Porto de LM, 1a doca: mais fotos e relação com a doca da Capitania (B/)

Prossegue o tema da "doca dos lanchões ou lanchas" o que é equivalente a barcaças e a que aqui chamo Primeira Doca (PD) do porto de Maputo, antiga Lourenço Marques (LM) depois de no primeiro artigo termos visto algumas fotos que lhe dizem respeito directa ou indirectamente e de a ter localizado e dado ideia das suas datas o que complementarei aqui.
A FOTO 1 em baixo mostra o que presumo ter sido parte da PD pois, em primeiro lugar, na legenda é referida a Ponte de Passageiros (aqui chamada PP) tal como acontecia para as FOTOS 1 2 do artigo anterior. Quanto ao que se pode observar, essas duas fotos tinham sido tiradas para oeste e à sua esquerda aparecia uma estrutura em madeira que devia fechar, parcialmente, a primeira doca do lado sul = para o estuário. Olhando agora para esta FOTO 1 podemos intuir / confirmar que essa estrutura teria forma de "L" e que nessas duas fotos se via a base desse "L" e que elas tinham sido tiradas da sua parte vertical. Nesta FOTO 1 teriamos então a PP da PD a qual separava o interior da doca do estuário a leste (para o fundo), no canto a SE e a sul (para a direita), aqui a ser vista com a Ponta Vermelha para o fundo. Podemos imaginar que esta foto ela foi tirada de cima do extremo a leste = jusante da ponte-cais Gorjão que limitava essa PD a oeste. 

FOTO 1
Ponte de Passageiros (PP) da primeira doca construída em madeira (e metal)
 e limitando-a em torno do seu canto a SE

Temos então na FOTO 1 a Primeira Doca (PD) de que se vê a sua abertura para o estuário para a direita e a sua Ponte de Passageiros (PP) ao fundo. Para confirmar podemos notar que na extremidade da parte da PP (base do "L") que é paralela ao estuário estava a guarita que se via nas FOTOS 1 e 2 do artigo anterior. A parte vertical do "L" nesta FOTO 1 vinha então à esquerda do lado da terra firme donde penetrava para o estuário até fazer a esquina com a base do "L".
A FOTO 2 deste artigo foi publicada em Dezembro de 1912 na revista Ilustração Portuguesa disponibilizada pela Hemeroteca Municipal de Lisboa. Mostra a mesma PP da FOTO 1 dado verem-se a já referida guarita e os mesmos candeeiros, escadas, estacas de suporte ao tabuleiro e protecções laterais. Como a FOTO 2 foi tirada do lado de terra (mas já sobre aterro feito no estuário) para o lado do estuário, mostava o interior da primeira doca para sudeste. À direita do "L" formado pela PP está a abertura da doca para o estuário (a foto mostra uma cerimónia hindú relacionada com a água): 

FOTO 2 - primeira doca
Púrpura: Ponte de Passageiros (PP) que fechava a primeira doca a SE.

Nesta FOTO 2 vê-se principalmente a base do "L" mas aparece junto à sua margem esquerda um pouco da sua parte vertical, a que ficava mais a leste na PD. 
Como iremos vendo nestes artigos esta PP da PD tinha aspecto diferente da PP inicial que vimos aqui (assunto de que já falámos ao fundo deste artigo) e chegaremos até à conclusão que estavam em posições parecidas mas diferentes pois a parte "vertical" do "L" da inicial tinha estado mais para a direita do que o da FOTO 2, o que foi primeiramente abordado em torno da FOTO 5 neste artigo..
Quanto a datas e como dissemos já no artigo A, não sabemos o ano exacto do início da PD mas terá sido de 1904 em diante, podemos dizer a partir duma foto dos Lazarus que em Agosto de 1907 já existia, a FOTO 2 de cima permite dizer que continuava a existir em 1912 e podemos ainda adiantar a partir da foto que vimos aqui que terá sido em 1916 que a PD terá deixado de existir, tendo a base do "L" sido desmantelada para permitir que a ponte-cais Gorjão fosse prolongada para leste = jusante ocupando a sua posição e a da abertura da doca.
Observando ainda estas fotos parece-me que as protecções laterais da PP da PD eram em tábuas de madeira. Não seria fácil dizer se as suas estacas eram também em madeira mas dado que até 1907 a ponte-cais Gorjão foi feita com estacas desse material e que como dissemos nesse ano a PD estava já construída (foto dos Lazarus) é de esperar que as suas estacas e tabuleiro fossem em madeira (betão só foi usado mais tarde, a partir de 1907).
Segue-se outra foto da zona da PD mas em tempo posterior aparecendo no seu lugar (para cá = a norte do que tinha sido o seu limite a sul que marquei a "cinzento" e que ficava na continuidade da ponte-cais que já antes vinha da direita) uma zona com a cor verde. Assim a parte da frente do navio de guerra (mais junto à proa) estava atracada ao prolongamento da ponte-cais sobre o que tinha sido a abertura da PD enquanto que o resto do navio estava atracado à ponte-cais Gorjão original "preto".

