Porto de LM, 1a doca: muro-cais e praceta de António Enes a norte dela (C/)

Artigo republicado com alguns ajustes 
Continuo a tentar identificar e localizar fotos antigas do porto de Lourenço Marques (LM), actual Maputo de forma a perceber melhor o seu desenvolvimento no princípio do século XX (20) e nesta fase no que se relacionaria com a sua infraestrutura a que chamei "primeira doca" (PD) e de que falámos nos dois artigos anteriores . Lembro que terá sido essa infraestrutura portuária que foi referida em 1907 num artigo como sendo a "doca dos lanchões ou lanchas" o que é equivalente a barcaças.
A primeira foto tem como legenda "lighter dock" que também é o equivalente a de barcaças e do lado direito poderá estar uma barcaça (embarcação de fundo chato com borda) mas do esquerdo, o da esquina a NW da primeira doca, deviam estar embono / jangadas de toros de madeira do tipo que Guilherme Ivens Ferraz (GIF) referia no seu relatório publicado em 1902 e referido aqui. Isso significava que mesmo depois de 1902 nem todas as madeiras eram desembarcadas no Cais das Estâncias, muito mais para Oeste abaixo da Malanga, como GIF também descrevia, e que nesta doca não eram únicamente 
resguardadas barcaças. 
Tentei então verificar se esta FOTO 1 se coadunava com o que já se tinha visto da PD assumindo que o estuário estaria para o lado esquerdo, que a parte principal do recinto portuário estaria principalmente para o fundo e que a terra firme estaria próxima para o lado direito da foto.

FOTO 1 (sem e com marcas)
Roxo (traço contínuo): limite a poente = oeste desta doca, tabuleiro assente em estacaria
Roxo (tracejado): limite a norte desta doca, muro-cais em alvenaria
colocado na direcção W (esquerda) - E (direita)
Verde claro: cabine no recinto do porto (com uma porta com cobertura deste lado = leste)
Laranja: armazém de que não se vê a porta
Azul: armazém longo com três grandes respiros, mais para o interior do que o "laranja"
Creme: dois prédios da DBLS na Rua Araújo
Castanho escuro: Hotel Carlton também na Rua Araújo, actual Bagamoyo

O limite a poente = oeste desta doca que era a estrutura em estacas à esquerda = ao fundo, assemelha-se à que se via ao fundo da FOTO 1 do primeiro artigo desta série, o que adicionado à existência do armazém "laranja" próximo e que era possívelmente o mesmo nos dois casos nos leva a concluir que esta é mais uma foto dessa PD e é então muito provável que a FOTO 1 tivesse sido tirada da Ponte de Passageiros (PP) da PD e que a fechava dos lados leste = nascente e sul e que vimos em parte na FOTO 1 do artigo B.  
Também a localização das duas construções que aparecem para o fundo / direita da FOTO 1 e que ficavam no exterior do porto indica que estavamos genéricamente para sul da praça 7 de março, o que é onde a PD esteve como apontámos por exemplo aqui e como aparecia desenhado nas cartas de 1904/06 e de 1909 (ver aquio que reforça essa hipótese de localização. Essa localização leva também à conclusão de que a PD terá sido criada na porção de estuário em frente = para sul da Plataforma do Cais da Alfândega (PCA) que desenhei na imagem actual da Baixa aqui e mais precisamente onde escrevi o "terrapleno actual" mais central e entre as duas pontes. 
Vamos agora combinar parte do que se vê na FOTO 1 com o que se vê na FOTO 2 seguinte. Nota-se de imediato que são comuns às duas dois grandes armazéns do porto (o "laranja" que tinhamos já visto no artigo A  e o "azul" com respiros que assinalámos na FOTO 1 e que estaria por aqui agora ao centro). O interior da primeira doca na FOTO 2 está um tanto obstruído por guindastes e possívelmente por vagões colocados junto ao seu muro-cais (elementos esses que também se observavam na FOTO 1 nesse local), mas consegue-se vêr uma parte com água junto à margem esquerda da foto e que ela estava claramente para cá = para norte da linha da ponte-cais Gorjão à qual estava atracado o navio, o que quer dizer que aí não seria uma simples continuação da ponte-cais para leste e que provávelmente esta a doca.  

