H das vigas da estrutura horizontal. Falaremos no artigo 11 mais da estrutura em aço do prédio e que se tornou bem visível com a sua derrocada parcial.. 
O material desse tecto parecia ser de madeira mas podia não ser o mesmo todos os casos. O entulho no chão indica que muito do que desabou, presumo que dos pavimentos e paredes dos pisos superiores tinha, entre 1900 e 1906, sido construído em tijolo.
No próximo artigo veremos desenhos e um modelo do prédio.

PS: Apesar de ser listado, em outubro de 2021 o edifício foi substancialmente demolido. A comunicação é que o seria parcialmente mas pelo menos a parte mais alta com as torres deixou de existir e por isso nem as fachadas poderão ser mantidas na totalidade.

Comentários