NRP / NH Bérrio em 1940 em LM

Vamos aqui falar de Navios-Hidrográficos (NH) em Moçambique e utiliso neste artigo fotos do arquivo da Marinha Portuguesa. Segundo a wikipedia em 1939 os NH no Ultramar português eram o "Beira", "Dom João de Castro", "Carvalho Araújo" e o "Bérrio". As quatro primeiras fotos mostram o Bérrio em Moçambique no estuário do Espírito Santo, frente a Lourenço Marques, actual Maputo em 1940 por isso compatível com essa informação..
Os NH pertenciam ao Instituto Hidrográfico de Portugal que actualmente é um orgão da Marinha de Guerra mas como tem missão também civil funciona em ligação com os Ministérios da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e do Mar de Portugal - aqui resenha histórica sobre os NH portugueses e suas missões. Em Moçambique o herdeiro do IH é o Instituto Nacional de Hidrografia e Navegação (INAHINA). Genéricamente estas instituições contribuem para aiumentar o conhecimento dos rios e mares e para aumentar a segurança de navegação preparando as suas cartas e instalando bóias e faróis.
Navio Hidrográfico da Marinha Bérrio manobrando perto da Doca da Capitania

Veremos agora o NH Bérrio frente no estuário frente à Catembe, na primeira largando de Lourenço Marques para trabalhos no mar (utiliso as legendas originais):

Navio hidrográfico "Bérrio" saindo do porto de Lourenço Marques 

Presumo que o grande rectângulo mais escuro que aparece na proa do navio fosse uma bandeira de Portugal pintada para tornar claro às forças beligerantes (Alemanha - Eixo dum lado e Aliados doutro) que se tratava dum navio de país neutral, durante a segunda grande guerra. 
No entanto nas duas fotos seguintes que também são de 1940 (mas não são dados os meses do anos no site) não aparece a bandeira pintada, pode ser que sejam anteriores à decisão de se pintá-la (mesmo a cor do navio parece ter sido mudada para se tornar mais clara e visível). Parece-me também que as fotos não são exactamente da mesma altura pois nestas duas vê-se uma lona montada atrás da chaminé, zona superior essa que estava livre na primeira foto. Lembro que a guerra se iniciou em 1939 mas que não terá imediatamentetido impacto nas águas do Índico austral dominadas pelos ingleses, por exemplo os ataques de submarinos alemães só começaram em 1942 conforme descrevi aqui
Navio hidrográfico "Bérrio" entrando em Lourenço Marques (1940)


Navio hidrográfico "Bérrio" entrando em Lourenço Marques em 1940

Na foto seguinte parece-me que o navio está pintado como na primeira, com a cor mais clara, por isso seria em data posterior à das duas anteriores mas...: 
Tripulação do NH Bérrio em LM em 1940

Diz um site sobre a MGP o seguinte: "31. "Bérrio". Rebocador de deslocamento normal de 424 toneladas que foi construído em Saint-Nazaire em 1897. Depois de desempenhar serviço de rebocador, passou em 1930 a navio-hidrográfico com o mesmo nome. Foi navio-hidrográfico de Moçambique de 1930 a 1947. Nesta data foi entregue à província de Moçambique. Esteve ao serviço na Real Marinha de Guerra Portuguesa pelo menos de 1897 a 1910."
Como também se pode ver na lista dos navios da armada o Bérrio antes de ser NH tinha antes sido rebocador ao serviço do porto de Lisboa nos anos 10 e entrado na 1a grande guerra onde Portugal participou. Do site momentos de história"O NRP Bérrio era um rebocador construído em aço, nos estaleiros "Ateliers et Chantiers de La Loir", em Saint Nazaire, de 1897. Tinha sido adquirido na sequência do Plano Naval de 1896, de Jacinto Cândido da Silva. Estava equipado com duas metralhadoras Maxim de 8 mm e durante a Grande Guerra foi reforçado com uma peça de 47 mm colocada na proa. Foi integrado no serviço de rocega, à data comandado pelo 1º Tenente Sequeira Braga. Durante o serviço de rocega de 28 de Março de 1916, afundou a primeira mina alemã rocegada na barra do Tejo."
Caça minas Bérrio, em configuração semelhante à do NH Bérrio
 ao entrar no porto de LM em 1940

