Demarcação de fronteira com a ZAR em 1890 - EM, exploração, licenciatura e demissão (24)

Elvino Mezzena (EM) de que começamos a falar com mais detalhe no artigo anterioré pouco mencionado no relatório escrito por Freire de Andrade (FA) e Matheus Serrano (MS) pdf aqui.
A primeira referência é a uma pequena exploração que FA descreve assim na pág 14 e que tinhamos referido aqui"... enquanto que o engenheiro Mezzena e major Caldas Xavier partiam para o Incomati, a fim de marcar a junção dos dois rios, indeterminada na carta. ... Effectivamente na madrugada seguinte (14 de Junho) partiam para a junção do Sabie e Incomati os srs. Mezzena e Caldas Xavier". O seu regresso deu-se a 20 de Junho porque segundo FA (na pág 20) ele e MS tinham ido determinar a posição do marco F e "voltávamos para o nosso acampamento (que seria o número 7), onde encontrávamos de volta da sua excursão ao Sabie, o engenheiro Mezzena e major Caldas Xavier". 
Depois do regresso de EM e CX do Sabie quando a comissão estava no campo 7, EM manteve-se no grupo até ao campo 21, possívelmente o campo onde estaria na FOTO 1 do artigo anterior, e ainda até ao campo 22 de onde partiu definitivamente.
As referências seguintes no relatório a EM são as que vimos no artigo anterior relativas à sua partida a partir do campo 22 para leste seguindo o rio dos Elefantes, separando-se definitivamente do núcleo da comissão de demarcação da fronteira que tinha ainda muito trabalho a fazer para norte, 
Depois a única referência e indirecta a EM é na página 62 do relatório onde FA diz que por volta de 11 de setembro de 1890 e numa fase da missão de que falámos aqui na "... povoação de Chicualla-Cualla ... encontrámos os homens que tinham ido com o engenheiro Mezzena para o Biléne, e que se achavam ali todos, à excepção de cinco que o tinham acompanhado para Lourenço Marques". Ficava-se assim daqui a saber que EM tinha chegado ao Bilene e que a parte principal da sua missão individual teria decorrido sem acidentes de maior e que tinha daí continuado para LM (ver NB1).
Isso está em linha com o que aparece na carta de Jeppe de 1892 que mostra o percurso efectuado por Mezzena como dissemos entre as últimas semanas de Julho e presumo que Setembro, do campo 22 no rio Letaba até Lourenço Marques:

Parte inferior direita da CARTA DE JEPPE de 1892 (clique para aumentar)
disponibilizada pela Universidade de Illinois
18 a 22: campos a sul e a norte do rio dos Elefantes e junto ao Letaba
Azul: rio Letaba, afluente do dos Elefantes (o da actual barragem de Massingir)
Verde claro: exploração individuas de Elvino Mezzena, 

na maioria ao longo do rio dos Elefantes
22: campo donde Mezzena partiu
Preto: Lourenço Marques, onde Mezzena terminou
Carmesim: kraal de Manjacaze de Gungunhana, que Mezzena terá ido visitar
Branco: Xai-Xai, por onde Mezzena passou
A carta mostra que EM seguiu o curso do rio dos Elefantes até à junção com o Limpopo, e seguiu depois este até ao Xai-Xai com pequeno desvio a Manjacaze tendo depois continuado até LM como previsto. Mas a carta não é suficiente para se saber se por exemplo EM encontrou e avaliou as minas que deveria investigar, é provável que ele tenha escrito um relatório com texto e gráficos da sua missão mas não os encontrei nesta procura rápida pelo assunto.
Sobre o que EM tinha feito antes da chegada a Moçambique, do relatório da comissão só ficamos a saber que era italiano e engenheiro. Como FA o enviou à procura de minas era de supor que EM estivesse ligado a esse sector e iremos aqui confirmando esses dados e hipóteses. 
Comecemos então a ver o que fez Elvino Mezzena antes de 1890 e no Boletim Oficial do seu Reino de Itália natal.
Primeiro podemos observar que sendo domicilado em Viterbo, Roma, se diplomou em 1885 em Engenharia Industrial no Instituto Superior Técnico de Milão e com a quinta nota mais elevada em 11 alunos. 
Mezzena Elvino, Engenheiro Industrial em 1885
 com boa classificação (83.63 em 100)
Temos então aqui uma primeira meia surpresa dado que Mezzena não era licenciado em engenharia de minas ou em geologia.

Outro documento que se encontra no arquivo do estado italiano indica que até 1890 era funcionário público, engenheiro de 3ª classe e que nesse ano se demitiu do posto e podemos confirmar no Boletim Oficial de Italia e com data mais precisa:
EM demitiu-se da função pública italiana a 6.2.1890.

Verifica-se aqui que EM só terá chegado a Moçambique em 1890 e a menos de três meses do início dos trabalhos da comissão. 
Quando FA foi nomeado de imprevisto presidente da comissão de fronteiras terá decidido integrar EM nela essencialmente de modo a que ele aproveitasse a "boleia" no seu percurso para norte para que depois pudesse seguir o rio dos Elefantes para leste e procurar minas no seu curso (e estando aí a demarcação da fronteira só a cerca de metade do total). 
É possível então que uma das intenções de FA ao organizar a primeira saída de EM ao Sabie, que durou menos de uma semana, acompanhado do mais calejado Major Caldas Xavier tivesse sido para fazer ganhar alguma experiência africana a EM antes de ser lançado nessa missão individual (embora FA não o refira no relatório). De notar que FA tinha a mesma experiência africana que EM, ou seja nenhuma, mas ia acompanhado de Matheus Serrano já rotinado nas problemáticas e geografias locais. 

No próximo artigo veremos mais do que se passou com EM em Moçambique e principalmente na Europa.

NB1: O pormenor do regresso dos treze homens após terem ido com Mezzena até ao Bilene dá ideia de que houve mais organização nos bastidores da missão do que a que FA relata. Teria de estar definido qual o local e data aproximada do re-encontro do grupo com o principal de FA, MS e CX o que implicava bom respeito do programa traçado pelas duas partes (e não havia telemóveis ainda ...). Para o regresso deste grupo de 13 homens vindos do tinha de estar definido quem o chefiaria, como e por onde se deslocariam, se alimentariam, seriam pago o soldo, etc. 
É também de pensar que havia fortes tensões ético-políticas na região e que se estes 13 homens ao viajar com a comissão oficial portuguesa tinham "salvo-conduto", ao ficarem isolados estavam mais sujeitos à instabilidade local. Os auxiliares da comissão sabiam pesar bem o risco / benefício do seu trabalho e não aceitariam que o risco aumentasse em relação ao previsto inicialmente, tendo tido no Bilene estes treze a opção de não ir a Chicualacuala e simplesmente de regressar ao sul. Dido isto para reforçar a ideia da necessidade de planeamento muito cuidado de todos os passos da comissão pois uma falha, nomeadamente a nível de gestão do pessoal auxiliar, podia ter consequências desastrosas para a sua realização.

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