Urbanização da encosta da Maxaquene - fotos de H. Forman e anúncio de 1944 (4/)

Continuamos com as fotos reproduzidas do site da Universidade de Wisconsin Milwaukee (UW-M) e que fazem parte do arquivo da American Geographical Society Library. O seu autor é Harrison Forman e são dos primeiros meses de 1961. 
Semelhantes à primeira foto do primeiro artigo desta série. temos duas da encosta da Maxaquene que acompanha do lado norte a subida da Av. Brito Camacho, actual Lumumba pouco depois do seu início no cruzamento com a Av. Augusto Castilho, actual Lenine. Focar-nos-emos nas construções em torno e no interior do "V" aí bem à vista e que foi formado entre a Rua Mariano Machado, actual Crisanto e a Av. Brito Camacho que sobe em direcção à Ponta Vermelha. 

FOTO 1
Foto de Harrison Forman do início de 1961
Foto semelhante mas tirada com a câmera menos levantada do que a FOTO 1:

FOTO 2
Vista para nascente da encosta da Maxaquene (agora Central "C"?)
iluminada pelo sol do meio da tarde com a barreira à direita
Mesmo ao longe nota-se certa uniformidade de idade, desenho e qualidade das vivendas deste bairro. Um dado que o explica surge na dissertação de mestrado de Ana Furtado que trata da construção da nova catedral de Lourenço Marques mas tem como anexo um anúncio que se refere marginalmente a esse tema e que é precisamente sobre a venda dum grande loteamento nesta zona.

Anúncio do jornal Notícias com marcas HoM
Azul escuro: ângulo de visão da FOTO 1, tirada do alto do edifício Tonelli
Verde claro: Av. 24 de Julho
Rosa: Rua António Enes, depois D. Almeida Ribeiro, limite a leste do bairro
Azul claro: Av. Pero de Alenquer, actual Cabral
Castanho claro: Rua Mariano Machado, actual Crisanto que não estava desenhada
Laranja claro: Av. Miguel Bombarda, depois Brito Camacho, actual Lumumba
Vermelho: Av. Andrade Corvo, actual Min
Roxo: Av. Elias Garcia, actual Lenine
Preto: Rua Fernandes da Piedade, actual Issa
Branco: Rua Neutel d'Abreu, actual Sidumo
Verde escuro: limites da parte alta do jardim botânico
Castanho escuro: grupo de casas semelhantes na Rua Crisanto e Issa (ver em baixo)
Círculos carmesim, cinzento e amarelo: três hotéis dos anos 40/50
na periferia do bairro
Embora Ana Furtado não forneça a data do anúncio, como nele se refere a nova catedral inaugurada em Agosto de 1944 e a antiga que foi demolida poucos dias depois, ela deve ser próxima desse mês. Pelo desenho parecia hesitar-se sobre o que fazer a uma linha de árvores onde acabou por ficar a Rua Mariano Machado, actual Crisanto, a única enviesada do bairro. Mas possíveis demoras com o projecto de detalhe e/ou com a instalação das infraestruturas não terão sido longas pois como veremos noutro artigo já apareciam várias casas novas neste loteamento no filme da Cinemateca de 1950 (aí entre os minutos 3:00 e 3:09).
Pode-se notar aqui que o grupo de vivendas semelhantes que fica do lado peste = poente ou seja à esquerda de quem sobe da Rua Crisanto e mais algumas que dão a volta pela Av. Lumumba e sobem para a Rua Issa não estão em terrenos que tinham sido postos à venda no anúncio. Mas o seu estilo e idade estimada são do mesmo tipo das vivendas dos terrenos postos à venda pelo que presumo que toda esta zona terá sido urbanizada e construída por essa altura. Noto para mais que há mais vivendas como as desse grupo do lado direito do "V" na Av. Lumumba (ver aqui acima da da Residencial Palmeiras) e os terrenos para essas estavam incluidos no anúncio. 
Como era indicado no anúncio a zona tinha muito boa localização pois para além de ser próxima e ter bons acessos para a Baixa e Ponta Vermelha/Polana estava em posição elevada e com boa vista para o estuário donde presumo recebia brisa refrescante. Suponho assim que após terem sido lançados no mercado os terrenos terão sido rápidamente vendidos a uma classe média-alta. Como tinham desafogo financeiro e presumo algum bom gosto os novos proprietários devem ter escolhido bons arquitectos e tiveram capacidade para iniciar rapidamente a construção. Daí deve ter resultado uma grande uniformidade no estilo internacional modernista que era o dominante ao tempo da urbanização. Da escolha de bons materiais e construtores resultou um grande número de vivendas de qualidade e mesmo passados quase 70 anos as construções do loteamento ainda são habitáveis ou reabilitáveis e bonitas estéticamente e por isso tem havido poucas mudanças no seu interior.
Pelo contrário nas zonas da cidade que tinham sido urbanizadas muito mais cedo as poucas primeiras casas aí construídas foram de madeira e zinco. Depois nos terrenos vagos ao lado desses a partir de certa altura construiram-se casas de alvenaria no estilo colonial da época. Quando as casas de madeira e zinco chegaram ao fim de vida as novas casas que as substituíram tiveram um estilo arquitéctónico diferente das primeiras em alvenaria e por isso foi sempre havendo misturas de estilos.
Ainda a propósito deste bairro e das suas vivendas e quanto ao "seguro emprego de capital" do anúncio, vimos qual foi o resultado em 1975 devido aos chamados "imponderáveis". Porque as vivendas deste bairro, simples mas cuidadas, me fazem pensar no que aconteceu, tinha sido precisamente para uma que ficava próxima que eu tinha contado uma "estória".

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