Falaremos numa série de artigos sobre o porto de Lourenço Marques (LM), actual Maputo desde a sua criação cerca de 1885 até cerca de 1903, ano em que a ponte-cais Gorjão foi inaugurada.
À zona que abordaremos primeiro chamava-se genéricamente Cais da Alfândega e como veremos nestas fotos cerca de 1900 ele era formado por uma plataforma (terraço) de forma rectangular construida em alvenaria que servia para armazenamento de mercadorias. Do seu lado norte essa plataforma estava ligada a terra e, do seu lado a sudoeste, partia dela uma ponte penetrando no estuário. Foi por esta zona que tinha começado o porto de Lourenço Marques (LM) pois antes disso o desembarque dos navios era feito na praia tendo-se no início dos anos 80 do século XIX feito uma pequena ponte de madeira que vimos aqui e que ficava em frente ao actual edifício da Universidade Mondlane / Ministério do Comércio do lado poente oeste da Praça 25 de Junho, antiga 7 de Março.
Mas mesmo depois deste Cais da Alfândega ter sido construído, os navios continuavam a fundear no estuário, os seus passageiros desciam para embarcações pequenas e as mercadorias eram movimentadas pelos paus de carga dos navios para barcaças e esses dois tipos de embarcação dirigiam-se para esta zona, os passageiros para a PA e as barcaças para o CA. Na FOTO 1 reproduzida do livro a História do Caminho de Ferro de Alfredo Pereira de Lima à direita vê-se a escadaria para se subir / descer da PA para as pequenas embarcações (lanchas) que chegassem à PA (vê-se melhor aqui nas duas primeiras fotos) e nas FOTOS 2 a 5 deste artigo vê-se uma escadaria para se subir / descer do CA para as barcaças que lá acostassem.
FOTO 1
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legenda de APL: Primitiva ponte-cais em 1900 |
A legenda inscrita no canto inferior esquerdo da FOTO 1 dizia "harbour west = porto para oeste" o que devia significar vista do porto para oeste. De facto e como veremos adiante esta foto deve ter sido tirada da Ponte de Passageiros (PP), outra estrutura construida presumo que numa fase posterior à da construção da primeira PA. Essa PP estava colocada mais para leste na CA o que acontecia ser o extremo a leste das instalações portuárias e era mais penetrante no estuário do que a Ponte (do cais) da Alfândega (PA) que se via na FOTO 1. Por isso na FOTO 1 a PA aparecia recuada (para terra) em relação ao fotógrafo e via-se ai a totalidade da costa norte do estuário onde existiam instalações portuárias e/ou de caminho de ferro.
Passamos a outras fotos em que vemos o Cais da Alfândega própriamente dito. Como disse o CA era um plataforma tinha forma de rectângulo, do lado sul = mais profundo no estuário e que não se via na FOTO 1 saía a PA da FOTO 1. Parece-me que era o lado poente dessa plataforma que era mais usado como cais, tendo em conta a concentração aí de guindastes. A explicação é que esse lado estava mais protegido da ondulação que vinha da baía para o estuário.
Nas três fotos seguintes estaremos a olhar para sul ou para sudeste pois na outra margem do estuário vê-se a Catembe e para a esquerda das fotos fica a ligação entre o estuário e a baía. Nelas vê-se a referida plataforma em alvenaria que suponho derivasse da ponte que estava em construção em 1889/90 (ver no artigo 21) e que tivesse sido depois alargada para o lado nascente = leste e talvez para sul (ver o estado em data já próxima de 1900 no artigo 23). No entanto não sei quando esse alargamento terá tido ligar por isso nalgumas das fotos, as mais antigas, aquilo que chamo a plataforma do CA podia ser estreita na dimensão este - oeste. Quanto à sua dimensão norte (lado de terra) - sul (lado do estuário) ela pode também ter seguido fases mas por exemplo nas fotos que vemos neste artigo estava estável.
Na FOTO 2 seguinte do canto a SW da plataforma do CA vê-se bem a projectar-se para dentro do estuário um espigão feito de ferro e de madeira que era a PA que aparecia na FOTO 1.
