Navio a vapor Adjutant da DOAL em Moçambique c. 1910

Falámos neste artigo do vapor Adjutant que seria o mais pequeno da companhia de navegação alemã DOAL 
O ACTD tem duas fotos com pontos de interrogação na legenda mostrando um navio com esse nome pelo que penso se pode esclarecer aqui um pouco mais o assunto. Atendendo a onde foram arquivadas pelo ACTD as fotos terão sido tiradas durante uma viagem de barco feita por uma comissão de demarcação geográfica em Moçambique em Novembro de 1910 que seria a de 1907-1910 dirigida por Gago Coutinho.

FOTO 1

Embarcação Adjutant ? (ACTD)

FOTO 2

Embarcação Adjutant ? ACTD


Na primeira foto vê-se o nome ADJUTANT claramente inscrito na proa e que a chaminé tem as cores da DAOL de que falei neste e neste artigo. Por isso penso que o ACTD podia tirar os pontos de interrogação das legendas mas...
Vejamos de novo aqui o anúncio de 1901 feito pelo agente companhia de navegação alemã DOAL em Moçambique, L. Scholtz onde aparece que o Adjutant tinha 500 toneladas e são apresentados os portos de Moçambique servidos pela companhia. Por ter só 500 toneladas não é para admirar que parecesse pequeno nas FOTOS 1 e 2 mas é relativo dado que teria sete vezes mais tonelagem do que a draga TEREDO de que falámos aqui e que não era pequena.
Como se vê nas FOTOS 1 e 2 o Adjutant para ser navio de passageiros como os outros do anúncio tinha forma estranha, com a ré demasiadamente baixa. De facto vê-se no artigo da wikipedia (original em alemão e má tradução) que o Adjutant / Schiff de 1905 era um rebocador de alto-mar com 35.4 m de comprimento e velocidade de 9 nós e que funcionou principalmente na costa de Moçambique. A DOAL usava-o nos portos onde os seus vapores maiores amaravam ao largo por não haver ponte-cais acostável e era preciso transferir passageiros de e para terra. Como desde 1903 tal não era necessário em Lourenço Marques, actual Maputo, era nos portos mais pequenos para o norte de Moçambique que o Adjutant operava. 
Por isso penso que as FOTOS 1 e 2 de 1910 não são de cruzamento fortuito de navios no alto-mar mas sim do Adjutant a aproximar-de dum navio perto dum desses portos. Fica-se até a saber que o Adjutant tinha cabines para 6 passageiros o que permitiria por exemplo que os passageiros de primeira classe fossem transferidos de/para o cais mais "aconchegados". 
Essa informação da wikipedia é confirmada no livro "Diary of an African Journey" de 1914 e escrito por Henry Rider Haggard sobre o que se passou no porto do Chinde na Zambézia, um desses pequenos portos em que o grande navio de passageiros a vapor ficava longe do cais:
Rebocador Adjutant levava e trazia os passageiros do Gaika para e de terra

Pode ver-se nas FOTOS 1 e 2 os cestos (baskets) pendurados na amurada do Adjutant e nos quais as pessoas seria transferidas ao grupos de e para o vapor e não é difícil de crer que não seria uma passagem agradável. Curiosamente o vapor Gaika onde o autor viajava era da Union Castle pelo que se deduz que o Adjutant embora sendo da DOAL não a servia em exclusivo. 
Presumo que a DOAL tenha decidido usar um rebocador por ser mais manobrável e ter mais potência que um navio normal de modo a fazer a aproximação e saída de junto ao navio em segurança. Note-se que Adjutant em alemão quer dizer Ajudante por isso era bom nome para rebocador e também seria para a função que veio a desempenhar em Moçambique.
Podemos ver mais fotos do Adjutant no bundesarchiv e na wikimedia e outra foto mas com grande confusão no artigo.

FOTO 3
Rebocador Adjutant sem nome e sem cores da DOAL e parece que nas costas de África
FOTO 4
Rebocador Adjutant sem nome e sem cores da DOAL

Como se pode ver no artigo da wikipedia o Adjutant teve uma existência ultra movimentada após início da primeira grande guerra em 1914, foi depois transferido para o lago Tanganica no interior e acabou por ser queimado em 1915 pelos alemães em retirada.

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