Porto de LM, 1a doca: muro-cais a norte (D/)

Continuo olhando para postais antigos do porto de Lourenço Marques (LM), actual Maputo que pareçam dizer respeito à doca que foi referida em 1907 num artigo como sendo a "doca dos lanchões ou lanchas" o que é equivalente a barcaças, nome esse que era perfeitamente justificado por exemplo olhando para a FOTO 1. Nestes artigos chamo-lhe no entanto Primeira Doca (PD), ela já foi bem identificada e localizada nos três artigos precedentes mas mostro aqui mais um desses postais e discorro sobre o que nele pode ser observado:  

FOTO 1
legenda original: "Lourenço Marques - Ponte de embarcações pequenas 
- Lighter dock (doca de barcaças)"

Na FOTO 1 podemos reconhecer os dois cobertos (armazéns) mais altos e recuados que apareciam por exemplo neste artigo e a partir daí que o que aparece mais à direita ficava ao fundo = a sul da praça 7 de março, actual 25 de junho ficando-lhe a Plataforma do Cais da Alfândega (PCA) para sul, para o lado do estuário o que se pode confirmar com esta foto também do tempo dessa PCA. A partir daí podemos dizer que a FOTO 1 mostra em primeiro plano a parte de estuário que ficava imediatamente a sul da PCA, entre a Ponte da Alfândega (PA) à esquerda = oeste e a Ponte de Passageiros (PP) inicial à direita = leste,  que na actualidade seria aqui. Mas não podemos dizer logo se essa parte do estuário faria já parte da Primeira Doca (PD) ou não, por exemplo ao contrário do que afirmamos para esta foto em que aparecia do lado esquerdo = oeste a ponte-cais Gorjão o que significava com grande probabilidade que se estava já ao tempo da PD. Para além desta FOTO 1 não cobrir completamente esse lado ela também não permite ver se mais para a direita = oeste apareceria a nova "PP" em forma de "U" que identificamos aqui nas duas primeiras fotos e que seria outra forma de identificar a PD. 
Todavia, atendendo à referência comum a "ligher dock" nesta FOTO 1 e na de que falei no artigo C presumo que esta foto também seja da PD que teria sido criada na parte do estuário em frente = para sul da PCA e que atendendo à dimensão da praça no eixo leste -oeste teria entre cerca de 60 e 80 metros de largura. Essa possibilidade é reforçada pela quantidade de barcaças aí abrigadas, embora nas outras fotos que dissemos também serem da PD não ser tão notório. Lembremos que as barcaças (embarcações de fundo chato) para fundear e descarregar o que transferiam de navios fundeados no estuário precisavam de acostar a um cais bem protegido da ondulação e por volta de 1900, antes da PD, o que era usado era o formado no canto de estuário entre a face a oeste da maciça PCA e o muro de suporte dela para oeste do lado de terra, canto esse que podemos ver por ex. aqui e que ficava para NW do local que vemos na FOTO 1 (esse canto agora seria por aqui ao centro). 
Era então usado para carga / descarga das barcaças esse canto do estuário apesar da sua profundidade ser menor do que a que havia em frente = para sul da PCA o que nesse aspecto ofereceria melhores condições. Problema é que essa parte do estuário a sul da PCA até cerca de 1903 era únicamente limitada a oeste e a leste respectivamente pelas Ponte de Alfândega (PA) e da PP inicial e por isso estava fracamente protegido da ondulação, nomeadamente a vinda do lado da baía de E ou SW. A partir do momento em que foi formada uma doca (esta a que chamamos PD) nessa parte do estuário a sul da PCA, protegendo-o a leste por uma nova PP robusta e "estanque" e a oeste pela ponte-cais Gorjão, as barcaças passaram a ser aí descarregadas como se vê na FOTO 1. Óbviamente que estas evoluções estavam planeadas e sincronizadas porque para se construir a ponte-cais Gorjão e ligá-la a terra teria de ser aterrado (corresponde ao terrapleno de cima para baixo nesta imagem) o tal canto de estuário usado inicialmente pelas barcaças. Tinha então de ser criada uma alternativa para as barcaças e esta foi a PD, embora como já dissemos devesse estar previsto que a sua necessidade fosse temporária pois as barcaças ficaram "condenadas a termo" a partir do momento em que a ponte-cais Gorjão passou a possibilitar aos grandes navios que lá acostassem directamente.
Como disse a legenda da "foto do artigo C" que reproduzo à direita na montagem seguinte referia-se também a uma doca de barcaças em LM e por isso vou verificar se o muro-cais e o que rodeava nas duas era o mesmo. Em primeiro lugar, olhando para o que se passava em cima do(s) muro(s)-cais nas duas fotos parece que se tratava da mesma estrutura dado que os guindastes lá colocados eram similares e estavam em posições equivalentes. Embora eles podessem deslocar-se pois tinham rodas penso que só o fariam em pequenas extensões e daí uso as suas posições para me localizar nas duas fotos, marcando por ex. na FOTO 1 a parte do muro-cais que aparece na "foto do artigo C" (e vice-versa). Daqui resulta que embora na FOTO 1 não apareça o que teria sido a esquina do muro-cais com a estrutura da ponte-cais Gorjão ou seja o canto a NW da PD e que na "foto do artigo C" marquei a "azul na vertical" esse limite da PD estaria muito próximo para a esquerda. Em direcção ao canto a NE da PD a FOTO 1 mostraria maior extensão do muro-cais do que a "foto do artigo C" pois a FOTO 1 ia quase até ao limite do muro-cais (ver mais em baixo um pouco mais sobre esse lado a leste mas o essencial aparecerá a partir do artigo F).