livro "Fernando Pinto Coelho o mestre e o professor universitário: no centenário do ..." por Sebastião J. Formosinho e Hugh D Burrows tem o seguinte texto sobre o NH Bérrio e os seus oficiais: "José Augusto Barahona Fernandes (1916-2000) em 1941 (foi) nomeado para integrar a Missão Hidrográfica de Moçambique, a bordo do navio hidrográfico «Bérrio". Mas sobre Barahona Fernandes, a legenda foto da tripulação de cima é: "Em missão hidrográfica em Moçambique. 
 Oficiais da esquerda para a direita: 1º Tenente H. Ferreira Pinto, Contra-tenente E.H. Luís Noronha Andrade, 1º Tenente Raul L. Ferreira de Carvalho e 1º Tenente E.H. Barahona Fernandes" pelo que se a legenda estiver correcta em 1940 ele estava já na Bérrio.
Um Decreto de 1947 "Autoriza(va) o Ministério da Marinha a ceder à colónia de Moçambique o navio hidrográfico Bérrio, com todo o material existente a bordo e que não tenha aplicação no navio hidrográfico Almirante Lacerda". Segundo a publicação "OS PRIMEIROS E OS ÚLTIMOS NAVIOS A CARVÃO DA MARINHA DE GUERRA PORTUGUESA POR NUNO VALDEZ DOS SANTOS" o rebocador «Bérrio» (1897-1947) "terminou a sua vida com cinquenta anos de serviço" mas nesta informação é difícil distinguir se se referem ao fim da ligação à Marinha, mudança de nome ou ao desmantelamento físico do navio. Por isso não sei se o Bérrio teve algum uso em Moçambique a partir de 1947, facto é que como falaremos no artigo seguinte nesse ano chegou a Moçambique o NH Almirante Lacerda para substituir o Bérrio.
Estes dois navios foram especificamente preparados para hidrografia. Mas como os oficiais de Marinha eram treinados para levantar cartas marítimas desde há muito que elas eram feitas em Moçambique. Segundo João Freire em estudo sobre esse oficial de Marinha por exemplo em 1869, Augusto de Castilho, futuro Governador-Geral"por encomenda do governador-geral, Castilho procedeu a levantamentos hidrográficos na barra e ancoradouro do rio Inhamissengo e bocas do Zambeze, bem como à balizagem do rio Luabo", e há registo de mais actividades desse tipo em Moçambique, caso do levantamento hidrográfico do rio Zambeze por João de Azevedo Coutinho em 1889 na lancha Cherim, do levantamento do estuário do Espírito Santo por Eng. Neuparth preparando as obras do porto de LM cerca de 1897 e das sondagens para o porto de LM dirigidas precisamente pelo na altura Capitão Tenente Lacerda no início do século XX. Note-se que o site MGP fala dum navio VR 32. "General Marinho - Rebocador da província de Moçambique que em 1904 passou ali a navio-hidrográfico. Em 1908 foi julgado incapaz para o serviço hidrográfico" e por isso pode ter sido o primeiro dedicado.

Sobre o nome Bérrio, foi o de uma das naus da esquadra de Vasco da Gama que abriu o caminho marítimo do ocidente para a Índia passando por Moçambique e foi depois sendo dado a diversos navios da marinha de guerra portuguesa. A sua última encarnação foi a partir de 1993 num navio re-abastecedor que como foi abatido em 2010 deixou sem uso por enquanto esse histórico nome.

PS: COLÓQUIO PORTUGAL E A I GUERRA MUNDIAL (1914-1918), A MARINHA PORTUGUESA EM 1914 - autor: BESSA PACHECO
"Além das campanhas essencialmente realizadas no âmbito da ação militar, a afirmação da soberania nacional sobre os territórios ultramarinos fez-se através da delimitação de fronteiras e da produção de cartografia terrestre. Ainda a regionalização de canhoneiras e lanchas-canhoneiras em África lançou as bases para a realização massiva de levantamentos hidrográficos costeiros e portuários, cujos dados serviram para produzir as cartas náuticas dos territórios. A figura mostra, pontualmente, os locais em Moçambique, em Angola e na Guiné, onde foram realizados os principais levantamentos hidrográficos, desde meados do século XIX até 1910. Estes levantamentos, e correspondente produção cartográfica, foram relevantes na defesa dos interesses nacionais por serem internacionalmente reconhecidos como um dos principais instrumentos de demonstração de soberania".
Inúmeros levantamentos feitos
na costa e rios de Moçambique

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