Defesa de LM em 1894 - Rainha de Portugal, mais do navio e tripulação (13/14)

Como dissemos neste e neste artigo a guarnição desembarcada da corveta Rainha de Portugal teve a maior contribuição para a defesa da cidade de Lourenço Marques (LM), actual Maputo dos ataques dos revoltosos das Terras da Coroa na segunda metade de 1894. Podemos ainda dizer e mostrar algo mais mais sobre esse navio e a tripulação por essa época.

FOTO 1 (arquivo da marinha)
Corveta Rainha de Portugal, de propulsão mista a vapor e três mastros de velas

Este é o modelo da proa da corveta com a sua escultura em madeira:


Modelo de figura da proa feminina da Rainha de Portugal


Segundo o site os rikinhus a Rainha de Portugal foi construida pelos estaleiros ingleses de R.H. Green em 1876 e era da mesma classe que a Mindelo (alernavios) construida pelos estaleiros Thames Iron Works.
O site MGP diz: "10. "Rainha de Portugal": Em 1878 largou para a Estação Naval de Moçambique e em 1883 seguiu para a de Angola. Em 1894-1895 tomou parte na campanha contra o Gungunhana. Em 1898 desarmou e foi vendida em 1911".
Num artigo escrito por João Freire e publicado pela Academia de Marinha e sobre Augusto de Castilho que foi seu comandante, vê-se o seguinte sobre a corveta Mindelo, como dissemos que era da mesma classe que a Rainha de Portugal e por isso seria equivalente para as duas: "A Mindelo era uma corveta mista (a vapor e à vela) construída em Inglaterra em 1876: com caso de ferro e madeira, deslocava 1 100 toneladas, media 52 metros de comprimento e 10 de boca; a máquina a vapor (com 3 caldeiras) deitava 12 nós de velocidade e tinha um hélice de içar, em poço. Dispunha de castelo, mas não de tombadilho e apenas de uma ponte alta, por ante-a-ré do mastro grande. O armamento em 1890 passou a ser de 4 peças de 5” (127 mm) Armstrong de carregar pela culatra, às amuradas, e um rodízio de 177 mm, com alcances superiores a 3 km disparando granadas ordinárias, schrapnell ou lanternetas, e 1 metralhadora Nordenfeld. A armação vélica era em barca - 790 m2 (ver aqui em piratacorsário). Tinha escaler a vapor e outras embarcações. A sua lotação incluía 11 oficiais, sendo 6 de marinha, 1 médico, 1 de fazenda e 3 maquinistas; da mestrança, eram 13; das praças, eram 106 do corpo de marinheiros, mais 13 do fogo e 22 da taifa – num total de 165 homens, dos quais 154 alojando à proa, na coberta, e 11 à popa (HoM: os oficiais) em camarotes".
Vê-se na FOTO 1 que a Rainha de Portugal tinha entre os dois mastros maiores uma chaminé baixa. No entanto aqui e aqui era bem visível que essa chaminé era mais alta, alteração que presumo tenha acontecido posteriormente à FOTO 1. Para tirar dúvidas sobre se haveria engano na atribuição de fotos à Rainha de Portugal fui ver se com a corveta Mindelo teria havido a mesma alteração. Confirma-se que houve por exemplo com as duas fotos seguintes, a de cima da wikipedia e a de baixo do referido artigo de João Freire:

FOTO 3 em cima e FOTO 4 em baixo
Corveta Mindelo (da mesma classe que a Raínha de Portugal)
também teve mudança de chaminé baixa para alta


Como João Freire diz que o armamento da Mindelo foi alterado em 1890 suponho que terá sido nessa altura que se alterou também a sua propulsão a vapor pelo que a FOTO 3 seria de 1890 ou anterior e a FOTO 4 seria de 1890 ou posterior e o mesmo terá acontecido na Rainha de Portugal por essa altura. Como nos focamos aqui na presença desta em LM em 1894/95, nessa altura ela teria já sido alterada e teria a chaminé mais alta. Tal seria coerente com ter ficado com a máquina mais potente mas segundo os relatos da época não teria sido o suficiente para ser muito móvel. Por exemplo o novo Comissário Régio António Enes, bom dramaturgo, descreve assim a sua chegada a LM na corveta Afonso de Albuquerque a qual encalhou à entrada do estuário e por isso a Rainha de Portugal vem à colação: "Na madrugada seguinte desembarcámos no escaler a vapor d'um visitante. A Albuquerque lá ficou pegada ao fundo. Arriou laboriosamente as vergas, alijou artilheria e embarcações, recebeu esticões da Neves Ferreira e de quantos rebocadores havia no porto, e nada! Ao cabo de três dias foi safá-la obsequiosamente um cruzador allemão, o Cormoran, e a Rainha de Portugal, que também estava no fundeadouro, assistiu ás manobras, de longe, corrida da sua impotência. Tomara ella poder puxar pelo próprio casco!". E a fraqueza da Rainha de Portugal seria tão notória que uns cinco anos depois, pelo que diz o MGP, a corveta deixou de ser navio de guerra mas não sei o que passou a ser depois e em que local terá ficado.

Quanto ao pessoal da corveta Rainha de Portugal, segundo Eduardo Noronha (EN) no livro "A Rebelião dos Indígenas" era seu comandante em 1894 quando esteve atracada no porto de LM o na altura capitão de fragata Moraes e Souza e vimos aqui o papel destacado que ele aí assumiu. Podemos vê-lo no Álbum n. 4 de fotografias de oficiais da Armada de 1903 já no posto militar seguinte: 

FOTO 3
Contra-almirante Luis Moraes e Souza (Morais e Sousa)

Segundo António Enes, Moraes e Souza foi governador interino do distrito de LM no final de 1894 até que regressou a Lisboa em janeiro de 1895 pelo que o comando da Rainha de Portugal mudou nessa altura dado que ela por exemplo em março de 1895 estava ainda em Moçambique (página 186 do livro de António Enes). 
Este é o comandante Vitor Sepúlveda imediato do navio nessa altura, em foto do arquivo da marinha:

FOTO 4
Primeiro tenente Victor Leite de Sepúlveda

Veremos mais sobre a guarnição da Raínha de Portugal no próximo artigo desta série.

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