MONTAGEM 1 (clique para aumentar)
azul na vertical: esquina a NW da primeira doca (PD) na FOTO 1, entre o muro-cais que seria 
a face a antiga sul da PCA e a estrutura da nova ponte-cais Gorjão
amarelos: reforços salientes no muro-cais um tanto irregulares, não se viam na "foto do artigo C"
verdes claro: buracos no muro-cais provávelmente para se escoar água do aterro,
 talvez fossem os mesmos
3 castanhos: parecem posições equivalentes de guindastes semelhantes, 
servem-me por isso de referência comum nas duas fotos, pelo que poderei estimar ...
pentágono e hexágono azuis: posições que estimo equivalentes nas duas fotos
Mais afastados e por isso oferencendo melhor perspectiva global:
vermelho: dois respiros mais a leste do mesmo armazém 
(o que aqui estava marcado a "roxo" à esquerda da PCA e ainda perto da água)
rosa e laranja: armazéns na foto da esquerda (anterior)

Penso que a FOTO 1 (à esquerda) é anterior à "foto do artigo C" (à direita) porque na segunda pelo menos já não se via o armazém "laranja". Como neste artigo viamos o "rosa" que tinha estado a sul da praça a ser desmantelado e o "laranja" (que lá estava marcado com "castanho escuro" em vez de "laranja" como aqui) que lhe ficava para oeste ainda continuava de pé, faltando o "laranja" na "foto do artigo C" significaria que o "rosa" faltaria também quer dizer que na "foto do artigo C" os dois armazéns teriam sido desmantelados. Isso aconteceu de 1903 em diante pois o Capitania Building(s) que aparecia nas fotos desse artigo tera sido construido por easa época. Como já dissemos e permite-nos localizar estas fotos o objectivo da remoção dos dois armazéns foi o sido o de abrir a av. 18 de maio, actual M. de Inhaminga do seu lado leste = mais junto à praça 7 de março, actual 25 de junho e tal como se via aqui.
Quanto ao(s) muro(s)-cais podemos observar que na "foto do artigo C" não aparecem os reforços verticais salientes "amarelos" que apareciam na FOTO 1 mas parece haver buracos "verdes claro" ou outros semelhantes mais ou menos na mesma posição nas duas fotos. "Achismo" meu é então que o muro-cais é o mesmo nas duas fotos da MONTAGEM 1 mas que na direita, que é posterior no tempo à da esquerda, ele teria recebido novo revestimento que teria encoberto os reforços verticais "amarelos". 
Mostro agora na MONTAGEM 2 uma foto de artigo anterior (FOTO 0 que vem deste artigo) e a FOTO 1 que vimos em cima. Podemos dizer que mostram dois muros que faziam face aos estuário e que terão estado pelo menos muito aproximados no local e no tempo dado que as construções das marcas "rosa" e "ocre" que se vêm mais para o lado de terra firme estão em posições similares e a distâncias muito semelhantes deles nas duas fotos. 
No entanto a legenda da FOTO 0  mencionava uma Ponte de Passageiros, que era a estrutura principalmente em madeira à sua direita que se projectava da PCA para sul, a qual se via por exemplo aqui, enquanto que a da FOTO 1 (e a da "foto do artigo C") falava da PD. Essa diferença daria desde logo a ideia de que mesmo que a zona das duas fotos fosse a mesma teria havido alguma mudança mas vamos aqui confirmar o que já suspeitávamos pois eles apareciam em posições semelhantes, que o muro-cais da FOTO 1 ou seja da PD (e que presumo fosse o mesmo da "foto do artigo C") era o mesmo da FOTO 0 ou seja da PCA.