FOTO 3
Preto: parte inicial da ponte-cais Gorjão que vinha do tempo da primeira doca (PD)
Cinzento: prolongamento para leste da ponte-cais que fechou
 o que tinha sido a abertura da PD e substituiu a base do "L" da sua PP
Laranja normal: armazém mais a leste das instalações portuárias
 e o que tinha estado mais próximo da primeira doca.

O armazém "laranja" desta FOTO 3 parece-me que tinha a fachada lateral como o das FOTOS 2 e 3 do artigo anterior pelo que se pode estimar que, apesar da modificação respeitante à PD e ponte-cais, esse armazém junto ao tabuleiro do cais tinha sido mantido.
Voltando `?a FOTO 1 vê-se aí que imediatamente para lá da PP havia só água pelo que que a PD nesta altura era o limite a leste = nascente do porto. Isso significava que não havia ainda a doca da Capitania (chamada também conforme as épocas dos pescadores, das pequenas embarcações ou porto de pesca)  que é agora a instalação mais a leste do cais. De facto a Doca da Capitania foi criada depois da PD ter deixado de existir e ficou completamente para leste da posição daquela como veremos na montagem seguinte. A posição da PD aparece primeiro na planta de 1904/06 que já foi mostrada no artigo anterior e evolução da zona até à  Doca da Capitania é perceptível com mais dois planos/mapas subsequentes a esse. No plano intermédio de 1909 a PD existia e a Doca da Capitania estava planeada e no de 1925/26 a Doca da Capitania estava bem definida tendo a PD desaparecido (absorvida pela expansão da ponte-cais para leste e pela terraplanagem do espaço dela para norte = lado da terra firme, o que como dissemos antes terá acontecido por volta de 1916).

MONTAGEM de 3 CARTAS + imagem de GM recente
Roxo (cheio e tracejado violeta)onde eram ou tinham sido os limites 
a oeste e norte da Primeira Doca (PD)
Púrpura: onde eram ou tinham sido os limites a leste e sul da primeira doca
Preto: ponte-cais Gorjão construída em fases (estava completa em 1925/26)
Branco: aproximadamente o lado a leste do aterro existente ao tempo da PD 
(a sua posição parece estar mais precisa na planta de 1904/06)
Verde escuro: praceta de António Enes de 1910 foi aberta a norte 
e que se vê para o canto inferior direito da FOTO 3
Verde normal: ruas em volta da Praça 7 de março, actual 25 de junho
Vermelho: em 1909 planeada uma doca para pequenos barcos,
a qual básicamente deu depois origem à Doca da Capitania
Laranja e vermelho: doca da Capitania existente no porto de LM desde c. 1920. 
parte a vermelho coincide absolutamente com o planeado em 1909
Rectângulo castanho claro: edifício do relógio no canto inferior esquerdo da FOTO 3
Amarelo: Fortaleza com a sua face a sul marcada a vermelho
Castanho escuro: Capitania Building, tendo só marcado o seu canto a sudeste
Setas castanho escuro: onde estava planeado em 1909
fazer-se aterro e novas obras a partir de terra, o que foi executado anes e depois
Seta castanho claro: aterro do estuário para leste da Fortaleza, executado
 entre 1915 e 1920

Note-se que nesta montagem não mostro a situação anterior à PD, isto é a da PCA e da sua PP inicial pois disso falarei a partir do artigo F desta série.
Doca da Capitania actual foi assim construida mais para o lado da baía = nascente = leste do que a PD, com muito maior dimensão do que ela e já totalmente em betão armado. O lado oeste = poente da Doca da Capitania actual está aproximadamente ao lado donde foi a PP da PD, mas veremos isso com mais precisão depois, também a partir do artigo F desta série.
Apesar da construção da Doca da Capitania / Porto de Pesca ter acontecido só cerca de 1916 ela estava planeada a partir de pelo menos 1909. Quanto aos objectivos das duas eram diferentes; o da PD era, apesar da ponte-cais Gorjão directamente acostável a grandes navios estar já em pleno funcionamento quando ela foi construída, o de possibilitar - certamente num periodo transitório até todos os navios poderem acostar directamente à ponte-cais - um cais de descarga para as barcaças que transferiam para terra a carga de navios fundeados no estuário (e quando isso aconteceu deixou de haver razão para a PD existir). O objectivo da Doca da Capitania terá sido o de no seu interior serem acolhidos barcos de pesca e pequenas embarcações disponibilisando ela uma ponte de desembarque para os seus passageiros a qual era vista aqui umas dezenas de anos mais tarde.
As setas para norte e para leste da nova doca da Capitania nas plantas antigas mostram os terraplenos tal como se mantém até agora. Numa perspectiva mais geral esses trabalhos estiveram ligados ou fizeram parte da frente mais a oeste do aterro da enseada da Maxaquene que como dissemos nesta série terá sido levado a cabo entre cerca de 1915 e 1920. Podemos verificar que o que vemos na imagem de Google Earth corresponde ao mapa de 1925/26 pois desde essa altura até agora não houve modificações estruturais nessa zona portuária. 
Não vimos até aqui nestes dois primeiros artigos sobre a primeira doca como era ela ao fundo do lado de terra = no seu limite a norte e como seria vista do lado do estuário para terra, ocupar-nos-emos desse aspecto no artigo seguinte.
Tema continua nos próximos artigos desta série.

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