Continuo o tema do artigo 25 sobre o lado a leste da Plataforma do CA (PCA) e a Ponte de Passageiros (PP) que inicialmente se projectava do acnto a SE da PCA para o estuário, A primeira foto deste artigo mostra as estruturas da zona portuária por volta de 1900 vistas do lado leste da Baixa de Lourenço Marques, actual Maputo e é reproduzida do livro de Alfredo Pereira de Lima (APL) "História dos Caminhos de Ferro de Moçambique", exemplar que faz parte das colecções da Biblioteca Pública Municipal do Porto.
A legenda que APL lhe colocou é "o desembarcadouro do presídio" o que me parece referir-se à situação duns 10 a 20 anos antes da foto e que ao seu tempo estaria já desactualizada. Todavia essa zona litoral a sul e a leste da praça 7 de março, actual 25 de junho (aqui chamada só praça) onde inicialmente se faziam os embarques e desembarques no burgo e que vimos por exemplo no artigo 17 ainda era bem reconhecível nesta foto.
FOTO 1
Verde escuro: ângulo à esquerda, indicando o canto a SE da praça 7 de março
Vermelho e branco: rua Tavares d'Almeida (Td'A) de uma só faixa
e que limitava a praça do lado leste
Verde médio: muro de suporte saindo do canto a SW do baluarte na direcção do W
Verde claro: plataforma saliente para sul do muro "verde médio",
uma alteração em relação ao passado na zona
Verde e preto: muro de suporte em curva entre a plataforma "verde claro"
e a construção "verde claro e branco" em primeiro plano
Verde claro e branco: construção penetrando no estuário perpendicularmente a terra
Azul médio: frente do edifício da na altura Capitania do porto
Púrpura: Fortaleza vista do lado virado a oeste (e quase nada do lado a sul)
Amarelo: baluarte com ameias que ficava junto à esquina a SW da fortaleza
e que agora não existe
Branco: topo do Bank of Africa de c. de 1893 sito na actual rua de Timor Leste,
local actual da agência mBIM
Ao tempo desta FOTO 1, do lado de terra firme continuava a existir o muro de suporte "verde médio" junto ao baluarte a SW da Fortaleza, o mesmo que se via antes na FOTO 2 do artigo 20, permanecendo o seu lado mais a leste alinhado com o lado sul do baluarte "amarelo", e também se via aqui ainda mais recuado no tempo. No entanto para leste e para sul desse muro (e por isso alterando-o em parte e/ou retirando-o de vista) tinham surgido nesta FOTO 1 sobre o estuário as construções "verde claro", "verde e preto" e "verde claro e branco" que não existiam tempos antes (ver as NB 1 e NB 2 ao fundo deste artigo). Note-se que na FOTO 1 do artigo anterior não se consegue ver completamente a ligação dessas construções a terra pois ela ficava aí um pouco para a direita da objectiva.
Temos então na FOTO 1 o que deveria ser o início junto a terra do muro de suporte a leste da Plataforma do Cais da Alfândega (PCA) o qual na extremidade para a direita deveria ser prolongado mais para dentro do estuário pela Ponte de Passageiros (PP) mas a objectiva não estava virada para esse lado e por isso não se pode confirmá-lo.
Passamos para a FOTO 2 que foi retirada do livro "Xilunguíne" de Alexandre Lobato e cuja legenda original inscrita na versão completa era "passenger landing pier", o que se refere específicamente à parte que marco a "preto" na foto. Apesar desta foto ter sido tirada na direcção oposta à da FOTO 1, pela construção em curva parece-me que mostra genéricamente o mesmo local e tudo leva a crer que na mesma situação e época. Para além das construções portuárias podemos observar nas duas fotos postes de distribuição eléctrica o que nos assegura que elas são de 1897 pelo menos ou posteriores.
Note-se que os pequenos pilares em ferro junto ao muro em curva na FOTO 2 são os mesmos que na FOTO 1 se viam ao fundo da rua Tavares d'Almeida (Td'A) aí marcada a "vermelho e branco" (e que provávelmente terão sido deslocados dessa posição para outra mais para sul quando o Capitania Buildings foi construído por aí anos depois) e desse modo podemos estimar aproximadamente na FOTO 2 qual seria a direcção dessa rua, a qual estaria assim para trás / direita do fotógrafo. A parte central da praça 7 de março ficava imediatamente para oeste dessa rua como indiquei a "verde escuro" na FOTO 1 relativamente à sua esquina a SE, ou seja na FOTO 2 essa praça ficava para a direita = oeste da continuação em terra dos segmentos "preto" - "carmesim" - "verde claro e branco".
Temos então na foto seguinte a PP ao fundo e em primeiro plano um muro de suporte do terrapleno que está para o seu lado oeste e a que nestes artigos chamo PCA. Entre o topo do muro de suporte da PCA e um muro de vedação paralelo e colocado mais para oeste, passava um corredor ligando a PP (a sul) à terra firme (a norte) de que tinhamos falado na foto dos refugiados boer em 1899/90 (artigo 9).
