Moodie e primeira iniciativa para a linha de LM - rede actual e um mapa de Moodie (3/6)

Passados quase 150 anos depois das primeiras intenções de GP Moodie e da ZAR para se construir uma linha férrea do Transvaal para o porto de Lourenço Marques (LM), actual Maputo a que nos referimos nesta série e ultrapassados muitos constrangimentos dessa tentativa mas tendo contínuamente aparecido outros, pode ver-se daqui uma apresentação recente da companhia estatal de caminho de ferro sul-africana Transnet centrada no transporte de carvão para exportação pelos portos na costa do Indico. 
Vê-se aí que Ermelo é o ponto de concentração das linhas presentes e futuras vindas até de novas minas no Botswana na ligação preferencial da Transnet que é feita ao porto de Richards Bay, com uma linha electrificada e relativamente moderna atravessando alguns túneis e sendo de via dupla. Por isso a estratégia inicial da ligação da região de Pretória ao mar passar pela zona de Klip Stapel (onde fica Ermelo) acabou por se cumprir, com a grande diferença de não se ter sido feita por LM devido à mudança de estatuto da Suazilândia em 1881 mas de ter sido feita muito depois para um novo porto construído a sul de LM e a norte de Durban que era a segunda alternativa. 

Mapa de linhas actuais do Rand / Gauteng para a costa
Preto: linha de PTA (Pretória) a Maputo, inaugurada em 1894
Vermelho: ligação de Ermelo e do interior a Richards Bay, porto oceânico
Verde: Suazilândia, tem também uma linha interna ao centro 

para oeste = esquerda mas não foi incluida neste diagrama
Pode ver-se que mesmo ficando Richards Bay (de que falámos por exemplo neste artigo) bastante para norte de Durban a sua distância a Pretória é ainda relativamente mais longa do que a de Maputo. Todavia este porto ocupa agora uma posição marginal no sistema ferroviário desta zona da África Austral e seu acesso ao transporte marítimo provávelmente em consequência das politicas seguidas no período pós independência (ver artigo de 2014 com problemas mais recentes).
Voltando ao tempo de Moddie, o site S2A3 diz que o governo da ZAR / Transvaal compensou-o em 1875/76 com 13 quintas no leste do Transvaal em troca dos serviços prestados. Nessa definição pode estar incluida a sua assistência como especialista nas negociações do tratado com o governo português sobre a ligação ferroviária com LM assinado em 1875 e/ou noutras situações e/ou a compensação pela devolução da concessão que ele tinha obtido do lado sul-africano. Todavia o valor da transferência da concessão que ele tinha obtido do lado português para a Lebombo Railway Company em 1876 pela data não estaria aí incluida pelo que pode ter sido pago em cash ou em acções dessa companhia dado que ela que iria prosseguir o projecto.
E foi em relação às quintas que já tinhamos falado de GP Moodie neste artigo pois foi nelas que se fizeram as primeiras descobertas de ouro na região que se veio a chamar Barberton em 1883/84 (mais aqui). Curiosamente sobre Moodie que era agrimensor e as quintas, do muito interessante pdf do Arquivo Histórico Ultramarino com cartas de Moçambique da página 147 retiro a seguinte da Baía de Lourenço Marques e das terras portuguesas e do Transvaal para o interior feito em 1870 pelo próprio G. Moodie e por C. Mauch. Recorde-se que nessa altura Moodie não tinha ainda obtido a concessão sul-africana para linha férrea de Klip Stapel à fronteira portuguesa que só conseguiu em 1873 e as concessões portuguesas daí até Lourenço Marques que conseguiu em 1874 e 1876. 


Mapa de 1870 de Moodie
Castanho claro: Lourenço Marques / Delagoa Bay, actual Maputo
Castanho escuro: directiz da estrada prevista entre LM e Lydenburg
Roxo: Montes Libombos fazendo a fronteira entre ZAR e Portugal
Vermelhos: está escrito G. Moodie, seriam quintas suas mas anteriores 
às relacionadas com as concessões ferroviárias obtidas de 1875 em diante
Azul: vale do rio Incomáti e Verde: Rio dos Elefantes
Laranja: montanhas Drakensberg do "lowveld" para o "highveld"
Em relação aos Montes Libombos é possível que no mapa estivessem muito deslocados para a esquerda. Houve aí erros e mudan4as de fronteiras e note-se que a Swazilândia não estava marcada separadamente. Sobre a estrada de Lydenburg que estava só prevista nesse mapa diz o livro "The International Impact of The Boer War" que Portugal construiu os 80 km na parte de Moçambique de 1871 a 1874, mas que ela era pouco usada porque o gado que puxava as carretas era atacado pela mosca tsé-tsé. Sobre essa estrada falámos já aqui com outras informações. 
Tema continua no próximo artigo.

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