FOTO 2 (com marcas equivalentes às da FOTO 1)
Roxo (contínuo): limite a oeste = poente da primeira doca, 
seria a estacaria à vista na FOTO 1
Roxo (tracejado): limite a norte da primeira doca, mesma marca na FOTO 1
Preto: ponte-cais Gorjão, na altura para oeste da primeira doca
Laranja normal: armazém mais próximo da primeira doca
Laranja claro: armazém mais próximo e para poente da primeira doca, em parte na FOTO 1
Azul: armazém longo com três grandes respiros, como na FOTO 1
Verde claro: cabine entre a doca e o muro exterior do porto,
 tal como na FOTO 1 com porta com cobertura do lado leste
Outras cores: sem relevância aqui

Atendendo às equivalências entre as FOTOS 1 e 2, nomeadamente à cabine "verde claro", confirma-se que temos nelas a PD só que vista de perspectivas diferentes. Reforçando essa localização, aparece no canto inferior direito da FOTO 2 a praceta de António Enes - que estava onde agora existe o museu da pescaembora me pareça que não tivesse ainda monumentos que veio a ocupar o seu centro. Estar aí essa praceta não é surpresa dado que ela aparecia na FOTO  4 do artigo A (aí posteriormente, já com o monumento) e com a mesma relação de posição com a PD, ou seja a praceta a norte da primeira doca.
Se quiseremos ser mais precisos em termos de calendarização, o muro-cais que aparece na FOTO 1  tanto podia ser o da face a sul da PCA (a qual aparecia nesta foto visto da Ponte da Alfândega para a direita = leste) e em que essa parte do estuário estivesse ainda funcionar como funcionava antes de ter sido adaptada para ser a PD, como podia ser a PD. É o facto de na FOTO 1 se ver que da esquina desse muro-cais para a esquerda = sul estava uma estrutura em estacas que só podia ser da ponte-cais Gorjão que deve assegurar que a FOTO 1 seja já da PD pois ao tempo da PCA nessa posição, que seria da esquina a SW da PCA para sul, estava a PA (ver aqui a partir da FOTO 2 a PCA e a PA desse lado). De qualquer modo, sendo o muro-cais da FOTO 1 do tempo da PCA ou do tempo da PD, isto é posterior à PA/PCA, não será muito importante, importante é daqui ficarmos a saber como tinha sido a principal infraestrutura e local de operação do porto por volta de 1900 e que assim se manteve até a ponte-cais Gorjão ter alcançado essa posição. Tal só terá acontecido de 1904 em diante dado que ela começou a ser feita em 1902 mas partindo de uma centenas de metros mais para oeste desse local e o seu progresso para leste até à zona a sul da praça 7 de março, a da PCA e depois da PD, não foi rápido dadas as dificuldades de construção e os limitados recursos de todo o tipo. 
É então muito possível que o muro-cais da primeira doca que aparece à direita da FOTO 1 tivesse sido o muro-cais formado na face sul da PCA (ou melhor o seu muro de suporte do lado sul) e que aparecia nesta foto visto da Ponte da Alfândega para a direita = leste. Para tentar esclarecer isso melhor no artigo seguinte vamos tentar comparar o muro-cais da FOTO 1 com os que aparecem noutras fotos que vimos dizendo aqui serem do mesmo local.
Com este artigo ficamos a conhecer melhor como terá sido o limite a norte da primeira doca (interior) do porto de LM à qual aqui vimos chamando PD, juntando-o ao que já sabíamos dos dois artigos anteriores sobre a sua localização e de como ela era constituída dos outros três lados pelo menos em certas fases
Sobre este tema ver ainda a evolução desse lado oriental do porto até aos anos 50 e 60.
Tema continua nos próximos artigos desta série.

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