Visita do P. Real a LM em 1907: Marquês de Lavradio, oficial às ordens

Depois do primeiro artigo em que destaquei mais o Conde da Ponte, prossigo a análise das reproduções de duas fotos da visita que o Príncipe Real (PR) de Portugal D. Luis Filipe de Bragança fez a Moçambique em 1907 e que Gastão de Brito e Silva, descendente do Governador-Geral dessa altura, Freire de Andrade nos cedeu gentilmente e onde aparece identificado o Marquês de ou do Lavradio. Elas foram tiradas no Palácio do Governador em Lourenço Marques (LM), actual Maputo e numa o Marquês está fardado, como seria de esperar num oficial às ordens do PR e noutra vestido à civil, esta quando o PR também o está.
Segundo o Geni o marquês dessa casa nessa altura seria D. José Maria do Espirito Santo Correia de Sá Portugal Soares de Alarcão Eça Mascarenhas Silva e Lancastre (1874 - 1945), 6.º Marquês de Lavradio, 9.º Conde de Avintes. Por isso tanto ele como o Conde da Ponte eram de famílias nobres de há 9 gerações, no caso do aristocrata e militar que aqui veremos eram desde 1610 no que respeita aos Condes de Avintes (com dois vice-rei do Brasil como antepassados) e o de Marquês de Lavradio (wikipedia desde o início) era um título nobiliárquico antigo e até uma das duas linhas legítimas da Dinastia de Aviz (como ele era Lancastre suponho que venha de D. Filipa, a esposa inglesa de D. João I, o fundador da segunda dinastia real portuguesa mas...).
O Sexto Marquês de Lavradio tinha nascido em 1874 teria por isso uns 33 anos nessas fotos tiradas em Moçambique o que corresponde à sua aparência aí. O geni mostra-o noutra foto mais idoso em que era sem dúvida a mesma pessoa e combino então a seguir as duas fotos de 1907 em que ele aparece em LM, na parte superior, com a do Geni na inferior:

MONTAGEM 1
José Maria ... Silva e Lancastre
Sexto Marquês de Lavradio (1874-1945) 




Segundo o Geni D. José Maria do Espirito Santo Correia de Sá Portugal Soares de Alarcão Eça Mascarenhas Silva e Lancastre foi "Condecorado com as Medalhas da Campanha de África de 1897, Grã-Cruz da Ordem de Isabel a Católica, Grã Cruz da Ordem de Carlos III de Espanha, Grã-Cruz da Ordem de Victoria and Albert, Grande Oficial da Legião de Honra e Comendador da Ordem de Hohenzollern. Foi o último Senhor do Palácio Lavradio e da Quinta da Conceição, que os vendeu (mas aqui diz que o palácio em Lisboa foi vendido em 1875 ao Estado quando teria ele 1 ano de idade ...)
No Google Books aparecem as "Memórias do sexto marquês de Lavradio" de que destaco a seguir partes em que ele se refere a Lourenço Marques: 

MONTAGEM 2
Memórias do Sexto Marquês de Lavradio

Alfredo Pereira de Lima (APL) no livro Edifícios Históricos nas págs. 88/89 transcreve parte da página 71 desse livro a propósito do baile de gala realizado pela Associação Comercial da cidade neste edifício da Baixa, o da DB Land's Syndicate. APL adianta então a descrição do evento feita pelo "ao tempo oficial às ordens de Sua Alteza o Principe Real", o marquês do Lavradio, que pelo menos nesta passagem denotava certa falta de humildade e ao que parece sinais de anti semitismo. Escreveu então o marquês: «Houve, nomeadamente um grande baile oferecido pela Associação Comercial, que muito nos indignou pela forma como decorreu. Era Presidente da Associação um judeu, comerciante meio falido, chamado Leão Cohen (HoM: um dos intervenientes na construção do Hotel Polana), que tinha conseguido aquele lugar em consequência duma traiçâo feita ao Francisco de Mello Breyner (empresário pioneiro da cidade, firma fundada em 1898), o que levara a maior parte dos sócios a apresentarem a sua demissão, tendo ficado alguns pequenos comerciantes. Ora o tal Cohen, ou porque não tivesse quem o aconselhasse ou porque não houvesse seguido os conselhos dados, cometeu imensas gaffes. Começou por marcar a contradança de honra colocando-se vis-à-vis do Principe, o que provocou grande indignação. Quando se abriu a sala para a ceia e S. A. (o PR) entrou seguido da sua comitiva, qual não foi o nosso espanto ao verificarmos que nenhum de nós (da comitiva da qual o Marquês fazia parte) tinha lugar na mesa. Ao retirarmo-nos, bastante indignados, o Cohen chama-me e declara-me que «como tinha faltado o presidente da Câmara, eu tinha lugar».  Em todo o caso, estas e outras cenas, que nos indignavam na altura, não deixaram de amenizar a viagem. De tudo, porém, o que marcou na visita a Lourenço Marques foi a ida a Marracuene e o batuque», eventos de que falámos aqui (ver aí a terceira foto) e aqui (seis artigos)
Pode ver-se duas páginas dum exemplar do livro que esteve aqui à venda com a sua foto:
“MEMÓRIAS DO SEXTO MARQUÊS DE LAVRADIO”
Coordenação D. José Luiz de Almeida (Lavradio). Edições Ática 1947

