H. Gubler e o negócio do álcool em LM cerca de 1895 a 1900

Desenvolvendo parte final de artigo anterior
O álbum dos irmãos Lazarus  "A Souvenir of Lourenço Marques"  publicado em 1901 e recentemente disponibilizado pelo site Africa in The Photobook continha uma publicidade à firma H. Gubler. 
H. Gubler, principalmente no sector dos transportes internacionais, etc. em 1901
Vimos que o senhor H. Gubler participou no pic-nic ao Umbelúzi de 1907 e sendo o grupo reservado a pioneiros com 16 anos de presença em Moçambique podemos estimar que já habitaria o território desde cerca de 1890.
Sobre ele, que veremos ter prenome Herman, e a sua actividade no negócio das bebidas álcoolicas que é mencionda no anúncio e que aí parecia ser marginal em relação às ligadas ao porto e transportes, existe uma referência no muito completo estudo "THE RANDLORDS AND ROTGUT, 1886-1903" de Charles van Onselen. Sendo sobre a África do Sul trata de aspectos relacionados com a economia de Moçambique dessa altura e de que eu tinha visto referências (de Pereira de Lima ou Lobato?) ao de leve por exemplo duma destilaria em Ressano Garcia que (quase) não tinha chegado a funcionar. 
Diz esse estudo de Charles van Onselen e seleccionando como "chamariz" uma pequena parte do muito que tem relativo a Moçambique e a este tema: "Marks's first move was to contact the two Lourenço Marques wholesalers at the very centre of the "Alcohol Trust" - Hutt & Auerbach, and Joost & Gubler. It is probable that the former (H&A) acted as the wholesale outlet for the Societé Française de Distillerie, since the latter (J&G) certainly acted in that capacity for the Mopea Distillery of the Companhia do Assucar (HoM: que é mencionada no anúncio). Through these firms and another intermediary, Baron d'Inhaca, Marks tried to establish exactly how much capital Hatherley would require to get control of the largest liquor producer in Mozambique. By early December 1897, the board of Hatherley Distillery knew that they required at least £50,000 if they were to get a controlling interest in the French company's distilleries at Lourenço Marques and Ressano Garcia."
E lendo o resto dos estudo na transversal, entende-se que Marks (Sammy, magnata das minas de que falamos aqui e muito mais aqui no google) tinha também interesses no negócio do álcool no Transvaal (na companhia sul-africana Hatherley Distillery) e não podendo enfrentar a concorrência vinda de Moçambique - pagavam menos taxas e dominaram o mercado da gama baixa - resolveu comprar esses oponentes que por sua vez estavam associados a firmas francesas. 
Deste site vemos anúncios sobre a referida "Mopea Distillery" da "Companhia do Assucar" que vemos aqui esteve depois na origem da Sena Sugar Estates, as duas companhias de capitais maioritáriamente britânicos.
Empresa com plantação em Moçambique e 
fábricas em Lisboa e em Mopeia na Zambézia
Por sua vez Eduardo de Noronha no livro O Distrito de Lourenço Marques de 1895 sobre este tema dizia: "Cinco fábricas para destillar álcool se organisaram, algumas dentro da cidade e outras a pequena distância, a fim de aproveitarem o beneficio das pautas, que declara livres os productos fabricados em qualquer dos dois paizes, Lourenço Marques ou Transvaal. Dos seus lucros nada de positivo podemos ajuizar, mas parece-nos que os interesses não são (HoM: parece-me isto) tão tentadores quanto os seus proprietários anteviam.".
Freire de Andrade, depois Governador-Geral, no livro "Colonização de LM" de 1897 diz em relação ao álcool: "O milho ... poderia ser utilisado para fabricação do álcool exportavel para o Transvaal, producto de que já há montadas fabricas importantes, quer na cidade, quer em Ressano Garcia.". Sobre Gubler e Auerbach também mencionado por  Charles van Onselen diz: "Infelizmente, porém, a iniciativa e os capitaes portuguezes pouco affluem á colonia, e se se encontram algumas poucas firmas portuguezas, como Cardoso, Fornazini, Baptista Carvalho, Nogueira Pinto, etc., que ali luctam pela vida, mantendo o commercio portuguez e a sua feição especial. Em compensação abundam os estrangeiros, Mac Intosh, Gubler, AuerbachDonaldson, Hoffman (aqui e aqui), Idolgy, e tantas outras, que principalmente açambarcam o commercio, possuem as melhores propriedades e dominam na praça."
Dos historiadores portugueses contemporâneos não encontro fácilmente na net trabalhos sobre este tema. Esta indústria foi mais um aproveitamento das "oportunidades" económicas que foram surgindo na relação de Moçambique com a África do Sul, primeiro o recrutamento de trabalhadores nativos (necessários para o crescimento da agricultura e depois minas na África do Sul), depois o comércio das armas (pois os ingleses proibiam a venda aos zulus) e por último esta do álcool (tendo em conta a lei da proibição no Transvaal imposta por um governo puritano e as taxas elevadas que lá eram aplicadas). 
No anúncio do H. Gubler aparece também a referência à representação da firma Holzapfel Compositions que vemos aqui ser inglesa:
Marca de tintas especiais por exemplo para cascos de navios
Por coincidência ou não no álbum dos Lazarus o anúncio de H. Gubler está ao lado do da firma F. Bridler, firma esta que curiosamente anos depois a terá adquirido pelo que se via impresso no verso dum envelope:
F. Bridler foi sucessor de H. Gubler de que não sei o local do escritório em LM
Em cima vemos menção a H. Gubler individualmente e em sociedade com Joost. Em relação à sociedade vimos aqui que à Joost & Gubler tinha sido concessionada em 1895 o fornecimento de energia eléctrica à cidade de Lourenço Marques, actual Maputo. Essa licença foi depois "cedida" à DBDC, faltando-me saber se a Joost & Gubler tinha tido intenção real de investir na nova infraestrutura ou se tinha obtido a licença só para especular.

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