Construção da 1a ponte-cais Gorjão em madeira frente à estação dos CF - inauguração com o Swazi em 1903 (4/6)

Conseguimos agora uma foto de melhor qualidade do navio Suazi inaugurando a ponte-cais Gorjão em Lourenço Marques (LM), facto de que tinhamos tido conhecimento na História dos Caminhos de Ferro de Alfredo Pereira de Lima. A nova foto é dos irmãos Lazarus e disponibilizada pelo Centro Português de Fotografia (CPF) que a identifica como sendo do "Cais Gorjão em Lourenço Marques em 1904", data que a própria foto indica ser ligeiramente diferente. 
É importante termos esta foto datada porque a construção do porto decorreu durante muitos anos a partir de 1902 e a maioria das fotos que temos no ACTD/IICT não tinham datas, a certa altura (depois de 1907) as estacas de madeira usadas inicialmente foram substituidas pelo que se pode confundir a construção inicial com a reconstrução. Para além disso há poucas dessas fotos mostrando ao mesmo tempo a nova ponte-cais acostável a grandes navios e as instalações para o lado de terra pelo que não é fácil associar as fotos aos textos e mapas cobrindo (mais ou menos) a evolução da sua construção e por isso de a compreender visualmente.

FOTO 1
Cais Gorjão com o vapor SWAZI atracado, em Agosto de 1903
Primeiro cais acostável a grandes navios em LM.

Esta foto leva-nos, muito presumívelmente, a datar para o mesmo mês a FOTO 2 seguinte que é reutilizada deste artigo no qual tinhamos referido a possibilidade de se estar aí a ver o Swazi. Pelo formato geral do navio, pela sua distância em relação ao bate-estacas que continuava a construção da ponte-cais para o lado nascente = leste que se vê ao fundo também na FOTO 1 e pela sua posição em relação ao ponto em que o novo cais começava a curvar para a orla do estuário, confirmo que muito provávelmente na FOTO 2 estava o Swazi. Isso é importante porque significa que a maioria das outras fotos que estão na mesma pasta do ACTD/IICT (Caes Gorjão de Author: autor não identificado sobre elas ver aqui primeiro de dois artigos) serão da construção inicial da primeira ponte-cais acostável a grandes navios que ocorreu entre 1902 e 1903 e do que não se tinha a certeza.

FOTO 2
Parece confirmar-se tratar-se do Swazi, atracado à direita = para sul
no novo cais em construção em Agosto de 1903

Tinhamos falado pela primeira vez do navio a vapor Swazi neste artigo sobre a construção da ponte-cais onde tinhamos colocado a foto seguinte retirada da citada obra de Alfredo Pereira de Lima.

FOTO 3
Swazi na inauguração da ponte-cais Gorjão em Lourenço Marques. 

Como se pode ver bem nas FOTOS 1 e 3 o lado de terra do cais estava à esquerda do navio o que em LM correspondia a estar para norte dele e por isso a sua proa estava virada a oeste = interior da terra. Os navio tinha então atracado no sentido e direcção com que tinha entrado no estuário vindo da baía. Para voltar para o mar teria de efectuar uma meia-volta. Combinando o que se vê nestas FOTOS 1 a 3 e assumindo que o navio Swazi tinha uns 80 metros de comprimento, estimo que nessa altura estivessem construidos ou em construção uns 150 metros de comprimento, longe ainda dos cerca de 500 metros que essa empreitada teria. Segundo o artigo do Eng. Vasconcellos e Sá na revista Portugal Colonial de 1903 a acostagem do Suazi que aqui se vê foi experimental e os resultados obtidos para esta secção foram positivos. A colocação ao serviço do novo cais terá ocorrido mais tarde.
A data das FOTOS 1 e 3 deve ser próxima se atentarmos por exemplo numa estrutura na ponte-cais e que devia ser um guindaste arcaico. Na FOTO 3 essa estrutura tem colocados uma superfície horizontal superior e um pau de carga, por isso devia ser uns dias posterior à FOTO 1 onde esses dois elementos não se viam.
Já falei da grande festa que houve na cidade com o Swazi inaugurando a ponte-cais o que me parece "justificado" dada a proeza técnica e o ganho de eficiência para o porto como explico de seguida. 
Quanto à primeira razão para a festa, este cais foi construido a talvez uns 150 metros da praia inicial e foi totalmente assente em estacas e foi um grande trabalho de engenharia. Podemos imaginar a altura total dessas estacas a partir do que delas tinha de ficar enterrado no leito do estuário para a estrutura ficar sólida, pela altura do casco que este navio teria (o seu convés quase ficava ao nível do cais por isso do topo das estacas) e pela margem que haveria entre o fundo do navío e o leito do estuário. Expliquei aqui relação entre a distância do cais à praia, a altura do cais até ao leito do estuário, o calado dos navios (ver na wikipedia) e altura deles fora de água. 
Quanto à segunda razão para a festa, navios destes inicialmente tinham de ancorar no estuário e toda a sua carga tinha de ser transladada para barcaças que vinham atracar nos cais anteriormente colocados mais perto de terra e por isso sem profundidade suficiente para grandes navios. Quer dizer o trabalho de estiva das mercadorias era o dobro do que passou a ser após a conclusão desta obra da qual resultou por isso um grande salto qualitativo para o porto.
Agora foto dum postal dos Lazarus com a ponte em construção. Dado o veleiro ao fundo a oeste (a obra foi feita de oeste para leste) presumo que fosse ainda a ponte em madeira:

FOTO  4
Bate-estacas em acção na Ponte-cais Gorjão de LM

Quanto ao navio Swazi, segundo o fantástico site de temas náuticos theshiplist, era em 1903 muito recente e pertencia à companhia Ellerman & Bucknall de que tinhamos falado aqui no HoM. Os seus dados principais é que era do ano de 1901 e tinha 4 941 toneladas (suponho que de arqueação e não de massa). Foi vendido em 1926 a uma companhia belga e redenominado Scheldrestrand mas com esse nome perde-se-lhe o rasto.
Duas fotos do Swazi em LM e a pintura de chaminé

As chaminés da companhia de navegação Ellerman & Bucknall eram decoradas com losangos claros em fundo negro, como se nota principalmente na foto da esquerda (FOTO 3).

Comentários

José Manuel disse…
nasci no Alto Maé há 66 anos amo a minha cidade e vim aqui descobrir história e fotos de LMaputo...autênticas relíquias...
Rogério Gens disse…
Caro leitor: Faço o possível deste lado. Cumprimentos.