Continuando a falar do jardim botânico, actual Tunduru de Maputo olharemos aqui com mais atenção para as fotos antigas de construções do tipo cabana ou "palhota" que lá havia nas primeiras décadas do século XX (20).
A FOTO 1 que já vimos a propósito da fonte das quatro deusas que aparece próxima da objectiva e ao centro foi publicada por Santos Rufino em 1929:
FOTO 2
Lago redondo e o coreto no mesmo terraço, que parece subir ligeiramente para o fundo |
Apesar das semelhanças pode observar-se que não é a mesma construção nas duas fotos. A estrutura superior na entrada da FOTO 2 (a do coreto) tem arcos enquanto que na da FOTO 1 tem peças direitas. Mais o fundamental é ver-se que o coreto era aberto de todos os lados (tal como o devia ser para a audiência poder circundar a banda) enquanto que a construção da FOTO 1 era fechada do lado de trás.
Que construção seria então a da FOTO 1 que não era o coreto mas era contemporânea dele e do mesmo tipo? Na tese de doutoramento de Lisandra Franco de Mendonça (LFM) numa planta de 1946 (página 403) aparece marcado um belvedere como se mostra a seguir:
PLANTA do Jardim Vasco da Gama
Carmesim e cinzento: indicado por LFM como sendo o belveder(e)
Seta verde: entrada principal do jardim
Amarelo: caminho principal do jardim orientado de oeste a leste
Azul: lago redondo das pérgolas em linha
Rosa: coreto do jardim Linha preta: caminho do norte para o centro e do lado leste do jardim
Azul escuro: local do edifício da primeira rede telefónica
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Belvedere significa em geral "ver o belo" e num jardim é definido no dictionary.com como sendo "a building, or architectural feature of a building, designed and situated to look out upon a pleasing scene". Segundo o posicionamento de LFM o belveder no jardim Vasco da Gama estava então numa posição central no eixo oeste - leste, um pouco desviado para a esquerda = oeste da direcção do caminho marcado a preto que vimos noutros artigos. Estava aí logo abaixo do caminho principal por isso com boa perspectiva para a faixa mais baixa do jardim onde estavam por exemplo os seus primeiros canteiros e lagos, o que estaria em conformidade com a definição de vista para um cenário agradável.
Apesar de incluir o belvedere na planta, LFM no texto da sua tese refere-o muito brevemente e não mostra a sua imagem. Eu também nunca o tinha visto representado mas ao concluir que a construção da FOTO 1 não era o coreto suspeitei que fosse o belveder e tentarei aqui mostrar que a FOTO 1 é compatível com a posição marcada na planta por LFM. Se na FOTO 1 tivermos o belveder tanto ele belveder como o coreto dessa altura seriam construções do tipo cabana ("palhota"). Na FOTO 3 seguinte podemos observar, conforme nos foi sugerido, que havia no jardim duas cabanas desse tipo e nessa época ocupando posições cuja relação de distância e cota no terreno correspondia ao que estava marcado na PLANTA na foto/planta de 1946 para o coreto e para o belveder.
Apesar de incluir o belvedere na planta, LFM no texto da sua tese refere-o muito brevemente e não mostra a sua imagem. Eu também nunca o tinha visto representado mas ao concluir que a construção da FOTO 1 não era o coreto suspeitei que fosse o belveder e tentarei aqui mostrar que a FOTO 1 é compatível com a posição marcada na planta por LFM. Se na FOTO 1 tivermos o belveder tanto ele belveder como o coreto dessa altura seriam construções do tipo cabana ("palhota"). Na FOTO 3 seguinte podemos observar, conforme nos foi sugerido, que havia no jardim duas cabanas desse tipo e nessa época ocupando posições cuja relação de distância e cota no terreno correspondia ao que estava marcado na PLANTA na foto/planta de 1946 para o coreto e para o belveder.
FOTO 3 (bird eye view)
Vermelho: Av. Aguiar, depois D. Luis, actual Av. Samora
Roxo: centro da Av. Álvares Cabral, actual Manganhela
Seta rosa: cabana que seria o coreto do jardim da FOTO 2 Seta carmesim: telhado da cabana que seria o belvedere da FOTO 1 Azul escuro: edifício da primeira rede telefónica no local onde está agora instalada a Casa de Ferro) |
Quanto à construção da FOTO 1 parece-me compatível com a posição do belveder na PLANTA porque tem atrás um muro ou terreno mais alto que seria o caminho principal e porque está tapada do lado de trás e o belveder era para se olhar para a frente. Resumindo, a FOTO 3 indica-nos que o belveder seria uma construção do tipo cabana e como a construção da FOTO 1 é desse tipo, o seu desenho é compatível com a função de belvedere e a sua posição no que a rodeia parece coerente com a desenhada por LFM na PLANTA, acho muito provável que a construção da FOTO 1 fosse o belveder do Jardim Vasco da Gama cerca de 1929. Como disse neste artigo a respeito da sua FOTO 6 penso que houve alterações posteriores ao terraço onde o belveder terá estado conforme a FOTO 2 acima pelo que não podemos esperar encontrar agora o seu local exactamente na mesma. Segundo LFM o belvedere estava para o centro do jardim e onde a diferença de altura do caminho principal para o terreno a sul era maiore daí a necessidade de haver escadas, na parte mais a oeste = junto à entrada essa diferença era menos e podia haver rampas da plataforma central para a inferior = a sul.
Se recordarmos os artigos anteriores podemos dizer que os criadores do jardim tiveram em mente o belveder desde os primórdios na faixa sul pois a ponte elevada sobre o lago e a barraca junto a ele visavam também possibilitar aos visitantes uma melhor posição para observar o jardim.
As duas construções que aqui vimos eram de madeira e por isso deteriorar-se-iam rápidamente, sabe-se que o coreto foi substituído por uma construção de betão penso que nos anos 50 ou 60 mas do belveder não se sabe mais nada.
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