Continuando o artigo anterior evocando principalmente geográficamente a vida de Eugénio Lisboa, "uma das mais marcantes personalidades da vida cultural portuguesa" segundo o CNC.
Como disse antes, Eugénio nasceu em 1930 em Lourenço Marques, actual Maputo e viveu nesta zona do Alto-Maé até ter com 17 anos de idade ter terminado o Liceu e partido para a Metrópole para seguir estudos universitários de Engenharia.
Uns oito anos mais tarde, já formado, com alguma experiência profissional e actividade cultural de algum relevo regressou a LM onde foi quadro superior da petrolífera Total e segundo penso viveu, pelo menos a certa altura, na zona central da cidade. Essa fase da sua vida é descrita no terceiro volume das sua memórias, Acta Est Fabula Memórias III Lourenço Marques Revisited (1955-1976).
Começo com uma foto que deve ser de entre meados dos anos 50 e a primeira metade dos anos 60.
FOTO 1
À direita, na FOTO 1 vê-se na esquina a Cervejaria Imperial e depois a Casa das Tias de Eugénio Lisboa. Não se vê mas à frente delas do lado norte da avenida e por isso à esquerda da foto para trás da fiada de árvores mais baixas estava o passeio do lado do Bazar Rajá.
As residências onde a família de Eugénio cresceu ficavam junto ao Largo Albasini, por isso uns 300 a 400 metros para a esquerda do cruzamento que aparece na FOTO 1. Pela descrição dum acidente que com um motociclista que flahou a curva no largo e tombou para o jardim duma dessas casas presumo que essa tivesse sido por onde está agora esta construçãoque terá sido edificada depois dessa área ter sido aterrada.
Em relação ao que se conheceu em tempos mais recentes, a FOTO 1 mostra certamente a zona da Casa das Tias em estado mais próximo do que teria tido quando Eugénio era jovem, mas não sei se desde os anos 30 até ao início dos 60 teria havido grandes alterações ou não.
Mas sobre a evolução da zona lembro que até cerca de 1936, por isso até Eugénio fazer 6 anos, ela era servida por carro eléctrico. Curiosamente, com atenção vê-se ainda na FOTO 1 o respectivo abrigo, o qual foi depois demolido e que era do mesmo do tipo do que se vê aqui e que está ainda na Av. 24 de Julho.
Lembro também que nos anos 20 existia um fontanário colocado mais ou menos ao centro do cruzamento na FOTO 1 e que foi mostrado aqui. Não sei se quando Eugénio nasceu ele existiria ainda mas isto serve para que neste flash-back sobre a sua vida por estas paragens termos consciência de que apesar da Casa das Tias se ter mantido até hoje a envolvente física se modificou muitíssmo (e é óbvio que depois da independência o ambiente social ainda mais!).
A FOTO 2 seguinte é um bom indicador dessa evolução pois mostra à direita também o primeiro grande quarteirão da antiga Av. Pinheiro Chagas. Foi tirada uns 50 a 60 metros para a frente donde foi tirada a FOTO 1 e a FOTO 2 será de meados dos anos 60 para a frente. É visivel na FOTO 2 uma mudança radical na zona relativamente à FOTO 1, as árvores existentes anteriormente tinham desaparecido e as faixas de circulação na avenida e as suas divisórias tinham sido completamente alteradas.
FOTO 2
Também no fim da Av. Pinheiro Chagas vinda da direcção da Polana
com a Casa das Tias no limite à direita da foto
Na FOTO 2, ao lado para leste, da Casa das Tias está o prédio do Bota Alta que nâo existia ao tempo da FOTO 1 e que por isso lhe tem de ser posterior.
Na FOTO 2 a Casa das Tias tinha a varanda central no 1o andar, a qual chegou aos tempos presentes como se vê na foto seguinte tirada cerca de 2011 e depois da reabilitação:
FOTO 3
Casa das Tias à direita e vista completa do quarteirão cerca de 2011 foto original do HoM - clique para aumentar |
Por fim mostro a Casa da Tias representada por Dana Michahelles de 1973 em desenho reproduzido do livro de Eugénio Lisboa:
Concluo assim esta simples evocação póstuma de Eugénio Lisboa tendo para isso mostrado a casa das suas tias e a zona de Lourenço Marques onde ele viveu até partir para Lisboa em 1947.
Evocação do PR de Portugal M. Rebelo de Sousa: "Crítico e ensaísta com igual gosto pela valorização dos autores menorizados e pela contestação aos canónicos, Eugénio Lisboa, nascido em Lourenço Marques em 1930, foi uma figura decisiva da vida intelectual moçambicana antes da independência, escrevendo nos jornais e dirigindo suplementos; mostrou-se depois um muito ativo conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em Londres; e manteve, durante décadas, presença constante na imprensa portuguesa, num registo culto, idiossincrático, veemente.
Autor de coletâneas críticas marcantes como “Crónica dos Anos da Peste” ou “Indícios de Oiro”, e de abundantes escritos sobre José Régio e o presencismo, deixou-nos também umas memórias em seis volumes. E escreveu até ao fim, tendo editado há dias um livro de poemas.
Em 2019, recebeu do Presidente da República as insígnias de Comendador da Ordem de Sant’Iago da Espada.
À família de Eugénio Lisboa o Presidente da República, de quem era amigo desde os tempos de Moçambique e acompanhou de perto a sua vida literária, apresenta sinceras condolências e a sua homenagem."
NB: na FOTO 1 vê-se uma carrinha VW "pão de forma" da primeira geração a qual foi produzida de 1950 a 1967 por isso a foto não pode ser anterior a 1950 (e também não o parece ser).
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