No relatório "Descrição da Costa de Moçambique de Lourenço Marques ao
Bazaruto" do oficial da Armada portuguesa Guilherme Ivens Ferraz (GIF)
publicado em 1902 e que se pode descarregar daqui e de que já falámos
anteriormente a propósito do porto de LM, actual Maputo por exemplo aqui, é referido o seguinte: "Signaes: No mastro da capitania içam-se os distinctivos das
companhias a que pertencem os navios que demandam o porto e os signaes d'um
regimento especial".
Vejamos então o mastro da Capitania e dos sinais de LM na sua posição inicial fora da Fortaleza (série de artigos aqui), primeiro numa foto tirada do estuário que na altura estava imediatamente a sul dessa construção e olhando para a Baixa da cidade. A foto é reproduzida da revista Branco e Negro datada de Maio de 1897 e que é disponibilizada pela Hemeroteca Digital de Lisboa. O autor foi P. Marinho que já conhecemos da reportagem da campanha militar portuguesa de 1895 e que vimos por exemplo aqui.
FOTO 1
Castanho escuro - branco: muralha incompleta da Fortaleza
virada para sul = lado do estuário
Branco: parte inferior do mastro dos sinais, aí fora da Fortaleza
Amarelo: baluarte a SW da fortaleza que foi depois demolido
Púrpura: cabine que vimos aqui, do lado esquerdo e cerca de 1895
Verde: mesmo muro de suporte de aterro no limite do estuário
virada para sul = lado do estuário
Branco: parte inferior do mastro dos sinais, aí fora da Fortaleza
Amarelo: baluarte a SW da fortaleza que foi depois demolido
Púrpura: cabine que vimos aqui, do lado esquerdo e cerca de 1895
Verde: mesmo muro de suporte de aterro no limite do estuário
que viamos aqui
Rosa: segundo coberto da Alfândega
Cinzento: prédio no lado norte da praça 7 de Março, onde mais tarde estiveram
o Clube Inglês e a Agência Sul-Africana
A foto seguinte mostra o mastro na mesma posição inicial e foi tirada também do estuário mas para a esquerda (SW) da FOTO 1, pelo que se vê nesta foto uma face adicional da Fortaleza:
Castanho escuro: cortina da Fortaleza virada a oeste (W)
= lado da praça 7 de março, actual 25 de junho
Castanho claro: porta central na cortina da Fortaleza virada a W
Castanho escuro - branco: muralha incompleta da Fortaleza
= lado da praça 7 de março, actual 25 de junho
Castanho claro: porta central na cortina da Fortaleza virada a W
Castanho escuro - branco: muralha incompleta da Fortaleza
virada para sul = lado do estuário
Branco: parte inferior do mastro dos sinais, no exterior
Branco: parte inferior do mastro dos sinais, no exterior
e para SW da porta a W da Fortaleza
Amarelo: baluarte a SW da fortaleza
Púrpura: mesma cabine que na FOTO 1
Púrpura: mesma cabine que na FOTO 1
Verde: mesmo muro de suporte de aterro que na FOTO 1
A situação que o tenente GIF conheceu cerca de 1899 quando terminou a sua colocação como Capitão do Porto de LM e terá descrito no seu relatório devia ser a mostrada nestas duas primeiras fotos e nesta foto em que aparece com mais pormenor. Poucos anos mais tarde, cerca de 1903/4, no local onde o mastro dos sinais tinha estado foi edificado o Capitania Buildings (CB), grande edifício que surge nas duas fotos seguintes que são por isso porteriores a essas datas. Tal forçou à deslocação do mastro dos sinais que como veremos na FOTO 3 foi re-colocado no pátio interior da Fortaleza, cuja orientação se compreende comparando as marcas com as equivalentes das FOTOS 1 e 2. No interior da Fortaleza o mastro terá continuado a ser usado de forma equivalente à da posição inicial e descrita pelo tenente GIF e tal terá continuado durante mais de duas dezenas de anos:
FOTO 3
Preto: parte inferior do mastro dos sinais agora colocado no pátio interior da Fortaleza
Castanho escuro - branco: muralha incompleta da Fortaleza
virada para sul = lado do estuário e para leste do CB
Amarelo: baluarte a SW da fortaleza que foi depois demolido
Castanho escuro - branco: muralha incompleta da Fortaleza
virada para sul = lado do estuário e para leste do CB
Amarelo: baluarte a SW da fortaleza que foi depois demolido
Carmesim: varanda na face virada a Sul do Capitania Building(s)
Vermelho e branco: Rua Tavares de Almeida (actualmente ainda aqui)
No seu relatório o tenente GIF falava então dos "distinctivos das companhias a que pertencem os navios que demandam o porto e os signaes d'um regimento especial" e que lógicamente seriam colocados no mastro. No próximo artigo iremos completar essa ideia com a informação sobre esses sinais que aparece na "lista telefónica" de LM de 1913 (Delagoa Directory). Podemos já precisar que eles diziam respeito aos navios que chegavam ao porto indicando por exemplo se eram de marinha mercante ou de guerra, a sua nacionalidade e tipo e a direcção donde vinham.
Suponho que na origem dessa informação estariam as observações dos faroleiros da Ilha da Inhaca (primeiro farol colocado em 1894 aqui) e que a transmitiam para o porto via espelhos (heliográfico) e / ou sinal telegráfico em cabo submarino. Esses sinais que eram colocados no mastro antecediam então de algumas horas a chegada dos navios ao porto de LM e a sua leitura serviria especialmente para que os armadores / agentes / representantes / fornecedores dos navios iniciassem as actividades que seriam necessárias. Mas esses sinais serviriam também para informar os cidadãos de LM, que na altura ainda viviam maioritáriamente na Baixa, no caso de estarem interessados na chegada de navios.
Concretamente, no mastro nas fotos de cima só aparecia algo içado no seu topo. Na FOTO 3 parece-me estar a bandeira azul e branca do Reino de Portugal (em vigor até Outubro de 1910) pelo que presumo que essa posição fosse dedicada ao simbolo da soberania.
Quanto aos sinais do porto própriamente ditos, como veremos depois, eles podiam ser flâmulas (triangulares) e/ou bandeiras (rectangulares) e seriam, penso eu, colocados nas traves horizontais (na FOTO 3 é claro que são duas, nas duas anteriores com o mastro fora da Fortaleza nao se consegue ver bem) que se vê do topo para o meio do mastro. Não me parece que nestas três fotos lá estivessem sinais desse tipo pois eles deviam ser suficientemente grandes para serem vistos ao longe mesmo a olho nú e estas três fotos foram tiradas relativamente perto. É assim um tanto estranho que nestas três ocasiões em que o mastro foi fotografado não aparecessem lá sinais desses, o que me leva a supor que a sua colocação não fosse muito frequente e que quando colocados permaneceriam por lá por tempo limitadopermanência) que parece que esses sinais não seriam tão frequentes como seria de esperar mas .....
No próximo artigo continuaremos este tema que a partir de algumas "pontas soltas" nos leva tentar a compreender melhor o funcionamento do porto de LM, actual Maputo e as sus ligações com as firmas do sector da navegação e com a população da cidade do final do século XIX até cerca de 1930.
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