Porto de LM no início - fim dos cobertos / armazéns a S e SW da praça e a nova avenida (30/)

Concluiremos aqui o tema dos armazéns da Alfândega colocados a S e a SW da praça 7 de março de Lourenço Marques, actual 25 de junho de Maputo dos quais o primeiro (ainda sob a forma de coberto) surgiu cerca de 1890. No total e por volta de 1900 eram três e tendo o primeiro sido ampliado e como vimos no artigo anterior a partir de c. de 1904/05 terá começado o desmantelamento destes armazéns (pelo menos do segundo já só restava em pé a estrutura). 
A primeira foto deste artigo recorda no entanto a situação dos dois primeiros armazéns ainda completos e parece-me que aí não existiria ainda o terceiro, o "roxo", com grandes respiros na cumeeira do telhado e que ficou entre o "castanho escuro" e o muro-cais para o estuário dessa altura tal como vimos aqui. No que respeita ao limite máximo no tempo podemos dizer que esta FOTO 1 será anterior a 1903/04 pois junto ao armazém "rosa", o mais à direita = leste na imagem, não aparece o Capitania Building (s) (CB) que foi construído nessa altura.  

FOTO 1
Castanho escuro: primeiro armazém da Alfândega, visto parcialmente, a SW da praça
Rosa: segundo armazém da Alfândega, completo, a sul da praça 
Preto: ponte que saía da PCA para o estuário e que presumo fosse a PP mas ....
Amarelo: ponte do Allen Wack, uma feitoria privada
que ficava um pouco para leste da Fortaleza

A FOTO 2 seguinte foi tirada cerca de 1910 - ver NB 1 - olhando-se de leste para oeste e de cima do Capitania Buildings. Veremos depois que este edifício interrompia a grande avenida que tinha visívelmente aberta há pouco tempo e que aparecia partindo do canto inferior esquerdo em primeiro plano. Tratava-se da avenida 18 de maio, actual M. de Inhaminga, que ligava (e liga) o sul da praça (de que faz parte o jardim à direita e que tinha os cantos em ângulo como aconteceu até cerca de 1940) ao lado da estação de caminho de ferro dessa altura que estava para fundo FOTO 2 = para oeste. À esquerda = sul para o fundo vê-se a zona limitada pela ponte-cais Gorjão que foi construida a partir de 1902 e à direita, imediatamente a oeste da praça vê-se a Casa da Alfândega.  
Tendo em conta o que observámos nas fotos antigas sobre a posição do trio de armazéns relativamente à Casa da Alfândega (aqui marcada a "laranja", a sul da qual estava o primeiro armazém) e ao lado sul da praça (a sul do qual estava o segundo armazém) pode então marcar-se na FOTO 2 aproximadamente qual teria sido a posição deles antes da abertura da avenida e das demais transformações na zona mais próxima. Noto que na realidade os três armazéns terão sido um pouco mais altos do que os desenhei. 

FOTO 2
Laranja claro: Av. 18 de Maio, depois 28 de Maio e actual M de Inhaminga 
aberta por onde tinham estado dois dos armazéns da Alfândega
Castanho escuro no telhado: posição anterior à abertura da avenida
 do primeiro coberto / armazém da Alfândega
Castanho escuro e preto no telhado: idem ... da ampliação para oeste
 do primeiro coberto / armazém  da Alfândega
Telhado rosa: idem ... do segundo coberto / armazém da Alfândega, 
colocado a sul da praça 7 de Março, actual 25 de junho
Vermelho: Casa da Alfândega
Azul claro: Rua da Alfândega, depois Canto e Castro, do lado oeste da praça
Azul escuro: esquina do prédio da UEM / Ministério (Organismos Económicos),
 teria sido por aí a cabeceira da primeira ponte da Alfândega ( artigo 16)
Seta púrpura - preto: posição aproximada do muro-cais de c. de 1900
Verde: canto a NE donde veio a ser a praceta de António Enes,
 o monumento ficaria para o seu centro (ver NB 1)
Carmesim: limite a oeste da Plataforma do Cais da Alfândega (PCA) c. de 1903
Púrpura - branco: muro-cais a oeste da PCA e a sul da Casa da Alfândega e do 3o armazém, onde teria estado por volta de 1903 (estimativa a partir da planta Salm desse ano)
Seta branca: posição da ponte-cais Gorjão construida a partir de 1902
Cinzento: três dos novos armazéns do cais que substituiram / expandiram 
os da Alfândega que temos visto aqui

