Prédio Pott - telhado e alpendre do estúdio dos Lazarus (8/12)

Vimos no artigo anterior desta série uma foto que mostrava o 3o piso da secção norte do prédio Pott e onde se notava bem o barracão onde suponho tenha estado instalado o estúdio dos Lazarus inaugurado em 1906. Via-se bem aí que esse barracão tinha no telhado, para leste da cumeeira, uma pala com talvez 1.5 metros largura e era em material opaco pois projectava sombra sobre a vertente do telhado a que se sobrepunha. 
Essa foto foi tirada para W . NW e a fachada para a actual Av. Samora aparecia vista de frente e cerca de 1934, altura de que será também a foto seguinte tirada para sul - sudoeste e que mostra então para a direita da fachada principal a fachada lateral a norte do prédio Pott e deixa-nos ver um pouco da traseira do terceiro piso. Marco nessa zona os elementos mais relevantes para o que vimos seguindo nestes artigos (foto da DRISA e já vista aqui):

FOTO 1 
Preto e "preto e branco": respectivamente níveis do pavimento e do tecto do 3o piso
da secção norte do prédio Pott alugado parcialmente pelos Lazarus
Castanho: topo da face virada a norte do barracão na traseira do 3o piso
Carmesim: aponta para o espaço (corredor) entre o barracão na traseira
e o corpo principal do prédio, o das torres gémeas
Rosa: antiga Av. Aguiar, depois D. Luis, actual Av. Samora
Azul e branco: cumeeira do telhado a duas águas do barracão na traseira do 3o piso
Azul: topo da pala opaca desse telhado
Verde claro: varanda na parte lateral do prédio virada a norte e no 3o piso

Tendo nós recordado agora a pala do telhado do barracão, a respeito das instalações dos Lazarus no 3o piso do prédio Pott entre 1906 e 1908 vê-se no livro de Paulo Azevedo 
Photographos Pioneiros de Moçambique que um jornalista do LM Guardian escreveu na reportagem "Uma marca de progresso" o seguinte na página 94: "the designs of this part were altered specially to suit the requirements of photographic work", ideia que ele já tinha transmitido mais genéricamente numa reportagem anterior chamada "Um estúdio modelo" (página 91). O jornalista completou essa frase com "which explains the projecting glass roof over an inner part of the upper storey". 
O que seria esse "telhado projectado em vidro" que segundo ele cobria uma parte do interior do 3o piso e que provavelmente teria sido instalado expressamente para satisfazer os requisitos do trabalho fotográfico dos Lazarus? Ora viu-se na foto do interior do salão = estúdio que ele tinha o telhado parcialmente em vidro mas um "projecting glass roof" seria diferente, seria um alpendre saindo da parede do barracão para o exterior, algo deste tipo. Mas olhando nessa foto do interior para o exterior pelas janelas do lado direito,  não se via tal alpendre no exterior, mas também não se via o beiral do telhado com cerca de 1 m de largura que aparece na FOTO 3 do artigo 5 (aí ele já não seria em vidro mas também o telhado já não o era) pelo que temos de assumir que essa foto do interior não mostrará completamente o que estava no exterior.
Porque teria sido colocado o alpendre em vidro que o jornalista referia? A meu ver ele serviria principalmente para proteger do sol / chuva quem caminhasse entre o corpo principal do prédio e o barracão. E sendo ele em vidro permitiria que continuasse a entrar luz no salão = estúdio pelo lado leste como convinha e como se ele lado do exterior não estivesse coberto. A dúvida sobre o propósito desse alpendre é natural pois ainda sobre esse "projecting glass roof" o jornalista escrevia "the purpose of which, when viewed from the street, is not immediately apparent".
Mas esta frase significaria também que esse elemento do prédio seria visível das ruas mais próximas (ou que o jornalista pensava que era ...). Se se tratasse dum alpendre estaria ao nível da parte mais baixa do telhado do barracão, ora olhando da rua e de frente para o prédio e dado que o topo do corpo das torres era bastante elevado e estava bastante para a frente do barracão parece-me que esse alpendre não seria visível. 
Com a FOTO 1, olhando da rua para o prédio na direcção S-SW também se pode dizer que não se via tal alpendre que devia estar sob a marca vertical "carmesim" mas estaria a ser  obstruído pela construção de que marquei a varanda "verde claro". Podemos concluir o mesmo com as fotos da montagem seguinte, a da esquerda tirada para "noroeste" e da direita similar à FOTO 1 e por isso tirada para sul - sudoeste. Note-se que a foto da esquerda é do tempo em que os Lazarus ainda eram inquilinos do prédio e a da direita, tal como a FOTO 1, era de cerca de 25 anos depois da sua saída e duma época em que as partes em vidro iniciais do telhado do barracão já podiam ter sido substituídas pois principalmente na FOTO 1 este parece ser uniforme. 