FOTO 2
Preto: Ponte de Passageiros (PP), a maior profundidade no estuário
Carmesim: muro de suporte a leste da PCA e imediatamente a norte da PP
Carmesim: muro de suporte a leste da PCA e imediatamente a norte da PP
Verde claro e branco: molhe penetrando no estuário perpendicular a terra e alinhado
com o "carmesim"
Verde e preto: muro em curva entre o molhe "verde claro e branco"
e o limite a oeste da plataforma "verde claro"
Verde claro: limite a sul duma duma plataforma do lado de terra
Vermelho e branco: apontaria para o lado mais a leste da rua Td'A
Com a FOTO 2 completa-se a vista parcial que tinhamos na FOTO 1 das estruturas existentes no lado a leste do Cais da Alfândega e próximas da Fortaleza e antes da construção do Capitania Buildings que aconteceu a partir de 1903 (ver NB 3).
Destas duas primeiras fotos pode-se estimar que a altura do pavimento na zona da curva "verde e preto" em relação ao leito do estuário seria à volta duns 5 metros. Seria esse então o resultado do acumular de aterros que tinham sido feitos por aí desde digamos a chegada da Expedição das Obras Públicas em 1877 até cerca de 1900.
A curva para o lado de terra, o muro de suporte "carmesim" com o topo inclinado para oeste e a cabine junto ao muro que em parte se vêm nas FOTOS 1 e 2 parecem corresponder ao que aparece na FOTO 3 seguinte. Esta é parte duma foto dos Lazarus que já vimos aqui com mais detalhe e que será de entre 1899 (ano da sua chegada a LM) e c. de 1903/4 pois para a esquerda = oeste do CA, ao nivel da ponta da PA, ainda não tinha sido construída na zona a ponte-cais Gorjão.
FOTO 3
Preto: Ponte de Passageiros (PP) Carmesim: muro de suporte a leste da PCA como na FOTO 2 e presumo como na 1 de cima Verdes: muros e plataformas entre a terra e o estuário, aprox. como nas fotos de cima Branco e vermelho: berma mais a oeste da rua Td'A da qual na FOTO 2 tinha marcado o extremo a sul da berma a leste (para direita da desta FOTO 3) Rosa: armazém com o lado a leste no alinhamento do que vimos acima Ocre: cabine do lado leste da PCA de que falaremos depois mais desenvolvidamente Azul claro (ângulo): kiosk Pyramid na praça 7 de março, actual 25 de junho Outras marcas: outros armazéns / cobertos da Alfândega |
Em primeiro lugar, parece-me então que estas três fotos são relativas ao lado a leste da PCA e à Ponte de Passageiros (PP), situação posterior à Pequena Doca Interior e anterior à criação na mesma zona da Primeira Doca (PD)
Relativamente à evolução e calendarização das construções nesse local, vimos no artigo anterior uma FOTO 1 que deduzi mostraria a primeira fase dessas estruturas com o muro de suporte da PCA sem reforços laterais e uma FOTO 2 (já com o CB) que mostraria a última fase com o muro de suporte com reforços. A FOTO 3 desse artigo também com o CB e que seria a mais recente mostrava o muro com reforços mas a zona da PP parecia modificada e por isso podia estar-se já na transição para a PD.
Assim as FOTOS 2 e 3 deste artigo correspondem à FOTO 1 do artigo anterior e seriam da primeira fase do lado a leste da PCA e Ponte de Passageiros (PP). Usando então o muro de suporte da PCA como elemento para faser a distinção teríamos tido então:para estas construções:
Primeira fase: muro a leste da PCA sem reforços laterais
Última fase: muro a leste com reforços laterais (o que se confirma por alguns desses reforços ainda aparecerem na foto com as obras para a PD em curso).
Quanto à PP, da análise destas fotos parece-me que pode ter também havido aumento da densidade das tábuas laterais (que na FOTO 3 de cima parecia maior do que nesta foto que seria mais antiga, embora o muro estivesse na primeira fase) mas com estas fotos tal não é suficientemente claro. No entanto volto a abordar o assunto nos artigos 34 e 35 onde tendo em conta outras fotos da PP coloco a possibilidade de ter havido pelo menos três fases.
Estou seguro que todas as fotos vistas nestes dois últimos artigos são anteriores à Primeira Doca (PD) porque em todas a PP e o muro a leste da PCA, as construções mais a leste do porto nessa altura, apontavam para a berma a oeste (junto à praça 7 de março) da rua Tavares d'Almeida "branco e vermelho" (o que deixou de acontecer com o surgimento posterior da PD). Exemplo disso é o caso do kiosk Pyramid que ficava numa esquina interior da praça do lado leste e que realçamos a "azul claro" nas FOTOS 3 e 4 permitindo confirmar esse alinhamento:
FOTO 4 (do lado a SW da praça que se vê para o fundo à direita da FOTO 3)
Azul claro (ângulo): kiosk Pyramid que se via na FOTO 3 e que actualmente estaria onde estão as duas pequenas árvores ao centro desta imagem Vermelho e branco: berma a oeste da rua Tavares d'Almeida (Td'A), como na FOTO 3 |
Vermelho e amarelo: berma a leste da rua Td'A |
A rua Td'A tinha a berma a oeste "vermelho e branco" do lado da parte central da praça e a berma a leste "vermelho e amarelo" uns 9 metros para leste passando ao lado da esquina a NW do Capitania Buildings.
