Prédio residencial de 4 pisos na actual Rua da Munhuana e a antiga av. 31 de janeiro

Este é um prédio interessante que fica na actual Rua da Munhuana na parte a NE do bairro do Alto Maé. O seu desenho é tipico da arquitectura da cidade de Lourenço Marques, actual Maputo do fim dos anos 50 e início dos 60 do século XX.

FOTO 1
Foto original do HoM - clique para aumentar

Segue-se um perspectiva da Rua da Munhuana, olhando-se do lado da cidade do "cimento" para a do "caniço" e em que aparece o mesmo prédio para o fundo à direita.

FOTO 2
Rua da Munhuana com o prédio marcado a laranja à direita = norte

As duas fotos de cima são de cerca de 2011 e na altura a rua mais parecia uma estrada em macadame do que com piso de alcatrão. Mas é possível que enretanto tenha sido reparada, Inch'Allah!
A foto de baixo é da mesma altura das de cima e foi tirada no sentido oposto dando por isso a perspectiva da rua Rua da Munhuana olhando-se da Av. Ngouabi para o centro da "cidade do cimento". Para além da rua, o aspecto da zona também parecia desleixado, no mínimo. 

FOTO 3
Prédio à esquerda = sul na Rua da Munhuana vista para leste = nascente
a uns 80 metros duma estação de serviço

Como se pode observar a rua entronca neste ponto com a Av. Ngouabi, antiga Caldas Xavier por onde está(va) a estação de serviço da Petromoc (inicialmente de Manna). As duas vias fazem um ângulo agudo duns 40 graus porque se está no limite da quadrícula de planeamento da cidade, que a Rua da Munhuana respeita mas que a Ngouabi não porque esta é a antiga Estrada da Circunvalação que definia o limite da cidade de cimento numa circunferência centrada na Baixa e com parece-me 4 km de raio.
É por se estar nessa transição que nesta foto para a direita da rua da Munhuana teremos por exemplo a Casa de Educação da Munhuana, actual Universidade Católica (de que se vê à direita na segunda foto a o frontespício da parte que fazia esquina entre as avenidas João de Deus, actual Farinha e 31 de Janeiro, aqui a actual Rua da Munhuana) enquanto que uns 200 metros para a esquerda, está o bairro da Mafalala na cidade do "caniço" (aqui artigo sobre a dicotomia "cimento" e "caniço").

Um aspecto interessante é vermos nestas fotos da actual Rua da Munhuana devia ter sido o extremo duma das avenidas "horizontais" que cruzam a cidade de oeste para leste. como é por exemplo o caso da Avenida Dausse, antiga J(ota) Serrão que é a primeira paralela para sul, para a direita na foto de cima. No entanto como se pode observar aqui em google maps (aqui visto mais de perto) essa Av. 31 de Janeiro inicial acabou sendo interrompida no seu caminho para leste pela construção da antiga escola preparatória / secundária Joaquim de Araújo, actual Estrela Vermelha que veio ocupar o que deviam ter sido quarteirões separados da quadrícula. A nova extremidade a oeste depois da modificação da Av. 31 de Janeiro inicial, que manteve o nome de 31 de Janeiro e que é agora a A. Agostinho Neto, pode-se ser vista aqui (a norte dos antigos SMV) e depois a avenida passa por exemplo pela traseira do recinto do Hospital Central em frente a estes blocos.
Tal situação pode ser observada na foto seguinte de 2011 com a rua vista para leste = lado do centro da cidade dum ponto para a frente do da FOTO 3 e para trás dos das fotos 1 e 2:

FOTO 4
Actual Rua da Munhuana vista para leste = nascente
Longe, mais para a frente na mesma direcção fica a Av. Neto, antiga 31 de janeiro

