Porto de LM no início - relatório de Ivens Ferraz de c. 1900 - V. (e evolução posterior) (15/)

Vamos continuar a leitura do relatório "Descrição da Costa de Moçambique de Lourenço Marques ao Bazaruto" de Guilherme Ivens Ferraz (GIF) que se pode descarregar daqui e a usar para sua ilustração, entre outras, fotos dos missionários suíços (DMO).
O relatório foi publicado em 1902 e GIF tinha sido até 1899 o capitão do porto, por isso seria das pessoas mais conhecedora na altura dos seus elementos, do seu funcionamento e das suas necessidades e soluções para o futuro.
Como vimos já GIF reportava os "poucos guindastes montados na muralha de supporte" que supomos dizia específicamente respeito ao cais paralelo ao estuário e para o interior do qual se tinha feito o aterro para se instalarem armazéns para o porto de Lourenço Marques (LM), actual Maputo.
Na foto seguinte temos um guindaste (a vapor) que parece todavia estar a operar na plataforma em alvenaria do Cais da Alfândega (CA) - de que vemos mais duas fotos do seu terreiro aqui  com vários guindastes - e presumo que GIF também se referisse a eles e que foram  dos primeiros a ser utilizados no porto de LM. 

FOTO 1
Descarregando barris de vinho transportados dos navios
para a plataforma do CA pelas barcaças

Como se vê o estuário da esquerda para a direita da foto e a sua margem da Catembe ao fundo (a qual estaria para sul do CA) parece-me que nesta foto se vê o terraço do CA junto à sua face a oeste, perpendicular à muralha de suporte do aterro que marcámos a "rosa" nos artigos anteriores.
Depois de descrever a constituição, vantagens comparativas e utilisação do porto até aí como vimos nos artigos anteriores, lamentava-se GIF de que ele não estava a dar vazão ao tráfego a que era solicitado pelo comércio sul-africano: "Houvesse em Lourenço Marques um cais servido pelo caminho de ferro, com desenvolvimento bastante para n'elle descarregarem em qualquer maré 8 a 10 batelões, podemos garantir que as descargas se fariam, por enquanto, com sufficiente rapidez, como acontece em Port Elisabeth, onde, apesar do trafego ser muito superior ao do nosso porto, os navios descarregam ao largo para batelões.
Isto é tanto mais verdadeiro quanto é certo que a maior parte dos carregamentos desembarcados em Lourenço Marques é de madeiras vindas do Báltico em navios de vela, e esta mercadoria descarrega-se em geral por embonos, formando jangadas, que vão a reboque para as estâncias, todas à borda d'agua (uma gravura aqui das estâncias nessa altura).
GIF dava ideia de que "por enquanto" seria suficiente equipar o cais existente com mais guindastes e instalar a linha férrea ao lado para o que não seria necessário um investimento muito vultuoso (mas manter-se-ia o inconveniente de o cais nem sempre estar disponível devido às marés, caso deste momento). Ora essa afirmação de GIF parece um tanto incongruente dado que quando o relatório saiu em 1902 a construção da ponte-cais Gorjão ou estava já em curso ou o seu início estava planeado para ser em breve. Por vir a ser colocada em águas mais profundas do que os cais até então a nova ponte-cais seria atracável por grandes navios (e não por barcaças como até aí) mas o seu custo seria muito maior do que a solução proposta por GIF. Mas certamente seria uma questão de horizonte temporal, GIF estaria só a pensar no curto prazo enquanto que as entidades que administravam o porto e decidiram pela nova ponte-cais estariam a pensar a mais longo prazo. 
Na prática essas duas opções também não foram tão antagónicas como pode parecer pois numa fase transitória, em paralelo com a nova ponte-cais, continuou a existir no porto de LM um cais para barcaças que fazia parte da primeira doca como veremos depois (FOTO 1 do artigo 3). Para mais pode-se ver aí que esse cais era ladeado por uma linha férrea como GIF tinha antes alvitrado e é possível que o número de guindastes tivesse sido reforçado, também como ele sugerira. 
Série completa aqui sobre o desenvolvimento do porto até ao início do século XX.
Sobre a primeira doca, pode ver-se com muito mais detalhe e imagens do que aqui falei esta série de artigos.

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