Como se viu, na página 70 do livro, o Sexto Marquês de Lavradio que estava de passagem em LM em 1907 dizia que que tinha lá estado antes e saído por volta de 1897, quer dizer quando teria uns 23 anos de idade. Para um funcionário público português normal isso poderia parecer cedo demais mas não o seria para um oficial da Armada Real cujas primeiras missões no Ultramar se fariam com essa idade (vimos que o mesmo se terá passado com o em 1897 Conde da Ponte que também veio a ser seu colega em 1907). 
Podemos confirmar a carreira militar específica que o Sexto Marquês de Lavradio teve não só pela foto superior direita da MONTAGEM 1 com o boné com a âncora mas também pelas duas fotos seguintes, com ele mais jovem, mas que sem dúvida são da mesma pessoa, encontradas no Arquivo da Marinha:
Guarda Marinha, Marquês do Lavradio
Aspirante de marinha, Marquês do Lavradio,
um pouco mais velho do que na anterior

Vejamos mais sobre a vida posterior do Sexto Marquês de Lavradio pois aparece na wikipedia e num blog monárquico sobre José Maria do Espírito Santo de Almeida Correia de Sá (Lisboa, 25 de Maio de 1874 — Lisboa, 6 de Julho de 1945) o seguinte: "sucedeu a seu bisavô como 6.º marquês de Lavradio, foi um aristocrata e intelectual, oficial do Exército Português, que se distinguiu como memorialista e no campo da historiografia militar. Em 1901 casou-se com Maria da Piedade de Saldanha de Oliveira e Sousa, da família dos Marqueses de Rio Maior". Comparando com o que está no geni vê-se que as datas e local de nascimento e falecimento e o nome da esposa coincidem com os que até aqui considerámos como correctos mas por exemplo o seu nome não é exactamente igual pois tem "Almeida" a mais e falta-lhe "Portugal Soares de Alarcão Eça Mascarenhas Silva e Lancastre" no fim. 
Mas o dado na wikipedia que me leva a concluir que nestas rápidas pesquisas do antigamente não se consegue evitar a sensação do "cada cavadela, cada minhoca" e na sua interpretação negativa, é aparecer lá "oficial do Exército Português" o que é reforçado pelo seguinte: "Frequentou a Academia Militar, tendo seguido a carreira de oficial do exército", enquanto que pelo que vimos até aqui ele esteve únicamente ligado à Marinha. 
Quanto à primeira parte da Academia Militar talvez houvesse partilha com a Escola Naval mas quanto ao resto, o facto de que ele NÃO "seguiu a carreira de oficial do exército" é reforçado pelo que aparece aqui e a propósito do livro as "Memórias do Sexto Marquês de Lavradio" dizendo que ele foi oficial da Marinha e pertenceu à guarnição do «Yaght Amélia» e de resto que conviveu muito com o rei D. Carlos e com o Príncipe Real D. Luís Filipe de quem era parente. 
Ficamos daí também a saber que o Marquês de Lavradio depois do assassinato do rei e do filho primogénito em 1908 foi "Secretário Particular do (novo) Rei D. Manuel II enquanto no trono e, depois, no exílio", quer dizer foi um conselheiro chegado deste (aqui também se diz que foi seu secretário particular).
Quanto ao resto do texto na wikipedia sobre José Maria do Espírito Santo de Almeida Correia de Sá, Sexto Marquês de Lavradio está em linha com as outras fontes. "Em 1910, aquando da imposição da República, o Marquês de Lavradio passou à reserva e acompanhou o Rei Dom Manuel II para o exílio em Inglaterra . As suas memórias, que incluem as suas impressões do exílio em Inglaterra com o rei D. Manuel encontram-se publicadas como Memórias do Sexto Marquês de Lavradio".
O google books mostra também o livro "A diplomacia do impériode José Maria do Espírito Santo de Almeida Correia de Sá, Lavradio (marquês de) que é o mesmo nome do autor do livro das memórias. Presumo então que ele tenha escrito os dois livros o que justifica a passagem no texto da wikipedia do "memorialista e no campo da historiografia militar".
site vinculadosaobarreiro (e essa informação também está no geni) diz que o marquês (José Maria) tinha um irmão mais novo chamado António de Almeida Correia de Sá que era o Quarto Conde do Lavradio. Eu não sabia que podia haver duplicação de títulos nobiliárquicos numa mesma casa fidalga mas presumo que tal tenha sido previlégio concedido pelo Rei (pode ver-se aqui que Marquês, seria o irmão mais velho José Maria, era superior a Conde, seria o mais novo António, como era lógico que fosse).
Por fim de notar uma interessante coincidência entre os dois jovens oficiais às ordens do PR - pelo menos para a sua visita a Moçambique em 1907 e que aqui vimos - para além de serem ambos nobres, formandos e oficiais da Armada e certamente colegas em muitas ocasiões pelo menos até à implantação da república em 1910. Como se vê no Geni do 9o Conde da Ponte - July 31, 1874 - February 19, 1945 (70) - e no do 6o Marques de Lavradio - May 25, 1874 - July 06, 1945 (71) - ambos nasceram e faleceram nos mesmos anos. Apesar disso os destinos dos dois divergiram bastante depois de 1910, o Conde da Ponte parece ter-se adaptado bem à República (como vimos foi presidente da poderosa Companhia Nacional de Navegação por exemplo) e vice-versa. Mas devido à sua fidelidade à Casa Real Portuguesa o Marquês de Lavradio terá passado anos de mais ou menos amargo exílio na Inglaterra, embora um tanto voluntário pois passados os furores republicanos iniciais as diferenças entre os dois campos foram-se amenizando.  
No próximo artigo falaremos de dois outros oficiais que estão nas fotos do PR no palácio da Ponta Vermelha gentilmente cedidas por Gastão de Brito e Silva.
Mais aqui sobre os marqueses de Lavradio num site monárquico

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