MONTAGEM 2 (FOTO 0 de artigo anterior e FOTO 1 de cima, posterior no tempo)
Rosa e ocre: telhados de construções equivalentes nos dois casos
Roxo (tracejado): na FOTO 0 era o lado sul da PCA e terá sido depois 
o muro-cais a norte da PD
Preto: PP inicial ao tempo da PCA
Carmesim: muro de suporte do lado a leste da PCA
Vermelho e branco: rua Tavares de Almeida, passava a leste da praça 7 de março 
e com a qual o lado a leste da PCA e a PP inicial estavam alinhadas
Azul esverdeado vertical: direcção comum nas duas fotos, apontando a leste da praça

Nestas duas fotos parece claro que os reforços salientes no muro-cais (os "amarelos" que tinha marcado na FOTO 1 na MONTAGEM 1) correspondem. Confirma-se assim que a para o limite da PD do lado de terra = norte foi utilisado o muro de suporte do lado sul da PCA. 
Quanto a datas note-se, como já referi, que a FOTO 0 será no mínimo de 1897 pois a electrificação da cidade iniciou-se nesse ano e a FOTO 0 mostra dois postes e linhas da rede eléctrica enquanto que a FOTO 1 deve ser do ano de 1903 ou posterior mas não muito mais. Noto ainda que um postal como o da FOTO 1 foi enviado em 1911 e daí poder-se dizer que ela é no máximo desse ano mas tal não constitui nova informação face ao que já sabiamos.
Noto que a FOTO 1 não ia tanto para a direita =  leste como ia a FOTO 0 pelo que ela não permite confirmar se desse lado da PD estaria uma nova PP que seria diferente da PP inicial como presumimos nos artigos anteriores que tivesse acontecido e quais seriam exactamente as posições duma e doutra PP. Veremos isso a partir do artigo F mas resumindo as suas conclusões podemos dizer que para se formar a PD desse lado foram cravadas estacas para a direita = leste do muro do lado sul da PCA (ou seja para a direita = leste donde tinha estado a PP inicial) e que a nova PP da PD saiu do ponto mais a leste dessas estacas pelo que a largura da PD ficou maior que a da PCA, embora o muro-cais últil tivesse continuado o mesmo. Por outras palavras o lado norte da PD foi formado não só pelo muro a sul da PCA que vimos nas três fotos mostradas neste artigo, parte essa que serviu de cais à PD, mas também por uma secção em colunas que lhe ficou mais para leste e que chegou até à nova Ponte de Passageiros (PP) da Primeira  Doca (PD). 
Deste artigo a conclusão é que a foto mais antiga é a FOTO 0 que está em cima da MONTAGEM 0 e que é a única do tempo da Plataforma do Cais da Alfândega e Ponte de Passageiros inicial. As outras duas fotos serão do tempo da Primeira Doca, sendo a mais antiga a FOTO 1. O muro alto e comprido que se vê nas três fotos seria o mesmo mas teria sido alterado do tempo da FOTO 1 para o da "foto do artigo C"tendo sofrido uma adaptação 
Ver série completa no HoM sobre a primeira doca.

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