Fotos do mecânico João Baptista da DETA: DH Dragonfly e Dragon Rapide (3/3)

Vimos nos artigos anteriores (aqui e aqui) fotos gentilmente cedidas por Carlos Baptista e que estão relacionadas com a actividade do seu pai, João Baptista, que foi mecânico de aviões da DETA do final dos anos 30 aos anos 60/70 do século passado (XX ou 20). 
Como dissemos João Baptista reparou aviões De Havilland (DH) "Dragon Rapide" e vamos voltar a olhar para uma das suas fotos e onde ele está com a farda mais escura para observar melhor o avião próximo.
Comandante Jorge Machado de Almeida, João Baptista e mais dois mecânicos 
e um cavalheiro desconhecido junto a um bi-plano da DETA

Segundo o site especializado em aviação luso-moçambicana Voando em Moçambique (VeM) este avião seria o CR-AAB DH.90 Dragonfly de 1937, era um avião ambulância e desconhece-se para já o seu nome de baptismo, se realmente o teve.
Por curiosidade vamos então confirmar que este aparelho era realmente um DH Dragonfly e se o for concluimos que João Baptista também os reparava e talvez compreenderemos porquê.
Como diz a wikipedia o DH Dragonfly pertence à mesma família do Dragon Rapide (a partir daqui Rapide) mas em modelo mais reduzido mas sendo o Dragonfly um pouco mais moderno era mais avançado técnicamente e mais eficiente: "the Dragonfly had a new preformed plywood monocoque shell and strengthened fuselage". 
Esta é ideia é reforçada no site da BAE, a herdeira da histórica DH, que diz sobre o Dragonfly: "To achieve high performance on this comparatively low-powered aircraft, great emphasis was placed on aerodynamic refinements and this was reflected in the elegantly tapered high-aspect ratio wings and the stiffened centre-section structure that allowed bracing wires to be eliminated from the inner wing bay. At the extreme detail level, the external footstep had an aerofoil section and was hinged to allow it to fly up in line with the wing trailing edge in flight". Devido à maior sofisticação do desenho e do fabrico o Dragonfly era relativamente caro e o seu mercado alvo inicial foi o de ricos proprietários de aviões (para turismo) e o transporte de executivos e magnatas mas depois foi sendo adoptado para voos comerciais. Tal aconteceu com o único aparelho desse modelo que a DETA comprou embora no seu caso particular para servir de ambulância segundo informação do VeM. Como isso aconteceu no ano em que a companhia começou a operar o que dá ideia que o serviço de ambulância era prioritário e note-se ainda que a DETA adquiriu-o uns dois anos depois do início da produção desse modelo.
Vejamos então as caracteristicas gerais dos dois modelos das wikipedia respectivas 

Dragon Fly DH 90 (First flight: 12 August 1935)

  • Crew: 2 (esclarece o texto que era 1 piloto mas preparado para ter controles duplicados)
  • Capacity: 4 passengers (adicionado da BAE)
  • Length: 31 ft 8 in (9.65 m)
  • Wingspan: 43 ft 0 in (13.11 m)
  • Height: 9 ft 2 in (2.79 m)
  • Wing area: 256 sq ft (23.8 m2)
  • Empty weight: 2,500 lb (1,134 kg)
  • Gross weight: 4,000 lb (1,814 kg)
  • Powerplant: 2 × de Havilland Gipsy Major II 4-cylinder inverted air-cooled in-line piston engines, 142 hp (106 kW) each

Rapide DH 89 (First flight: 17 April 1934)
  • Crew: 1
  • Capacity: 8 passengers
  • Length: 34 ft 6 in (10.52 m)
  • Wingspan: 48 ft 0 in (14.63 m)
  • Height: 10 ft 3 in (3.12 m)
  • Wing area: 336 sq ft (31.2 m2)
  • Empty weight: 3,230 lb (1,465 kg)
  • Gross weight: 5,500 lb (2,495 kg)
  • Powerplant: 2 × de Havilland Gipsy Six 6-cylinder air-cooled inverted in-line piston engines, 200 hp (150 kW) each