MONTAGEM 1
Preto e "preto e branco": respectivamente níveis do pavimento e do tecto do 3o piso
Laranja: frontão triangular ao centro da parte mais alta da fachada principal
Carmesim: aponta para o espaço (corredor) entre o barracão 
e o corpo principal do prédio, o das torres gémeas
Rosa: antiga Av. Aguiar, depois D. Luis, actual Av. Samora
Só visível na foto da direita:
Azul e branco: cumeeira do telhado a duas águas do barracão na traseira do 3o piso
Azul: topo da pala opaca desse telhado
Verde claro: varanda na parte lateral do prédio virada a norte e no 3o piso

As duas fotos da MONTAGEM 1 foram tiradas do nível do solo na avenida Aguiar, actual Samora para a secção norte do prédio Pott. Na da esquerda com vista na direcção de N - NW não se consegue ver pormenores do terceiro piso e na da direita, semelhante à FOTO 1, também não se vê o tal alpendre em vidro que estaria algures sob a marca "carmesim"
Concluiu-se daqui que das posições laterais um transeunte na actual Av. Samora não poderia ver um alpendre no barracão e olhando também do nível da rua mas em frente ao prédio ainda mais difícil seria vê-lo. E mesmo que quisessemos ver o terraço do prédio a partir duma posição elevada note-se que frente ao prédio Pott em 1906 não havia prédios mais altos que ele e que o ponto mais alto nessa direcção seria a barreira da Maxaquene, mas esta ficava longe e daí também não se veria grande coisa no terraço do prédio. 
Mas o jornalista referia-se específicamente à situação de "viewed from the street" e fica-se então na dúvida sobre o que ele quereria dizer com o "projecting glass roof" dado que este não seria visivel. Referir-se-ia o jornalista, por imprecisão nos termos usados, não a um alpendre mas à parte do telhado que era em vidro e que por estar mais elevada e afastada da frente do prédio Pott, em 1906 quando existia podia ser visível a partir da rua? Mas como veremos em fotos nos artigos e 12 um transeunte podia ter dificuldade de da rua ver até o telhado de vidro. 
O que podemos agora esclarecer é a menção do jornalista a "uma grande sala do lado norte da traseira do 3o piso que seria conveniente para um bar, club, etc". Já tinhamos identificado esse corpo no edifício tanto nas fotos antigas como nas actuais pois foi das partes que não desabou com o incêndio, mas dizia o jornalista também que essa sala se abria para uma varanda. Ela vê-se muito bem na FOTO 1 (marca verde claro) e ficava virada para norte, mais ou menos encostado a esse lado norte do prédio esteve por esses tempos o chamado jardim dos "Campos Elísios" que se ligava ao início da encosta para a alta da nova cidade a norte. Para além dessa perspectiva, dessa varanda olhando-se um pouco para NW aparecia o jardim botânico da cidade e foi muito provávelmente dela ou do terraço por cima dela que foi tirada esta e esta fotos. Noto ainda que pelo que se vê na imagem de satélite actual, do lado sul se podia subir para esse terraço por umas escadas a partir do pátio da traseira do 3o piso de que aqui vamos falando. Como se viu nesta foto essa varanda foi depois tapada.
Continuarei no próximo artigo desta série a falar do prédio Pott em tempos antigos e modernos, recomeçando com este assunto do barracão.

NB: Mais uma foto, de Lu Shih Tung de cerca de 1955, mostrando o barracão no prédio Pott mas não adiantando muito relativamente ao visto anteriormente para essa época.
Barracão na traseira do terceiro piso da secção norte do prédio Pott 
parecendo aberto o espaço entre ele e o corpo da frente

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