Porto de LM no início - evolução a sul da praça entre c. de 1898 e 1902 (27/)

Continuaremos aqui a falar das construções iniciais do porto de Lourenço Marques (LM) a sul da praça 7 de março, aqui a praça, actual 25 de Junho de Maputo, revendo algumas coisas e integrando algumas outras nessa zona por onde o porto se começou a desenvolver.
Neste artigo tinhamos mostrado o esquema com a posição do segundo coberto e da Pequena Doca Interior (PDI) que, suponho, a partir de certo momento teria ficado para sul desse coberto e num artigo posterior disse que em 1895 deve ter existido um molhe a sul dessa suposta PDI e com este esquema expliquei como penso se terá passado dessa situação (que terá existido até c. de 1897/98) para a Plataforma do Cais da Alfândega (PCA) de forma rectangular que aí existia c. de 1900 (aqui vista do lado mais junto a terra e com a costa da Catembre para o fundo). 
A imagem seguinte mostra sobrepondo-se à foto actual do local, que na maioria é agora zona de cais e armazéns, onde teria estado essa PCA e o estuário que a banhava a sul e a leste.  Como as fotos da altura davam únicamente perspectivas da zona vista do nível do solo ou do estuário e são poucas e incompletas tentei combinar a sua observação com as posições da carta de Salm de 1903 que também não tem grande precisão. Por isso a representação que aqui faço do que por aí existiu por volta de 1900 é aproximada.

FOTO 1 de Google Earth
Cerca de 1900 para sul da praça: PCA e as duas pontes que dela se
projectavam para sul e o estuário em redor
Actualmente na zona que era antes de estuário: ponte-cais que limita a N o estuário e terraplenos,
continuando marítima a doca da Capitania à direita = para L da antiga PCA

Do lado esquerdo da FOTO 1 e marcado a "púrpura e preto" está um muro-cais que continuo a representar na posição que estimo teria nesta foto à esquerda de c. de 1890 e que representei nos artigos 2223 e que pouco depois teria sido substituido por outro colocado um pouco mais para sul = para baixo na imagem. 
Do lado direito da FOTO 1 para o fundo, junto a terra, tinhamos a curva e os muros / plataforma de que falámos no artigo 26 a propósito das suas FOTOS 1 e 2 por exemplo.
Podemos ver a foto de cima mais alargada para a esquerda = oeste, a direita = leste e para cima = norte e agora com o muro cais "púrpura - preto" já substituido por outro "púrpura - branco" colocado um pouco mais a sul (embora eu não tenha a certeza de como e quando isso aconteceu):

FOTO 1 alargada de Google Earth (situação na costa entre 1900 e 1903)
Carmesim: limites a oeste, sul e leste da Plataforma do Cais da Alfândega (PCA)
Castanho claro: Ponte da Alfândega, a primeira a ser construída
Preto: Ponte de Passageiros, segunda mas que já existia em 1901
Púrpura - branco: muro-cais que existiria c. de 1903

De notar que a ponte-cais Gorjão, mais visível na foto de baixo, foi construida a partir de 1902 mas só cerca de 1915 ela terá fechado a sul a zona aquática em frente à PCA e que  entretanto tinha sido transformada na primeira doca, e que só desapareceu então. Podemos também ver que o extremo a sul da Ponte da Alfândega "castanho claro" ficava aprox. à profundidade onde ponte-cais Gorjão foi construida, a cerca de 8 metros, enquanto que a extremidade da Ponte de (desembarque) de Passageiros ficava um pouco mais para sul do que a direcção da ponte-cais.
Na FOTO 2 vamos aplicar o que vimos em cima de modo a fazer evoluir o que representamos no artigo 23 do que existia em terra firme e do que foi sendo feito à medida que a praia e o estuário nessa zona foram sendo aterrados desde 1889/90 até digamos 1898, ano à volta do qual a PCA terá sido completada.

