Falámos no artigo anterior do começo da firma John Orr & Co. em 1886 em Kimberley na África do Sul e neste artigo falaremos mais da história dessa casa-mãe do estabelecimento que surgiu em Lourenço Marques (LM), actual Maputo em 1919.
Seguiremos essencialmente a brochura que já referimos e que foi publicada c. de Outubro de 1946 comemorando os primeiros 50 anos (Jubileu de Diamante) da firma que era aí descrita como "once Southern Africa's most famous quality soft-goods family chain".
A brochura esteve à venda num site de leilões e podemos ver a seguir a sua capa e as fotos no interior de dois dos directores e as suas responsabilidades no grupo.
MONTAGEM 1
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| Companhia John Orr & Co. fundada em 1886 com dois Orr como directores em 1946 |
O tema da brochura era "progresso e serviço ao longo de duas gerações" e de facto seleccionei para esta montagem dois dos directores com Orr no nome de família.
A breve biografia do empresário John Orr (1858 - 1932) na wikipedia diz que era um britânico natural da actual Irlanda do Norte (e note-se que até 1916 - 1922 a toda a ilha da Irlanda fazia parte do Reino Unido) que emigrou para a África do Sul em 1883 com 25 anos de idade. Esteve inicialmente na Cidade do Cabo onde foi primeiro empregado num grande estabelecimento e depois abriu aí o seu. Mas pouco tempo depois, em 1885, mudou-se para Kimberley onde (presumo que no ano seguinte, 1886) abriu uma loja de roupa e tecidos de que vimos o edifício que existia pelos anos 30 aqui.
A partir de Kimberley o John Orr expandiu-se para outras cidades na África do Sul e recorda-se a seguir a loja de Durban, a segunda da cadeia e que abriu em 1903. O anunciante sublinhava o que já se tinha dito antes, que o "John Orr’s ... was synonymous for shopping for the entire family – luxury retail" devendo ser percepção comum que era um grande armazém posicionado para o segmento médio-alto da população.
MONTAGEM 2
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| Ciaxa de chapéu vendido no John Orr de Durban |
Apesar da expansão, o fundador John Orr e parte da sua família continuaram a residir em Kimberley, numa casa que compraram em 1902 e que tinha sido edificada para um dos fundadores da De Beers (Gustav Bonas de origem judaica) e mantiveram-na na sua posse até 1976. John Orr tive posições de relevo em Kimberley tendo por exemplo sido seu presidente da câmara de 1909 a 1910 e de 1916 a 1918.
Esta parece ser a única foto de que actualmente se dispõe de John Orr (1858 - 1932) e vem da biografia no geni:
FOTO 1
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| Falecido John Orr, Esq. etc. pioneiro de grandes armazéns na África do Sul |
Nesta biografia é dito que Joseph (1872 - 1953), um dos oito irmãos de John e que era uns catorze anos mais novo do que ele, se lhe tinha juntado em 1891 na África do Sul ou seja 5 anos depois da fundação da firma. Não sei se Joseph ficou como sócio ou não (a firma era Co.) mas segundo a brochura foi ele que geriu a loja de Johannesburg e que a transformou na maior da companhia.
Voltando à já mencionada reportagem da inauguração do grande estabelecimento de LM em 1953, era lá referido que Edwin Orr, um dos directores na sede se tinha deslocado para o acontecimento e pode-se ver aqui no Geni que Edwin Dickson Orr era filho de Joseph e por isso sobrinho de John Orr.
Podemos agora também dizer sobre os dois senhores na MONTAGEM 1 que RH Orr era Robert Harold, filho do fundador John (geni). Quanto a JH não sei quem seria porque outro filho de John, que seria um irmão de RH, era JW (John Wilford) como também se pode ver no geni mas não há foto aí para se comparar se o da brochura. John Orr teve mais filhos e também muito mais irmãos e sobrinhos pelo que as possibilidades de JH Orr ser seu familiar eram imensas ....
Passando para outro tema, sobre as características do estabelecimento principal em Johannesburg, o qual seguia um esquema organizativo que devia ser replicado com mais ou menos profundidade nos outros, dizia-se na brochura: "The vast Johannesburg store had a staff of 600 at the time of the jubilee. Its 50 departments occupied the lower ground, ground and first to fifth floors, with the sixth floor used for administration and mail order and the roof garden for staff recreation. Other facilities included a 27-booth ladies' hairdressing salon, a staff hospital, also available to customers, and public and staff tea-rooms, the former with seating for 350 and 40 waitresses. In those pre-credit-card days more than a hundred state-of-the-art cash receiving tubes (uns aparelhos de que falaremos no artigo 9) terminated in a receiving-and-sending station on the lower ground floor (uma caixa centralizada). Also on this floor was the washed, cooled or heated, humidified or dehumidified air-conditioning plant, with its many filters and sprays, which circulated 300 tons of air an hour throughout the store, which also featured engineering and carpenter's shops, an incinerator and laundry and a caretaker's flat. It was quite remarkable what two generations of Orrs were able to achieve". Por esta descrição, as condiçôes do edifício de Johannesburg pareciam realmente impressionantes, atendendo a que se estava nos anos 40.
E dizia ainda a brochura do John Orr em 1946, num interessante exercício de avaliação do passado e de futurologia e do género dos que aparecem nos relatórios anuais de sociedades anónimas: "Sixty years is a long span of time and in that period, changes in the lives of the people and methods of business have taken place. In peering into the crystal ball of the future, we feel confident that South Africa and John Orr's will see far more wondrous changes in the years ahead. The perfection of television, the harnessing for human welfare of the great energy lying locked in the atom; marvellous new fabrics and the wonderful things in which plastic substances will be moulded, to mention but a few of the marvels that will be available to mankind in the not distant future. All these promise to make the recent past and present seem as quaint and old-fashioned as the Victorian era appears to us to-day. But no matter what transformation the new era may bring, John Orr's will continue, through merit and service, to be a popular by-word throughout the centres in which their stores operate".
Voltando à informação da wikipedia, em 1951 o que seria uns 5 anos depois da publicação da brochura, a John Orr tinha 2 500 empregados (em 1946 e segundo a brochura tinha cerca de 2 000 brancos e centenas de nativos e mestiços, pelo que continuava a crescer) e tornou-se uma sociedade anónima (public company).
Sobre tempos mais recentes da firma há mais informação e fotos interessantes no FB eGGSA onde é por exemplo dito que foi fechada no ano de 2000 pelo seu proprietário da altura, a Dynamo Stores (mas não vejo traço actual dessa companhia) quando operava 25 lojas. Por essa altura muitas das lojas, que inicialmente eram de rua nas cidades, tinham já passado para centros comerciais nos subúrbios ou junto a vias de acesso.
No próximo artigo falaremos mais sobre o interior do estabelecimento do John Orr de 1953 de Lourenço Marques, actual Maputo e veremos que informação existe sobre o de Johannesburg.
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