John Orr's em LM - projecto e construção do último edifício (5/9)

Continuamos a falar dos grandes armazéns John Orr na sua maior e última localização na cidade de Lourenço Marques, actual Maputo tendo aqui falado da primeira na Rua Consiglieri Pedroso.
Na primeira foto o edifício aparece de novo à esquerda e visto de lado e com aspecto muito semelhante ao que tinha na primeira foto do artigo anterior, nos dois casos ainda sem os reclames luminosos na fachada que apareceram mais tarde:

FOTO 1
Fachada principal do John Orr nos anos 50 na Av. da República, 
actual Av 25 de Setembro com o poente para o fundo

Segue-se uma foto em que se vê, e tal como na que vimos aqui, para além da fachada principal também a fachada lateral a poente = virada para a Travessa da Maxaquene e à data da sua inauguração que foi em Abril ou Julho de 1953:




FOTO 2
John Orr na Baixa de LM com R/C e dois pisos superiores em 1953

Esta foto faz parte da reportagem da inauguração do estabelecimento publicada no jornal LM Guardian aqui utilisada por cortesia de Paulo Azevedo. O repórter do jornal realçava a modernidade das instalações e quanto à sua construção os dados principais eram: "o edifício foi desenhado pelos arquitectos sul africanos Cook e Cowen, os responsáveis da obra foram os engenheiros moçambicanos V. B. da Silva Carvalho e J. Galhardo Ferreira; os construtores foram Raimundo dos Santos Moreira e Manuel Silva Sucena; possuia os elevadores de alta segurança Waygood-Otis; os vidros polidos das montras foram fornecidos pela Zuid-Afrikaansch Handelshuis; os pavimentos em borracha da Armstrong Cork C. pela firma P. Santos Gil, Lda; as portas, espelhos, montras e vidros pela Sociedade de Ferragens e Vidros; e as letras metálicas executadas por Paulo Pinto dos Santos". 
Continuava essa reportagem: "As mobílias e armações das montras foram executadas com madeiras fornecidas pela Serração Mecânica, Lda; outros materiais de construção foram adquiridos à Hillman Bros, (L. M.) (Pty) Ltd; as oficinas Madruga forneceram todo o material do rés do chão e procederam à montagem dos «stands" (mostradores); os mármores do revestimento das fachadas, escadas e pisos foram da firma «Mármores e Granitos, (Moc.) Lda"; a 'Metalúrgica de Moçambique de Neto & Santos, Lda. forneceu os trabalhos em ferro forjado; J. M. Macedo forneceu o mobiliário do 1.° andar; e a Agência Mercantil montou as instalações da luz e respectivo material bem como os elevadores de carga da marca « Werrman Williams". O custo total do projecto tinha sido de 20 000 contos"
A construção e acabamento do edifício teve então importante participação de profissionais e firmas locais mas olhemos para os arquitectos sul-africanos. Conforme se pode ver no site especializado artefacts o gabinete de Cook e Cowen formou-se em 1927 em Jo'burg, nos anos 30 fizeram inúmeros projectos na sua grande região no estilo art deco mas nos anos 40 voltaram-se para o estilo modernista. Pode dizer-se que foi esse o estilo que seguiram em 1953 para o John Orr de LM e parece-me com alguns elementos de brutalista que era novidade na época e que acabou por não ser muito popular na cidade. Nas fachadas à vista nas FOTOS 1 e 2 notam-se linhas verticais e principalmente as horizontais, estas vincadas por largas ombreiras das janelas relativamente estreitas, mostrando preocupação com o controlo de luz e temperatura. Tratar-se de um edifício para exposição e venda duma grande variedade de artigos terá também sido relevante para o seu desenho e aspecto exterior. Mas note-se que mesmo na parte da traseira que se viu aqui e que teria outro uso, embora o formato das janelas tenha sido modificado as características principais do desenho mantiveram-se.  
Um ponto também a notar é que no desenho do edifício nada o ligava a Portugal ou ao que seria o gosto arquitectónico português, nem o mais clássico nem o mais popularucho que António Ferro tentou impor e que veio a ser conhecido por "português suave".  

Sobre o assunto da arquitectura, a segunda questão que me coloquei foi se a do John Orr de LM teria alguma ligação à dos edifícios anteriores da firma na África do Sul, o que fica para análise no próximo artigo desta série.

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