FOTO 2 de Google Earth (situação na costa entre 1900 e 1903)
Castanho claro: Ponte da Alfândega em madeira
Preto: Ponte de Passageiros em madeira e ferro
Carmesim: Plataforma do Cais da Alfândega (PCA) que tinha guindastes dos lados Sul e Oeste para levantar mercadorias das barcaças
Branco e azul: muro com grade que dividia o corredor que ligava a terra firme à PP
Púrpura - branco: muro-cais a oeste da PCA mais para sul = dentro do estuário 
Vermelho e branco: lado a oeste da rua Tavares d'Almeida com a qual a PP e o corredor de acesso a ela  do lado leste da PCA estavam aprox. alinhados.

Veremos no artigo 30 que nessa zona foi colocado um terceiro armazém entre o primeiro armazém e o muro-cais como se pode ver aqui, armazém esse que se via nesta foto tirada de terra (Casa da Alfândega) para o estuário. Ora o espaço livre que tinha existido entre o primeiro armazém e o muro-cais "púrpura - preto" que se via aqui não me parece que fosse suficiente para aí ter sido colocado depois aí o terceiro armazém e por isso assumo que depois tivesse sido colocado novo muro-cais mais afastado da terra firme original. Quer dizer sabemos que em 1890 existia um muro-cais mas não sabemos a sua posição exacta e estimamos que o muro-cais que existia em 1903 devia estar mais para dentro do estuário = sul que esse primeiro, mas nem as fotos antigas nos oferecem boas perspectivas nem as plantas têm detalhe que nos permitam ter certezas sobre o que por aí aconteceu dento da pequena margem de digamos 20 metros que seria a da evolução destas construções. 
Para contextualizar o que se viu em cima, a seguir vou compará-lo (com a margem de erro acima enunciada) com o existente ao início do desenvolvimento dessa zona, isto é uns 25 a 30 anos antes de c. de 1900. Tomo como base o levantamento de Hall de 1876 que está em linha com as plantas que vimos ao fundo deste artigo e pode-se usar as seguintes referências comuns nas duas épocas
i. a oeste da praça da Picota, depois 7 de março, actual 25 de junho: a Casa da Alfândega que aparecia em 1876 muito mais perto do estuário da altura do que vimos nas imagens deste artigo;
ii. a leste da praça: a Fortaleza junto à qual a costa do estuário tinha sido pouco alterada em 1876 e que se manteve mais ou menos na mesma condição até cerca de 1900.
Note-se que em 1876 a costa do estuário tinha sido já ligeiramente alterada com a construção do primeiro muro suporte de aterro frente à nova Casa da Alfândega e da ponte que se projectava dele para o estuário. Mas como se poderá ver pela marcação que faço representando em baixo a situação c. de 1900 essas construções costeiras iniciais rápidamente tinham sido absorvidas pelos aterros subsequentes feitos nessa zona dos quais marco os limites a sul na parte inferior da planta, os quais correspondem por ex. aos que marquei das FOTOS 1 e 2 de cima. Note-se que na planta seguinte não representei o aterro que foi feito de terra para os novos limites a norte do estuário criados pelas construções:

Planta de Hall de LM de 1876 (de O Ilustrado de 1933)
 mais o limite das construções a sul da praça de c. de 1900
Vermelho: Casa da Alfândega
Púrpura: cortinas a W e S da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição
Castanho claro - preto: Ponte da Alfândega inicial
Carmesim: limites da posição da Plataforma do Cais da Alfândega (PCA) c. de 1900
Púrpura - preto: muro-cais a oeste da PCA de 1890 até c. de 1900

Podemos assim fazer melhor ideia do salto para dentro do estuário que por exemplo a construção em alvenaria da PCA representou e não desenhei aí a PA contemporânea da PCA (construção em madeira) pois ficaria para baixo do limite da planta. Podemos relembrar nesta foto que foi tirada do muro "púrpura - preto" cerca de 1900 o lado a Oeste da PCA mais a PA em madeira que lhe era contemporânea. 
No próximo artigo vamos ver um pouco melhor os armazéns / cobertos que existiram nessa zona desde cerca de 1890 até 1905.
Série específica aqui sobre os três armazéns da Alfândega.
Série completa aqui sobre o desenvolvimento do porto até ao início do séc XX.

Comentários