Instalações portuárias em LM até 1965 - zona central em 1937 e descrição geral (4/)

Continuando a série de artigos ligada à informação sobre o porto de Lourenço Marques (LM), actual Maputo dos CFM de 1965 e passando da sua zona mais a oeste = montante no estuário para sua zona mais central mostraremos aqui inicialmente duas fotos panorâmicas de 1937. São de Mary Light Meader, aventureira e fotógrafa norte americana herdeira da empresa farmacêutica Upjohn de quem falámos aqui. Elas mostram de dois ângulos diferentes a parte central das instalações portuárias vistas do estuário para a cidade.


FOTO 1
Foto de 1937 cobrindo as instalações portuárias e parte da Baixa da cidade
 com a Praça Mac Mahon, actual dos Trabalhadores ao centro

A planta com nomes de edifícios de 1965 incluída no pequeno livro dos CFM e vista no artigo 3 desta série permite saber a função de alguns mais desconhecidos e ver melhor outros mais conhecidos.

FOTO 1 com marcas e planta dos CFM de 1965 (clique para aumentar)

Castanhos: três terraplenos do cais
Preto e branco: linha férrea transversal de acesso ao cais 
que não está num terrapleno  (vê-lo aqui à direita nos anos 40/50)
Verde escuro: armazém da Parry, Leon e Hayhoe (Travel Agents, falado aqui)
Azul: antiga central no porto
Amarelo: alfândega "nova" junto à estação
Preto: edifício dos CFM unto à Av. 28 de Maio
Verde: edifício da fachada da estação de caminhos de ferro
Roxo: Praça Mac Mahon, actual dos Trabalhadores
Púrpura: Av. Gen. Machado, actual Guerra Popular
Carmesim: Av. da República, actual 25 de Setembro
Laranja claro: Av. M. de Inhaminga, antiga 18 / 28 de Maio

Quanto à alfândega "amarelo" tratava-se do edifício de cerca de 1920 que vemos neste artigo e nas FOTOS 3 e 4 deste, aí sempre do lado oposto ao que se vê em cima e que é o virado a sul. Logo para o lado de cá dele estava outro pequeno edifício que pela planta se vê era da Polícia do Porto.
Dum edifício em forma de cruz e assinalado a "preto" na "FOTO 1 com marcas" e sito na actual Av. M. de Inhaminga perto do entroncamento da actual Rua da Mesquita, a informação da planta é de ser das oficinas das Vias e Obras (VO) dos CFM, secção que se vê ocupava essa zona.  
Passemos a outros elementos já destacados na FOTO 1 combinando-a com outra foto aérea de Mary Meader da mesma zona mas tirada de ângulo diferente:

FOTO 1 (detalhe) e FOTO 2

Castanho escuro: um dos terraplenos da ponte-cais, 
o mais a oeste dos que aqui se vê
Castanho claro: terrapleno na direcção da alfândega e estação
Verde: edifício da fachada da estação de caminhos de ferro
Amarelo: edifício da alfândega junto à estação
Roxo: Praça Mac Mahon, actual dos Trabalhadores
Preto e branco: passagem de linha férrea na transversal para acesso ao cais
Laranja claro: Av. M. de Inhaminga, antiga 18 / 28 de Maio
Carmesim e branco: tabuleiro da ponte-cais
Amarelo e verde: edifício do correio do porto (CTT) onde estaria também 
a PIDE (Polícia Internacional) segundo o PLANO