Nesta foto vê-se bem que para o fundo, a uns 300 metros ou 3 quarteirões, na abertura corespondente à direcção da rua da Munhuana aparecem árvores as quais estão no recinto da referida escola. Isto mostra que a rua é aí interrompida e nessa pequena secção, a partir do cruzamento com a antiga Av. Luciano Cordeiro, actual Luthuli ("verde" em baixo). Curiosamente a rua da Munhuana a partir daí passa a chamar-se Eng Ferreira Maia, pelo menos ainda está assim no Google Maps, a qual depois vira a norte "vertical" mas só por mais uns 90 metros (faz o canto a SE desse quarteirão).
Podemos seguir melhor o que se passou com a Av. 31 de Janeiro inicial, como dela surgiu a Rua da Munhuana actual e a Ferrira Maia e mais elementos de interesse em quatro plantas da cidade, representando-a de 1925/26 aos anos 70:

PLANTAS de Lourenço Marques no século 20 (clique para aumentar)
Amarelo: Estrada da Circunvalação, depois Av. Caldas Xavier e actual Ngouabi
Vermelho: Av. 31 de Janeiro completa até à planta de 1956 inclusivé, 
que ia da circunvalação (à esquerda = Alto - Maé) para o lado da Polana (Hospital)
Vermelho e preto: Av. 31 de Janeiro encurtada nos anos 60/70, ia só do Bairro Central para a Polana
Vermelho e branco: Rua da Munhuana, foi a parte mais a leste da 31 de Janeiro inicial
Castanho claro: Rua Eng. Ferreira Mais, na continuação da Rua da Munhuana
 por uns 70 metros, também fez parte da da 31 de Janeiro inicial
Verde claro: recinto da escola preparatória / secundária Joaquim de Araújo, actual Estrela Vermelha
Verde normal: Av. Luciano Cordeiro, actual Luthuli, a que mais para sul 
passa em frente ao Aga Khan e à sede do Ferroviário
Laranja: Av. Freira de Andrade, actual Barre
Quadrado azul escuro e seta preta: ver a seguir
Cruz preta: sobre a continuação da Av. Freire de Andrade, ver a seguir
Outras cores: outras avenidas, horizontais e "verticais",
 correspondendo-se em todas as cartas
Oval cinzento claro: uma rua da Munhuana diferente da actual em 60/70, 
como se chamaria a actual?

Outro aspecto interessante revelado aqui é que a carta de 1925/26 estava errada no que respeita à posição da Igreja e Escola da Munhuana do quadrado "azul escuro". Essas instalações aparecem aí como estando imediatamente a leste da avenida "verde normal" (antiga Luciano Cordeiro, actual Luthuli) enquanto na realidade sempre estiveram um quarteirão para oeste disso. De facto esse é a única carta com esse erro, as instalações aparecem correctamente nas cartas seguintes ao lado = a oeste da "carmesim", antiga João de Deus, actual Farinha. A "seta azul escura" representa então a correcção que devia ter sido feita na carta de 1925/26.
Relacionado com essas instalações da Igreja e Escola da Munhuana nota-se também que até à carta de 1956 estava planeado que a avenida "laranja" (Freire de Andrade, actual Barre) fosse até a estrada da Circunvalação "amarelo" mas de facto ela ficou interrompida no quarteirão anterior como se vê aqui e já aparece na carta dos anos 60/70. Se esse plano tivesse sido cumprido a parte complementar dessa avenida passaria pelo centro da "cruz preta" das três primeiras cartas, entre estes prédios e a escola da Missão da Munhuana.

Por fim e quanto ao que se vê aqui de que a actual Rua da Munhuana junto à escola se passa chamar Eng. Ferreira Maia, esse topónimo homenageava um dos iniciadores da cidade moderna. O Eng. Ferreira Maia foi dos engenheiros principais da Expedição da Obras Públicas chefiada pelo Major (depois General) J. J. Machado de 1877 de que falo aqui. Foi ele que desenhou o primeiro plano da cidade, o radial que acabou por ser substituido um pouco mais tarde pelo da quadrícula do Major António José de Araújo, e foi também ele que projectou o primeiro hospital que ficava na zona da praça Mousinho, actual da Independência e que foi demolido nos anos 40/50 do século XX (20).

Comentários

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Rogério Gens disse…
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