Instalações portuárias em LM até 1965 - plano geral e comprimentos da ponte-cais (3/)

Utilisando informação do pequeno livro dos CFM de 1966 e outra que tinhamos visto antes vamos continuar a seguir a evolução das instalações portuárias em Lourenço Marques (LM), actual Maputo. 
Para ilustrar o tema, primeiro uma foto do FB "Moçambique (do Outro Lado do Tempo)" mostrando o porto antes de 1967 pois não se viam aí para o fundo os silos (armazéns) do terminal do açúcar.


FOTO 1
Recinto do porto de LM em plena actividade nos anos 60
Quanto ao início a FOTO 1 dá a vista da ponte-cais quase completa, faltando um pouco até à doca da Capitania a qual ficaria para o canto inferior direito da imagem.
Quanto ao aterro para o fundo da FOTO 1, mais ou menos na direcção do poente, veremos no fim deste artigo a situação a que deve corresponder, sendo certo que no interior da área de antigo estuário que tinha sido fechada se viam ainda grandes pontes vindas do lado de terra pelo que seu o aterro estava em curso.
Tinhamos visto antes aqui o plano geral do porto em 1936 e podemos agora ver a seguir o plano de 1965 com o desenho dos cais, armazéns e linhas de caminhos de ferro nas instalações portuárias. Coloco na planta aumentadas a maioria das inscrições e na legenda faço algumas referências ao principal pois detalhes desta planta são integrados noutros artigos. 
No que respeita à ponte-cais acrescento informação de quando foram construídas as suas diferentes secções conforme o que aparece na PLANTA 2 (que já vimos aqui no ESQUEMA) e junto-lhe informação sobre a construção inicial para leste = lado da cidade:

PLANTA 1: Plano geral em 1965 (clique para aumentar)
Ponte-cais castanha clara, à direita: primeira construção em madeira de 1902 a 1907
(castanho escuro: onde acostou o Swazi em 1903)
Ponte-cais laranja normal: construção em estrutura de betão armado em parte 
para substituir a de madeira e em parte para extensão, feita entre 1907 e 1914
Ponte-cais laranja claro: pequena construção em blocos de betão de 1911 (presumo)
Ponte-cais doutras cores: extensões para oeste pós 1914 e até 1965
Verdes: as duas carvoeiras do porto
A a X: armazéns do porto
OG: vários edifícios das Oficinas Gerais do Porto e CFM
VO: vários edifícios da divisão de Via e Obras
Azul: posto de desinfecção, junto ao cais,que tinhamos visto aqui
Linha azul e branca à esquerda: limite de aterro a poente feito até 1965, 
foi ampliado até 1975
Carmesim: Av. da República, actual 25 de Setembro
Púrpura: estrada das estâncias, continuação da anterior para oeste
Castanho (quadrado): fortaleza
Roxo (quadrado): praça da estação de Caminhos de Ferro
informação por baixo: evolução da ponte cais por períodos até 1965, 
crescendo de leste = à direita para oeste = à esquerda

A PLANTA 1 sendo de 1965 naturalmente corresponde aproximadamente à que vimos na planat colorida também para 1965 que recordo a seguir. Isso pode comprovar-se dos seus lados esquerdos = mais a oeste, tendo em conta a forma do aterro aí feito da ponte-cais para o lado da margem do estuário.

PLANTA 2: Situação em 1965 (clique para aumentar)
Linha azul e branca à esquerda: limite do aterro a poente feito até 1965, mesmo desenho que na PLANTA 1
Vermelho:frigoríficos da frutano extremo da ponte-cais feita até 1930
Círculo verde escuro: carvoeira Mac Miller, no extremo da ponte-cais feita até 1914
informação por baixo: comprimento atingido pela ponte cais por períodos até 1965, 
crescendo de leste = à direita para oeste = à esquerda
Na PLANTA 2 coloquei os totais sucessivamente acumulados em cada fase da construção da ponte cais. Pode haver algumas discrepâncias com a informação que se sabia antes mas "não será excessivamente grave". Parto do princípio que, após as grandes construções a leste que formataram o porto e terminaram em 1914, as secções adicionais da ponte-cais foram construídas para o fim de cada período indicado e que a execução de cada uma terá demorado cerca de um ano. 
Os dados fundamentais da construção e contando a partir da direcção da Praça 7 de Março, actual 25 de Junho (aqui no canto inferior direito) são: 1 450 m de ponte cais (valor líquido) atingidos até 1914; mais 350 m de 1914 até 1930 (atingindo 1 800 m); mais 300 metros de 1930 até 1951 (atingindo 2 100 m) e mais 300 m de 1951 até 1965 o que perfazia um total de aproximadamente 2 400 metros. Para o período anterior a 1914 noutro artigo tinha escrito que em 1905 a ponte-cais tinha atingido 475 metros de extensão (ou 500 m) e que em 1907 tinha atingido 800 metros. De 1910 a 1914 tinha-se continuado a expansão até aos 1 450 metros (líquidos) e substituido o anterior que tinha sido feito em estrutura de madeira. Esses 1 450 metros em 1914 eram em betão armado, sendo uma pequena secção feita com blocos de betão e o resto em estrutura de betão armado. 
Há no pequeno livro dos CFM de 1966 alguma informação sobre a evolução da ponte-cais e que complementa a que tinhamos principalmente com origem em Alfredo Pereira de Lima de 1972 e Eng. Pinto Teixeira de 1936:
"As primeiras estacas da ponte-cais depois chamada Gorjão, o Governador-Geral na altura e engenheiro, foram cravadas em Junho de 1902 e os trabalhos prosseguiram em ritmo acelerado sob direcção do Eng. Carlos Albers. Em 31 de Agosto de 1903 atracou no novo cais o primeiro navio (o Suazi de que falámos aqui). Em 1905 o cais tinha 500 metros de comprimento (também já vi escrito 475 m) e alguns armazéns e em 1907 o Eng. Costa Serrão iniciou a construção de um prolongamento com grandes blocos de cimento (mas vimos por exemplo com esta foto que isso foi só no final de 1911). Entre mentes, a madeira do primeiro troço do cais tinha apodrecido e uma estrutura reforçada de cimento veio substituí-la, utilizando-se tal processo por ser de execução mais rápida do que o método de blocos de cimento."
A foto seguinte com vista para poente = Matola mostra o recinto do porto entre 1914 e 1930, quer dizer com a ponte cais tendo atingido os 1 450 m de comprimento que tinha em 1914. Noto que esses 1 450 m são líquidos, pois os números absolutos de construção foram maiores dado que incluiriam a primeira parte em madeira que como se disse foi depois substituída.


