Drenagem do pântano de Lourenço Marques (6) - do lado oriental da Baixa e demais considerações

Retomando a série da drenagem do pântano mas integrando o que aprendemos com a série do jardim botânico e a evolução dos seus lagos na faixa sul e concentrando tudo aqui..
Vamos então falar da drenagem do pântano de Lourenço Marques do lado oriental = leste da Baixa desde a face sul do jardim botânico até à enseada da Maxaquene, dado que até agora tinhamos olhado mais para o lado oposto do pântano (início no HoM aqui). 
Num postal das águas Apollinaris de cerca de 1900 vemos em primeiro plano a barreira da Maxaquene acima do paiol e ao fundo a zona baixa com o pântano já drenado e ocupado por várias construções. Não se vê bem o que existia junto à barreira no seu sopé mas ficamos com uma ideia do local:

FOTO 1 de cerca de 1900
Setas azuis: direcção por onde teria sido escavado o canal de drenagem do pântano
Amarelo: direcção da Av. da República, actual 25 de Setembro
Roxo: direcção da Rua da Imprensa, o jardim ficava-lhe para a direita = oeste

Vamos ver então o que existia inicialmente e como foi drenado o pântano nesta zona para se chegar à situação da FOTO 1 e que em termos de terreno é a actual. 
No mapa de JEPPE de 1878 vê-se que o swamp = pântano rodeava completamente a "ilha" onde tinha sido criada Lourenço Marques e que ele se ligava ao estuário tanto a poente = oeste como a nascente = leste, o lado que nos preocupa aqui.

MAPA de F. JEPPE de 1878
(original disponível no site delagoabayworld

Swamp = pântano: mancha azul circundando a "ilha" pelo norte 
com duas ligações ao estuário
Vermelho: posição da parte sul do jardim botânico, aproximadamente
Rectângulos pretos: "gardens"

Noto que os "gardens" da legenda eram as "machambas" a que tinham sido dados nomes específicos e que estavam colocadas nos terrenos acima da encosta. Em cima marco o jardim botânico a vermelho pois parece-me que estaria em parte abaixo das machambas embora Pereira de Lima - maputo100anos - dissesse que foi criado “num terreno sito na Machamba dos Soldados e na Machamba do Governador”. Como vimos aqui uma parte da actual faixa inferior do jardim fez parte do pântano e outra estava na sua margem norte na base da encosta, mas não sabemos exactamente onde foi a separação e por isso a marca vermelha indica só aproximadamente a posição do jardim. 
Vamo-nos agora focar na zona de pântano que ia do sul do jardim para a direita = oriente = leste. Assim na MONTAGEM em baixo, à esquerda temos a combinação do traçado viário do burgo inicial em linhas a cheio e do plano para a futura cidade em linhas a tracejado, à direita temos o plano já realizado e que constitui aproximadamente o traçado actual na zona da Baixa da cidade.

MONTAGEM de PLANTAS de 1887 e 1925/26 (clique para aumentar)
Marcha azul riniforme em 1887: lago longo a sul do jardim
Elipses carmesim: faixa a sul do jardim onde houve lagos (manchas azuis)
Árvore verde: centro da zona inicial do jardim
Vermelho: limites do terreno do jardim antes de anexação de parte do da Vila Jóia
Linhas azuis (escuro e claro): canais de drenagem do pântano em 1887
Circunferência laranja: antigo paiol.
Linha laranja claro (à esquerda): Av. Central, depois Manuel de Arriaga, actual Marx
Outras cores: avenidas actuais que rodeiam o jardim (em plano e executadas)
Vê-se na planta de 1887 um lago longo que devia corresponder ao inicial que se via aqui na FOTO 2 e em torno do qual se iniciou o jardim. Um dos principais canais de drenagem passava quase na "horizontal" (linha poente - nascente) a sul do jardim definindo aí o seu limite, O lago que ficava próximo era uma bacia de retenção para as águas que desciam ou brotavam da encosta e teria sido aí escavado de forma a evitar que essas águas fossem directamente para o canal de drenagem e principalmente que transbordassem para o pântano. 
Os engenheiros da expedição das Obras Públicas (OP) chegados de Lisboa em 1877 para criar a nova cidade em princípio tinham duas opções para escavar o canal de drenagem do pântano, uma ligando-o aos dois lados do estuário (ver Opção A do diagrama em baixo) e outra ligando-o só a um (ver Opção B). Quanto maior fosse o declive do canal mais rápido/volumoso seria o escoamento da água que conduzia. Partindo, para exemplificar, do princípio de que o fundo do pântano era completamente plano e horizontal (seria a base do rectângulo a preto na origem do modelo) podemos ver como podiam ser tratadas as duas opções. 