Voltando à FOTO 3 e relativamente aos armazéns, o "rosa" sucedeu ao segundo coberto nessa posição a sul da praça. Para oeste do sul da praça aparecia na FOTO 3 a "castanho" o primeiro armazém que também tinha sucedido a um coberto inicial e que entretanto tinha sido ampliado (mantendo-se o eixo central) para oeste pelo armazém "castanho tracejado". Mais recente e mais afastado de terra firme era o armazém "castanho e rosa" cujos grandes respiros na cumeeira do telhado permitem localizá-lo nesta foto. Ele estaria aí para o fundo = sul do armazém "castanho" que também se via na FOTO 3 de cima, o qual por sua vez ficava pouco a sul da Casa da Alfândega, a da marca amarela nessa foto e que não se consegue ver bem na FOTO 3 de cima.
O tema da evolução da PP inicial e do muro a leste da PCA até ao tempo da nova PP e da Primeira Doca continuará a ser desenvolvido nos artigos 34 e 35 desta série sobre o porto de LM no início, fazendo então aí melhor ligação entre as situações inicial e presente na zona.
No próximo artigo veremos cartas cobrindo essa zona inicial das instalações portuárias de LM na costa entre a Fortaleza e o lado sul da praça 7 de março, actual 25 de junho e tentaremos indicar em fotos actuais o que por aí existiu digamos entre 1899 e 1904.
NB 1: Em relação ao início do local, com a construção da plataforma "verde claro" sobre a praia e o depois sobre estuário desapareceu de vista a secção mais a oeste do muro de suporte de aterro "verde médio" original, ou seja aquela onde este fazia esquina com outro muro que se dirigia para o interior das terras. Pode ver-se aqui o muro "verde" de origem ainda antes de aparecerem essa plataforma "verde claro" e o resto das construções "verdes" para a direita = sul do muro.
NB 2: Nas FOTOS 1, 2 e 3 deste artigo as três construções "verdes" que limitavam o canto de estuário a SE da praça pareciam ter-se mantido no mesmo estado. Penso ainda que a plataforma "verde claro" já existia cerca de 1899/1900 pois aparecia a sua ligação ao muro "verde médio" inicial na foto com os boer na plataforma do CA e mais para trás ainda no tempo viu-se essa ligação (entre as construções "verde claro" a "verde médio") nas duas fotos da MONTAGEM 1 do artigo 24. No entanto nessas duas fotos não consigo ver se o muro em curva "verde e preto" existia ou não pois ele ficava longe da objectiva e numa posição que estaria um tanto obstruida pelo lado a leste dessas construções mas infiro que essa zona que fazia esquina se deve ter mantido na mesma no período coberto pelas 6 fotos que aqui referimos.
NB 3: De realçar que na FOTO 2 a construção (ou combinação de construções pois podem ter sido feitas por fases) que penetrava de terra para o estuário não deixava uma entrada de água deste para oeste = para a direita onde teria estado a suposta Pequena Doca Interior = PDI, como suspeitámos que aconteceu por aí em 1895 tendo em conta a FOTO 1 do artigo 23 e o seu molhe "azul escuro".
Ao tempo desta FOTO 2 esse molhe já teria sido completado pelas novas construções "carmesim" e "verdes" feitas entre ele e terra, concretamente presumo que o molhe "azul escuro" teria estado na direcção para oeste do lado mais para "lá" = para sul da faixa "carmesim" vista na FOTO 2. Lembro que a suposta PDI terá existido a sul do segundo coberto / armazém da Alfândega e da praça cerca de 1897/98 e que uma vez fechada a sua abertura do lado leste se completou a PCA assumindo a sua forma mais ou menos rectangular de que se vê o lado leste na FOTO 2
NB 4: Disse no artigo 22 (marcado aqui a "castanho escuro") que para a direita do que se vê na FOTO 2 existiu a certa altura um muro paralelo a terra colocado entre a base do segundo coberto da Alfândega (do lado de terra desse muro) e o que suponho tenha sido a pequena doca interior, PDI (do lado da água desse muro). Não sei em que posição exacta terá estado esse muro e se terão sido erigidos muros desses em várias posições progressivamente para sul, mas uma dessas posições poderá corresponder (ficando-lhe aí para a direita, para oeste) à separação que se vê na FOTO 2 de cima entre as secções "verde claro e branco" e "carmesim".
NB 5: O topo a leste do armazém "rosa" da FOTO 3 teria estado próximo do canto inferior esquerdo da FOTO 4 e o resto desse armazém estaria daí para a esquerda = oeste, no limite a sul da praça e aterro subsequente mais para sul.
Série completa aqui sobre o desenvolvimento do porto até ao início do século XX.
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