FOTO 2
Zona conquistada ao estuário / pântano do Maé limitada à esquerda
 pela ponte-cais  até à carvoeira Mac Miller ao centro, face ao estuário. 
Como comentamos num artigo sobre os blocos de betão (3/4) a propósito de foto semelhante, na FOTO 2 a seguir à carvoeira Mac Miller o limite do recinto do porto, que até aí é a ponte-cais que vem da esquerda = lado leste, flecte fortemente (quase perpendicularmente) para norte = lado da terra firme. Nesse limite, a partir da carvoeira deixava de haver guindastes e navios atracados pois não era uma ponte-cais como era para a esquerda mas era simplesmente um muro de suporte do aterro, provávelmente feito em terra compactada. Vê-se navios ancorados nessa zona mas eles estavam na enseada que existia para oeste da ponte holandesa / cais holandês e que ficava frente ao cais da estâncias.
Continuando com o texto do livro dos CFM cobrindo o que se fez na ponte-cais a seguir à situação da FOTO 2: "Depois de 1914 novos prolongamentos foram construídos, sendo os maiores os de 1930 (HoM: esse foi de 350 m), onde se situa o frigorífico, e o de 1951, que mede cerca de 300 metros. Estava em 1965 em curso a construção de um novo prolongamento de mais 306 metros de cais (HoM: o dos armazéns V e X como se pode ver na PLANTA 1), o que iria dar um total de cais de precisamente 2 433 metros de comprimento (HoM: em cima dava 2 400 m, mas é muito próximo) que se estende quase em linha recta, com uma pequena inflexão para a terra nos seus últimos 150 metros (HoM: parece-me que a primeira inflexão é ainda na secção construída até 1951 como se pode ver na PLANTA 2, marca verde clara)."
estando assim descrita a evolução até 1965, voltamos à FOTO 1 para lá observar e marcar os principais limites das instalações portuárias entre 1945 e 1965 como surgiam nas plantas dos CFM: 


FOTO 1 para poente
Vermelho: armazéns frigoríficos da fruta
Círculo verde escuro: carvoeira Mac Miller
Laranja carregado: carvoeira Provay
Linha azul clara: limite a oeste do aterro pré 1945
Linha azul médio: limite de aterro feito até 1955 junto aos armazéns frigoríficos
Linha azuis tracejados: limite de aterro intermédio feito 
entre 1955 e 1965, marcado só o seu início mais a sul
Linha azul e branco: limite a oeste do aterro feito até 1965
Carmesim: Av. da República, actual 25 de Setembro
Púrpura: Estrada das Estâncias, continuação da anterior para noroeste
Roxo: praça da estação, Mac Mahon, actual dos Trabalhadores

Já tinhamos visto que a FOTO 1 era anterior a 1967/68 porque os silos do açúcar estavam ausentes. Tendo agora em conta o aterro, vemos que ele estava limitado a oeste pela linha azul e branco, o que correspondia ao que tinha sido feito até 1965. Podemos então concluir que na FOTO 1 não aparecia ainda (estava-se para cá dela) a ampliação de ponte-cais e aterro para o terminal de contentores e realizada até 1975 (ver aqui actualmente) e de que marcámos o seu limite a "azul escuro" nas imagens do artigo anterior.  
No próximo artigo voltaremos ao texto do livro e aos assuntos de interesse por ele despoletados.

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