No artigo 16 tinha dito que a cabeceira da primeira Ponte da Alfândega e cerca de 1886/87 devia ter sido num muro suporte que estaria alinhada com a esquina do prédio da UEM / Ministério (Organismos Económicos) "azul escuro" mas uns poucos metros para oeste dela. e por onde era a praia do estuário. Essa zona fica quase no mesmo paralelo do lado mais a sul da fortaleza e que podemos ver para o fundo nesta foto e nela pode-se ver também que o areal ia ainda uns 15 metros para a esquerda = norte. Por isso nesta imagem marquei o paralelo dessa esquina como tendo sido até onde chegava água na maré média, por aí a  praia desapareceria com a maré alta. Pode ver-se noutra foto essa parte da margem do estuário com a maré mais baixa e que a praia na direcção do lado mais a sul da fortaleza parecia ainda molhada da maré mais alta anterior.
Como disse no artigo 27 um pouco mais tarde, em 1889/90 essa zona costeira para sul da Casa da Alfândega foi transformada e o primeiro muro-cais "púrpura - preto" terá estado um pouco a sul = esquerda do primeiro coberto tendo eu marcado a sua posição aproximada na FOTO 2 com a seta "púrpura - preto" e um pouco para sul da nova avenida. 
O muro-cais "púrpura - branco" existente ao tempo dos três armazéns devia aproximadamente estar na posição da marca "púrpura - branco" marcada na FOTO 2, tendo em conta a carta de Salm de 1903 e o espaço aterrado que seria necessário para ser ter acomodado o terceiro armazém para sul do primeiro e lógicamente antes dum novo muro-cais = estuário. A IMAGEM GE em baixo ajudará a entender melhor essa posições. 
Quanto aos "armazéns cinzentos" do porto marcados na FOTO 2 trata-se dos "especiais" de que falei aqui num primeiro de cinco artigos a eles dedicados. Esses seriam os 3o, 4o e 5o (se a sua contagem for feita de leste = esquerda da FOTO 2 para oeste) dos novos armazéns que foram construídos / colocados em fila (mas com espaços entre os seus diversos grupos) a partir de 1903 e ladeando do lado de terra = norte a nova ponte-cais Gorjão - aqui uma visão geral sobre eles. 
Na FOTO 2 vê-se antes dos armazéns "cinzentos" parte do que seria o 2o dessa fila mais um outro colocado numa segunda fila mais para leste = para o interior das terras do que a primeira. Mas a FOTO 2 deixa claro que mesmo essa segunda fila tinha ficado muito afastada (para o lado donde tinha sido o estuário) das posições onde os três armazéns da Alfândega tinham estado. Ela mostra bem as grandes alterações feitas ao local digamos entre 1902/3 (como dissemos o muro-cais limitando os aterros que iam da Casa da Alfândega para oeste até essa data estava no paralelo à Baixa da marca "púrpura - branco") e 1910 (nesse ano a ponte-cais já completa na zona visível na FOTO 2 estava no paralelo da "seta branca"). 

Na IMAGEM GE seguinte completo o que se tinha visto nos artigos 22 e 27 no que respeita à posição dos dois armazéns da Alfândega mais antigos juntando-lhe então o terceiro e em linha com o que mostrei na FOTO 2. Aparecem então aqui em posição aproximada os armazéns da Alfândega, como se eles existissem actualmente na Baixa da cidade entre a praça, actual 25 de junho, e o cais. 
Uma foto antiga mostrando o trio e que foi tirada do lado do estuário está na inserção do canto inferior esquerdo e no canto oposto inseri adicionalmernte uma foto dessa zona da Baixa no início dos anos 50, especialmente para a partir dela se ligar à actualidade as posições do CB e da antiga praceta de António Enes (ambos desaparecidos) e da avenida 28 de Maio, actual M. de Inhaminga ainda existente. Note-se no entanto, como referi em relação à FOTO 2, que desde o tempo dessa foto quer dizer da sua construção, essa avenida era interrompida pelo CB, só tendo passado a haver ligação de certa dimensão passando junto à Fortaleza do sul da praça para o lado da Capitania do Porto (agora Inamar) depois da demolição do CB.

IMAGEM GE (clique para aumentar)
Laranja claro: limites N-S da av. 18 de Maio, depois 28 de Maio e actual M de Inhaminga 
Castanho escuro no telhado: posição do primeiro coberto / armazém da Alfândega até entre 1905 e 1910
Castanho escuro e preto no telhado: posição da ampliação para oeste 
do primeiro coberto / armazém  da Alfândega até entre 1905 e 1910
Rosa no telhado: posição do segundo coberto / armazém da Alfândega, 
a sul da praça, até c. de 1905
Roxo: posição do terceiro armazém da Alfândega até entre 1905 e 1910
Vermelho: Casa da Alfândega, para oeste da praça
Azul claro: Rua da Alfândega, depois Canto e Castro, a oeste da praça, agora sem nome
Azul escuro: esquina do prédio da UEM / Ministério (Organismos Económicos)
Vermelho e branco: Rua Tavares d'Almeida, sua faixa inicial ao lado da praça
Quadrado branco: Capitania Building (s)
Carmesim: Plataforma do Cais da Alfândega (PCA)
Púrpura - preto: posição aproximada do muro-cais de c. de 1900, 
a sul do primeiro armazém e que veio a ficar a norte do terceiro
Púrpura - branco: muro-cais a oeste da PCA e a sul da Casa da Alfândega e do 3o armazém, onde teria estado por volta de 1903 (estimativa a partir da planta Salm desse ano)
Verde: monumento a António Enes ao centro da sua praceta

