Fotos de Harrison Forman: tanques em Moçambique ou não ?

Esta foto que aparece aqui reproduzida do site da UWM (AGSL DIGITAL PHOTO ARCHIVE: AFRICA) foi tirada por Harrison Forman em 1961:

FOTO 1
Legenda original: "Mozambique, women walking past oil tanks" (UWM)

Para lá da legenda que vemos em cima, informação adicional no site da UWM é "Mozambique: Oil tanks" pelo que do lado da UWM parece inequívoco que a foto fosse de Moçambique. Na práctica seria de Lourenço Marques (LM), actual Maputo e seus arredores pois parecem ser daí todas as fotos sobre indústrias que Forman tirou em Moçambique.
Mas eu não conhecia esse local e olhando com atenção para a foto não encontro outras referências seguras que fosse de lá. Tive então certa dúvida para mais que e como se verá no artigo seguinte no site da UWM (AGSL DIGITAL PHOTO ARCHIVE: AFRICA) estão erradamente identificadas como sendo de Moçambique algumas fotos que são de Angola (principalmente Luanda ou seus arredores) e vice-versa. Mas também não posso dizer que a FOTO 1 seja de Luanda porque não conhecia bem essa cidade.
Referi antes a história da zona industrial do Língamo (corruptela de Lingham) que fica no litoral do estuário entre LM e a Matola, onde inicialmente houve estâncias e serração de madeira, uma fábrica de moagem e um armazém frigorífico. Sabe-se que depois, nos anos 30 foi aí construido o cais de petroleiros (porto para navios tanque com depósitos de combustível associados em 1936) e nos anos 50 foi instalada a refinaria de petróleo. Esses dois elementos relacionam-se com depósitos de combustível e como a zona do Língamo é plana, seca e com pouca vegetação como parecia ser era a da FOTO 1 a hipótese que coloco é então que a FOTO 1 seja do Língamo, para mais que Forman passou por lá tendo fotografado a dita refinaria da Sonefe e a fábrica de cimento.  
Procurei então no google maps se restaria por lá algo dos tanques da FOTO 1 e de facto encontram-se quatro mais estreitos e outros mais largos para o interior desses (seriam os da fiada do número 7 na FOTO 1) e também outro ou outros dos mais largos para o fundo. Por isso há certa correspondência mas também uma diferença pois na FOTO 1 havia espaço livre para a direita do tanque número 7 e tal agora não aconteceria pois há uma terceira fiada mais afastada da rua. Mas essa fiada pode ter sido instalada depois de 1961 pois passaram quase 60 anos desde o tempo da FOTO 1, o estranho não será ter havido modificações em relação ao que existia mas elas terem sido tão poucas pois assumo que há muito estes tanques tenham ficado obsoletos. 
Vejamos então essa zona que pode ser a da FOTO 1 mais de perto e mais de longe para nos orientarmos 

MONTAGEM 1 (sul para cima)
Laranja: possível localização da estrada ao lado dos tanques da FOTO 1
Roxo (parte superior da foto da direita): cais de minério 
Mancha azul: estuário mais próximo dos tanques
Seta preta: direcção para a fábrica moageira CIM que ficaria no quarteirão ao lado dos tanques e da Matola Rio que ficaria a uns kms de distância

local da FOTO 1 seria então no interior da zona industrial do Língamo e junto a uma das duas suas vias principais de acesso e que saem da estrada velha da Matola, actual Av. da Unidade Africana (seria a desta entrada mas na recta depois duma curva, note-se que outra a entrada onde está o pilone dos cimentos fica um pouco mais para o lado da Matola Rio). O estuário mais próximo desses tanques estaria então para a esquerda = leste e para a frente = sul. 
Se assim tiver sido as senhoras estariam a caminhar com as costas viradas para a estrada velha e em direcção ao cais do minério. Presumo que Forman tenha achado a combinação humana e técnica, as cores, luz e sombra e perspectiva interessantes, tenho a impressão pelo trajo da senhora que seguia à frente que seria um domingo e que elas podiam ter vindo da missa do lado da Machava..
Uma das dúvidas que tinha em relação à FOTO 1 era se a marca TOTAL esteve implantada em Moçambique (e/ou em Angola em 1961) e não tem grande significado mas pelo menos agora há algo da gasolineira TOTAL na zona
Para verificar melhor a hipótese da FOTO 1 ser no complexo petrolífero do Língamo (o nome que Forman dá para esta foto) fui ver se encontrava esses tanques em fotos da zona dos anos 60/70:

MONTAGEM 2
Refinaria e tanques de combustível no Lingamo
 vistos de diferentes ângulos e a distâncias variáveis

Mesmo não sendo muito claro, à primeira vista não encontro nestas quatro fotos um grupo de tanques isolado, concentrado e alinhado como o da FOTO 1 mas como vimos em cima provávelmente eles estavam mais próximos da fábrica da CIM do que da refinaria. Como esta deve ter sido desmantelada também não sei onde ficava exactmente no espaço actual e por isso qual seria a orientação / posição precisa destas quatro fotos em relação à FOTO 1.
Para eliminar a hipótese da FOTO 1 ser na região de LM, actual Maputo mas não ser no Língamo, lembro-me que em LM havia dois grupos de depósitos na zona ocidental da Baixa, relativamente próximos e perto do cais (como seria de esperar) e fui verificar:

MONTAGEM 2
à esquerda: depósitos do lado de fora da Estrada das Estâncias,
abaixo da barreira do Alto-Maé / Malanga
à direita: depósitos no recinto do porto entre o cais de açucar e as traseiras da estação

Não me parece que estes depósitos na Baixa de LM fossem os da FOTO 1, porque nestes dois locais o espaço envolvente parecia mais apertado, os depósitos da foto da esquerda eram da CALTEX e não da TOTAL e os da direita que ficavam próximo do cais pareciam ter outro formato e/ou disposição de conjunto e nem sei mesmo se seriam de combustível.
Concluindo acho agora muito provável que a FOTO 1 tenha sido tirada por Forman no Língamo e no local que indiquei na MONTAGEM 1 e por isso que a indicação da UWM de que era foto de Moçambique está correcta, mas certeza não tenho.
No próximo artigo veremos então casos de fotos que estão relamente trocada entre as duas cidades no arquivo da UWM.
Texto do livro Manual of Portuguese East Africa Cornell University Library (Internet Archive)
"Matolla: A few miles to the north is the Matolla, which can be navigated by small vessels as far as Port Matolla, about 15 miles up the river. Here a timber company erected a small pier, with cranes, warehouses, and sheds, and connected the place with the Swaziland and Transvaal lines by a railway 4 miles in length. Other companies, such as the Lourenzo Marques Milling Company and the North American and African Cold Storage Company, also erected buildings; but in April 1914 the whole property was purchased by the Government for £57,000, and at present is used as a depot for explosives and inflammable goods".

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