O termo terrapleno significa "terreno em que uma depressão foi enchida". Como todo o terreno para cá da direcção da linha "laranja claro" tinha sido conquistado ao estuário ter sido aterrado era uma possibilidade mas outra era de o seu pavimento estar sobre uma uma estrutura cravada no leito do estuário que continuaria a existir por baixo dela. Pela posição dos terraplenos na planta dos CFM deduzo que os armazéns colocados entre eles estavam sobre o mesmo tipo de aterro. Por isso antevejo que só do eixo que passa nas faces a sul dos terraplenos e dos armazéns para o limite da ponte-cais tinha sido feita a estrutura de que se vê nesta imagem e que serviu de base para o tabuleiro da ponte-cais.
Como se vê nas fotos de cima o terrapleno "castanho escuro" estava a servir de depósito de mercadorias ao ar livre e para a passagem de vias férreas do lado do interior (linhas principais) para a ponte cais, passagem essa que necessitava de espaço alargado entre armazéns pois tinha de ser feita na transversal. O terrapleno que tinha "duas linhas castanhas" à direita da FOTO 1 era equivalente ao da "linha castanha" à esquerda mas o "castanho claro" em posição central não tinha vias férreas a cruzá-lo e de facto nesse espaço acabou por ser construído mais tarde um armazém. Parece-me que a qualquer altura se podia demolir um armazém mais vestuto para o seu espaço passar a ser um terrapleno com linha férrea pois tal seria relativamente fácil de executar para os CFM.
O local visto em cima aparece no postal seguinte que conhecemos daqui e será talvez dos anos 10 ou 20, por isso umas décadas antes da passagem de Mary Meader por LM mas mostrando-o no geral em estado similar (podemos até ver o telhado em duas águas do edifício do correio e a pequena casa que fiva antes dele):

FOTO 3
à esquerda: mesmo terrapleno "castanho escuro" das FOTOS 1 (detalhe) e 2
ao centro esquerda: dois armazéns após os quais está o espaço aberto na direcção 
da alfândega e estação de CF e o terrapleno "castanho claro" mais central
ao centro: tabuleiro da ponte-cais visto para leste = nascente
à direita: navio atracado na ponte-cais Gorjão

Aparece a seguir visto de frente o tabuleiro da ponte-cais e por trás o terrapleno "castanho claro", sem linha férrea a atravessá-lo (na transversal), em fotos já conhecidas de Shantz de 1919:


FOTOS 4
Carmesim e branco: tabuleiro da ponte-cais, colocado sobre
estrutura de betão cravada no estuário (ver aqui mais afastado)
Castanho claro: terrapleno "central" na direcção da alfândega e estação
Amarelo: alfândega junto à estação
Verde: edifício da fachada da estação

Dizia ainda o livro dos CFM que
"Completam o equipamento deste cais condutas a todo o seu comprimento, para abastecimento de água e combustiveis liquidos aos navios atracados ao cais" o que é expectável mas não consigo observar nestas fotos.
Sobre este tema, para além da informação da planta, o texto do livro dos CFM dizia que o tabuleiro ao longo de todo o cais e que servia para os guindastes, para as vias férreas e para a circulação doutros veículos e pessoal era de 22 metros. Em detalhe sobre isso e os espaços de armazenamento (na planta estão indicados por letras bem como os terraplenos) e máquinas do porto dizia o texto:
"Ao longo de todo o cais existe um tabuleiro de 22 metros de largura, equipado com 57 guindastes eléctricos de 3 a 80 toneladas, e três vias férreas que permitem a fácil circulação de combóios, para que a carga seja carregada directamente dos vagões para os navios ou descarregada destes para os vagões 
À retaguarda, e numa linha paralela ao tabuleiro, alinham-se 18 armazéns (33 000 m2) com a capacidade de armazenamento de 238 000 toneladas, 3 espaçosos cobertos com 5 920 m2 e vários parques de mercadorias. Na parte traseira dos mesmos, existem, também, três linhas para os servir. 
Cerca de 200 unidades mecânicas, guindastes móveis, máquinas elevadoras-transportadoras, tractores de manobras e de reboque e outros no género, completam o equipamento do porto e contribuem, em grande parte, para manter a fama do rápido manuseamento e despacho de mercadorias que este porto mantém desde longa data."
Sobre os guindastes por essas alturas falámos por exemplo aqui e aqui e aqui sobre os mais antigos e sobre tractores do porto pode ver-se aqui.
 A zona de cima foi também vista neste artigo.

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