FOTO 2
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| Limite da plataforma de alvenaria do lado oeste = poente = montante com barcaças no estuário a nível inferior. Ponte para a direita da escada. |
Na foto de cima estão os primeiros guindastes do porto montados e como disse penso que este lado do CA era o mais usado para as cargas e descargas. Estão aí 4 guindastes a operar mas o lado do CA virado a sul, apesar de receber mais ondulação do lado da baía e do centro (mais fundo) do estuário, também devia ser usado para descargas pois vê-se dois guindastes desse lado (os quais aparecem aqui vistos quase de costas). Estes guindastes funcionavam a vapor como se vê pela caldeira com chaminé por trás do operador e movimentavam para cima da plataforma as mercadorias trazidas (ou levadas) pelos batelões.
Segue-se outra foto desse local e tirada em direcção semelhante mas de posição um pouco mais recuada. Nota-se que as FOTOS 2 a 5 foram tiradas de cima dum muro de suporte de aterro (e neste caso também muro-cais) construido para o lado oeste = poente da plataforma do lado de terra.
FOTO 3
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Canto artificial formado no estuário entre o muro de suporte feito sobre a praia e o lado a oeste da plataforma do CA (perpendicular ao muro, na direcção norte - sul aprox) |
Na foto seguinte foi marcada a "vermelho" a escadaria feita em pedra ligando os níveis da plataforma e do estuário para subida e descida principalmente dos tripulantes das barcaças e que se via melhor por exemplo na FOTO 3. Esta escadaria ficava no canto a SW da plataforma, perto de onde a ela se ligava a Ponte da Alfândega.
FOTO 4 (SZ photo)
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| Foto deve ter sido tirada com ângulo de cerca de 45% em relação ao lado virado a poente da plataforma e de dentro duma da barcaças vendo-se a escadaria mais de frente |
E a seguinte e última foto foi tirada de ângulo semelhante à anterior mas de ponto mais elevado e mais recuado. Talvez porque a maré tivesse baixado, nota-se melhor do que nas FOTOS 2 e 3 a diferença de altura entre o alto do muro-cais onde o fotógrafo se posicionou e a praia em baixo:
FOTO 5 (SZ photo)
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| Laso a poente = W da plataforma em alvenaria do CA com escadaria junto ao canto a SW Ponte (do Cais) da Alfândega saindo por aí da plataforma para sul |
Com a FOTO 5 compreende-se que a ponte-cais definitiva do porto, atracável para grandes navios, não podia ter sido feita por onde estas FOTOS 2 a 5 foram tiradas, mesmo que se fosse umas dezenas metros para a frente (sul) da praia onde estão os dois senhores não seria suficiente. Seria necessário penetrar-se muito mais no estuário para haver profundidade, qualquer que fosse a maré, para os navios de maior calado poderem atracar directamente nesse cais.
Outro elementos que aqui se observam:
- estas fotos não deixam ver claramente se a ponte da Alfândega tinha forma de um "L" em que a parte mais curta estaria na extremidade a sul e virada para montante no estuário ou seja para a direita. Mesmo na FOTO 1 que mostra essa parte mais de perto não se vê esse "L", na FOTO 3 também parece que não há "L" mas há outras em que parece que sim mas que seria com a base curta;
- pode ver-se nas FOTOS 3 e 5 um lampião na extremidade da ponte que corresponde ao da FOTO 1;
- a Ponte da Alfândega era suportada por estacas verticais em madeira que eram estabilizadas por peças cruzadas mais finas que pareciam ser metálicas;
- como dissemos nas FOTOS 2 a 5 via-se guindastes na plataforma de pedra virados para o canto artificial formado neste ponto do estuário (lado W da plataforma) e dois outros no lado virado a Sul ou seja para a parte mais funda do estuário. Nas FOTOS 4 e 5 viam-se também guindastes sobre a PA que pareciam mais ligeiros que os primeiros.
- como já dissemos antes estas fotos não deixam ver que largura teria a plataforma do CA, se seria ainda a da ponte que estava aí em construção em 1889/90 que vimos aqui ou se e quanto teria sido alargada daí para leste = jusante no estuário = lado da baía.
Noutros artigos sobre o Cais da Alfândega cerca de 1900 veremos mais completamente a sua plataforma em alvenaria, um terraço que se elevava uns 5 metros acima do nivel da água na sua extremidade mais a sul.
Série completa aqui sobre o desenvovimento do porto até ao início do século XX.
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