Podemos comparar visualmente os dois modelos de lado com as fotos seguintes do VeM FB com aparelhos da DETA (clique na montagem para aumentar):
à esquerda: o único DH Dragonfly da DETA (CR-AAB) em Angola
à direita: um dos DH Rapide da DETA, Vila de João Belo (CR-AAM)

Quanto aos tamanhos é difícil distingui-los dado que o Rapide era pouco maior que o Dragonfly (uns 90 cm no comprimento mais comprido e 30 cm na altura, quer dizer na ordem duns 10% nestas duas dimensões). Mas no desenho nota-se que o Rapide era mais comprido para a frente das asas, tinha o focinho diferente (mais afiado) e fundamentalmente que tinha mais fiadas de janelas pois levava o dobro de passageiros dos do Dragonfly.
Olhando para o aparelho da primeira foto de João Baptista vê-se bem que tinha o focinho curto depois das asas e poucas janelas por isso era claramente um Dragonfly e como era um CR (topo da asa esquerda) seria o CR-AAB da DETA. Como vimos apesar de algumas diferenças técnicas a manutençâo dum modelo e doutro devia ser semelhante e o pessoal nessa altura devia ser mais polivalente do que será agora nas companhias de aviação e manutenção.
Vejamos ainda esses dois modelos pertencendo a outras companhias (clique na montagem para aumentar):
à esquerda: DH Dragonfly (DH 90)
à direita: DH Rapide (DH 89)

Deste ângulo, para além da grande diferença do número de janelas na cabine, pode confirmar-se o que diz a wikipedia do Dragonfly (DH 90): "The lower wing has a shorter span than the upper, unlike the DH.89 (Rapide), and the top of the engine nacelles protrude much less above its surface because the fuel tank had been moved to the lower centre section". Diz então que no Dragonfly a asa de baixo era mais curta que a de cima o que é evidente mas quanto à parte superior do motor no Rapide estar mais acima da asa inferior do que no Dragonfly tal não será muito significativo. 
Podem-se ver fotos no VeM deste Dragonfly da DETA depois de ter sido vendido para a África do Sul tendo passado a ser o ZS-CTR. Há as mesmas fotos aqui onde se diz que na DETA tinha sido o BEIRA mas aqui e aqui com participação do Comandante Vilhena diz-se que era o INHAMBANE. Tanto o texto sul-africano também diz que estava equipado como avião ambulância mas não sei se seria assim logo de início e no VeM há outra foto aqui ainda como CR-AAB

Selecção do texto da BAE sobre o DH90 Dragonfly
"A clean and elegant luxury tourer, the last biplane to be designed and built by De Havilland.
The De Havilland Aircraft DH90 Dragonfly was twin-engine luxury touring aircraft built at Hatfield during the 1930's.  It was effectively a scaled down and streamlined derivative of the DH89 Dragon Rapide, aimed at the wealthy private owner market which was extremely buoyant during the inter-war years. 
The prototype DH90 Dragonfly E-3 / G-ADNA flew for the first time on 12 August 1935, powered by two 130 hp de Havilland Gipsy Major I engines. Production examples were designated DH90A and a total of 67 aircraft were built. 
To achieve high performance on this comparatively low-powered aircraft, great emphasis was placed on aerodynamic refinements and this was reflected in the elegantly tapered high-aspect ratio wings and the stiffened centre-section structure that allowed bracing wires to be eliminated from the inner wing bay. 
At the extreme detail level, the external footstep had an aerofoil section and was hinged to allow it to fly up in line with the wing trailing edge in flight. 
The first aircraft (G-ADNA) flew from Hatfield on 12th August 1935 and utilised many of the construction methods of the DH88 Comet Racer which won the MacRobertson Air Race from London to Sydney in 1934. These 'specialised' production techniques were expensive in industrial terms and the sales price of £2,650 clearly indicated the target customers as the wealthy company owner / operator.
The first deliveries were made in May 1936 with half of the initial 36 aircraft going to Executive Airlines and Exclusive Air Taxi organisations. 3 aircraft did however enter 'flying club ownership' with 4 others entering air force service in Denmark and Sweden".

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