Demarcação de fronteira com a ZAR em 1890 - EM, fotos e partida do campo 22 (23)

Numa sub-série de três artigos da série da demarcação de fronteira de 1890, falarei do (único) vogal estrangeiro da Comissão Portuguesa na qual os quatro membros eram engenheiros ou bacharéis em engenharia. Tratava-se do italiano Elvino Mezzena (EM) a propósito de quem não encontrei informação escrita em português e focada em Moçambique e do lado transalpino nada que também se lhe refira (EM em Mozambico), o que me suscitou a curiosidade. Posso então adiantar que EM para além de ser o único estrangeiro seria também o único membro que não tinha antes tido vida militar, pelo menos profissionalmente.
Vejamos uma foto que aparecerá também mais tarde a propósito dos acampamentos mas está aqui com o objectivo de identificar as pessoas:


FOTO 1
Acampamento no Letaba (ACTD web_n4001)
Temos na FOTO 1 dois europeus, um dos quais é Caldas Xavier (CX) à direita e um desconhecido à esquerda. Esse não é Freire de Andrade nem Matheus Serrano (que conheceremos melhor noutros artigos) mas talvez pudesse ser Heron, o empresário das carretas. Mas parece-me ser a mesma pessoa o desconhecido que aparece na foto inicial da missão com o novo Governador-Geral Major Machado e nessa seria estranho que lá estivesse Heron e que dois dos membros da comissão tivessem ficado de fora (se só um seria preciso um para a tirar).
Por isso à esquerda da montagem seguinte coloco o desconhecido da FOTO 1 e à direita o da foto do artigo inicial e parto do princípio que será a mesma pessoa nas duas fotos e que será Elvino Mezzena (EM).


MONTAGEM - hipóteses de que seria mesmo senhor 
e de que seria Elvino Mezzena
à esquerda: em Incomáti / Ressano Garcia, da foto do artigo 3
à direita: no rio Letaba, da FOTO 1
Nestas duas paupérrimas imagens penso então que vemos Elvino Mezzena em 1890 em Moçambique mas não posso confirmá-lo pois não encontro na net outras fotos dele em grande plano. Todavia veremos na FOTO 2 o que parece ser confirmação definitiva.
Na foto da esquerda na MONTAGEM, tirada entre 1 e 2 de junho de 1890, quando o grupo "português" estava completo Mezzena estaria entre Freire de Andrade e o Major Machado e parecia indivíduo magro e baixo, pelo menos comparando com FA e o MM.
Quanto à foto da direita, pormenor da FOTO 1, partindo da sua legenda pode-se dizer pela carta de Jeppe (ver em baixo) que ela foi tirada entre os campos 19 e 21 junto ao rio Letaba, ou nos campos portugueses equivalentes que terão estado por essa zona.

TABELA do RELATÓRIO da COMISSÃO

Vamos supor que a FOTO 1 "Acampamento no Letaba" foi tirada no campo 21, pois é uma das possibilidades pela carta de Jeppe e parece a mais séria pelo que está na TABELA. Vê-se nesta que esse campo 21 foi estabelecido a 20 de julho de 1890 e que o seguinte, o campo 22, foi-o a 21 de julho. Sabemos também pela carta de Jeppe que na missão individual Mezzena (e isso fosse ele ou não o senhor da FOTO 1) partiu desse campo 22, o que é confirmado por FA na pág 34 do relatório ao escrever ".. encarreguei o engenheiro Mezzena de, partindo deste campo... Seguimos então para o campo 23". Como esse campo 23, foi estabelecido a 24 de julho então Mezzena deixou o grupo entre os dias 21 e no máximo 24 de julho de 1890 e a FOTO 1 deste artigo teria sido tirada poucos dias antes mesmo que não fosse exactamente do campo 21.
A intenção da missão individual de EM segundo FA escreveu no relatório nessa altura foi: "Achando vantajoso que fosse reconhecido o terreno que se acha junto da foz do rio dos Elephantes, encarreguei o engenheiro Mezzena de, partindo deste campo com dezoito carregadores, seguir até ali, onde dizia haver, e estavam registadas em Lourenço Marques, minas de cobre e prata, devendo depois seguir até ao Biléne e d'ahi para Lourenço Marques". Não sei o que FA quer dizer com as minas registadas, se seriam industriais ou artesanais / antigas / tradicionais mas que fossem conhecidas.
MS confirmou a informação de FA escrevendo: "O primeiro (membro da comissão) a separar-se tinha sido Mezzena que, de próximo ao rio Letaba, se propozera a reconhecer o curso do rio dos Élephantes ou Lipalule, até á sua foz". 
Quanto às fotos tendo agora ideia de como era Mezzena em 1890, torna-se fácil identificá-lo noutra foto da comissão:


FOTO 2
Legenda original: aldeia abandonada pelos capy (ACTD web_n3257)
Temos então nesta foto Elvino Mezzena deitado à frente e o presidente da comissão portuguesa, Capitão Freire de Andrade, mais tarde Governador Geral de Moçambique, general do Exército e Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, atrás de óculos.
Os capy não são mencionados no relatório mas como são lá referidas várias aldeias abandonadas tentarei saber que local foi este, pois teria de ser antes do campo 22 (ou a como se diz a "a lógica é uma batata").
Continua no próximo artigo falando-se da missão individual de Mezzena em Moçambique em 1890 e começando-se a falar da sua vida anterior em Itália.

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