Mostro então na IMAGEM GE de novo que a Av. 18 de Maio, depois 28 de Maio e actual M. de Inhaminga na zona aí coberta foi traçada por onde até cerca de 1910 tinham estado os dois armazéns mais antigos da Alfândega, incluindo-se ai a ampliação do primeiro "castanho - preto". 
Podemo-nos questionar porque teria a abertura dessa avenida para chegar ao sul da praça sido considerada a partir de c. de 1905 mais importante do que a manutenção dos armazéns nesse local. Lembro que eles tinham sido um requesito essencial para o bom funcionamento das operações portuárias / alfandegárias desde c. de 1890 até essa altura e que estavam nesse local por ser próximo da Casa da Alfândega e do respectivo cais e por não haver nesse tempo mais espaço ao longo do estuário para os colocar. Todavia com a construção da ponte-cais Gorjão nessa zona costeira da Baixa da cidade a partir de 1902 era conveniente colocar os armazéns junto a ela e como se tinha conquistado de largo espaço adicional ao estuário pode esquecer-se a posição até aí ocupada pelos três originais. A Baixa da cidade pode então abrir-se um pouco para sul para essa posição mas veremos que só temporáriamente. Como se via  na FOTO 2 entre a Av. 28 de maio, actual M. de Inhaminga e a outra avenida larga e paralela a essa e que ladeava a norte a segunda fila de novos armazéns do cais havia um faixa larga de terreno livre (verde na foto). Todo esse espaço estava então planeado para ser de uso citadino e assim foi durante vários anos mas por motivos, presumo que económicos, ele mais tarde voltou a ser vedado e atribuído às instalações portuárias. Depois disso foram aí sendo construidos armazéns adicionais e outras instalações ferro-portuárias e contráriamente ao que tinha sido os planos de 1910 a Baixa continuou bastante constrangida do lado sul.  Pode ver-se um relato mais completo sobre a evolução dessa zona aqui 
Um ponto adicional no que respeita aos elementos constitutivos dos armazéns da Alfândega, recordando que por ex. nesta foto se via que pelo menos o segundo foi desmantelado ordeiramente e não simplesmente demolido. Presumo daí que o objectivo fosse o de os reinstalar depois noutras posições do recinto portuário. Baseio-me para essa hipótese também no reaproveitamento que foi feito de algumas das construções das Obras do Porto mas nada sei de concreto em relação a estes armazéns e também não os reconheci "de caras" entre os que foram sendo colocados depois junto à nova ponte-cais.
Série específica aqui sobre os três armazéns da Alfândega.
Série completa aqui sobre o desenvolvimento do porto até ao início do séc XX.

NB 1:  A FOTO 2 será de 1909 ou do início de 1910 pois ao seu tempo decorreriam dentro dos tapumes visíveis à esquerda ("marca verde") os trabalhos de construção da praceta e do monumento a António Enes que foi inaugurado a meados de 1910.
Esse monumento  (série aquifoi retirado em 1974/75 e a praceta que o rodeava foi há poucos anos desactivada e em seu lugar, a sul da praça actual 25 de junho, nasceu a grande construção de cobertura mais clara na IMAGEM GE e que é o museu da Pesca e cujo centro corresponde mais ou menos à posição do antigo monumento.  

NB 2: No Plano Hidrográfico do porto de LM de 1904/06 de 1904/06  que vemos à esquerda na montagem de cartas seguinte já não estavam representados os dois primeiros cobertos / armazéns que vimos em cima. Foi o seu antigo espaço que serviu para a extensão da avenida av. 18 de maio, actual M. de Inhaminga, de forma a passar a sul da praça 7 de março (e daí não poderia continuar mais para leste pois nessa direcção encontraria o Capitania Buildings). 
A sul da praça e imediatamente a sul dessa avenida estava, nas duas cartas, a praceta de António Enes cujo espaço está agora ocupado pelo museu aqui ao centro. Mas só na carta da cidade de 1925/26 aparece o monumento ao seu centro dado que ele só foi erigido em 1910. 

MONTAGEM CARTAS
Laranja claro: av. 18 / 28 de maio, actual M. de Inhaminga
Roxos, junto ao estuário: limites a W e N na primeira doca
Roxo e preto, perto da avenida: terceiro armazém da alfândega com respiros no telhado
Castanho escuro: face a oeste do Capitania Buildings

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