MODELO com perfil de pântano para escavação de canal de drenagem
Rectângulo preto: pântano inicial onde iria ser escavado o canal de drenagem
Traço azul: leito do canal de drenagem conforme as duas opções
Carmesim: ponto de separação dos canais de drenagem na Opção A
Mancha laranja claro (acima do traço azul): material a escavar 
e remover do pântano 
para se escavar o canal de drenagem
Mancha cinzenta: material que ficaria no pântano 
depois do canal de drenagem ser escavado
Castanho escuro: terra firme sob o pântano que não seria retirada na escavação do canal de drenagem (se não fosse necessário fazê-lo, caso deste MODELO)
Azul claro ondulado: nível do estuário na maré baixa normal
Azul escuro ondulado: nível do estuário na maré alta, 
não inundava o pântano se houvesse diques
Vermelho: diques com comporta para deixar sair a água do canal de drenagem. 
É também um pequeno muro na Opção B à direita entre o pântano e o estuário

Como se pode ver no MODELO, na Opção A o escoamento da água era muito melhor pois o declive do canal era muito maior do que na B e é possível que tenha sido a opção aplicada. Para tal teria de se de definir o ponto de sepraração dos canais o qual, naturalmente, olhando-se para a origem e direcção dum curso de água desenhado no mapa de HALL de 1876, devia ser em torno da actual avenida Samora. 
Os diques junto ao estuário marcados no MODELO eram necessários para evitar que o pântano quando estivesse já a secar voltasse a ser inundado no caso de o nível de água do estuário subir acima do da maré baixa. A construção de tais diques em locais estratégicos deve ter sido a primeira iniciativa da expedição das OP relacionada com a drenagem.do pântano. Comportas devem-lhes ter sido acrescentadas quando o canal de drenagem foi escavado de forma a que a água extraída do interior pudesse escoar para o estuário quando tal fosse possível.
O mapa sequinte é o do Eng. António José de Araújo e similarmente à PLANTA de 1887 da MONTAGEM de cima mostra as vias do burgo inicial (aqui com traços cinzentos), os planos para as novas vias (marcadas a castanho) e ainda os canais de drenagem do pântano com as linhas verde/azul. Confirma-se que um dos canais de drenagem principais passava a sul do jardim e vê-se pela primeira vez que ele atingia o estuário (enseada da Maxaquene) do lado nascente = leste da Baixa.

MAPA de Araújo de 1892
Vermelho: limites actuais a sul do terreno do jardim botânico
Mancha verde: antigo pântano do centro para leste da Baixa, aproximadamente
Azul escuro mais nítido: canal de drenagem principal que passava abaixo do jardim
Carmesim: provável ponto de separação do canais de drenagem
Setas azuis: duas direcções principais de drenagem 
para cada lado desse ponto de separação
Branco: posição do dique e comporta do canal de drenagem a nascente do estuário
Linha cinzenta (horizontal acima de "estuário"): limite aproximado da terra firme actual 
depois de ter sido feito o aterro da Baixa e da enseada da Maxaquene
Amarelo: plano para a futura Av. da República, actual 25 de Setembro
Castanho claro: plano para a futura Av. Álvares Cabral, actual Manganhela
Linha laranja claro: plano para a Av. Central, depois Manuel de Arriaga, actual Marx
Roxo e branco: plano para as futuras Rua da Imprensa e 
Av. Augusto de Castilho, actual Lenine
Verde claro: plano para a futura Av. Aguiar, depois D. Luís, actual Samora
Circunferência laranja: antigo paiol
Quadrado rosa: posição aproximada actual do Teatro Avenida

Como disse aqui, não conheço uma foto clara do canal de drenagem a passar mesmo abaixo do jardim e a correr para a enseada da Maxaquene 
mas parece-me que ele aparece na FOTO 3 
de cerca de 1886 num local para nascente = leste do quarteirão do jardim e entre ele e o seu possível dreno (dique com comporta) na enseada. É este local que passados uns vinte anos se tinha transformado no que se via na FOTO 1 que no entanto tinha sido tirada um pouco mais acima da encosta.

FOTO 3 de cerca de 1886
Mancha verde: antigo pântano não completamente enxuto
Traço azul: deve ser o canal de drenagem que aqui estaria correndo 
para a enseada à esquerda = leste = nascente
Círculo azul: seria por exemplo um dique intermédio
 relacionado com o canal de drenagem? 
Castanho escuro: fortaleza, mostrando a grande distorção para o fundo da foto
Amarelo: direcção da futura Av. da República, actual 25 de Setembro
Roxo: direcção da futura Rua da Imprensa, 
ficando o jardim para poente = direita dela
Seta castanho clara: aproximadamente direcção da futura Av. Manganhela 
que ficou na base da encosta depois de escavação desta zona

Entre o local da barreira donde a FOTO 3 foi tirada e o burgo (que estava ainda quase completamente dentro da linha de defesa) notava-se bem onde tinha sido o pântano. Nesta zona o canal de drenagem teria sido aí escavado para ficar encostado à base da encosta e drenaria para a enseada da Maxaquene à esquerda da foto. Como não havia máquinas escavadoras não se poderia escavar o pântano de forma a que o canal de drenagem ficasse com grande declive pelo que o seu fluxo não seria grande. Mas o objectivo destes trabalhos não era a curto prazo, pelo menos uns cinco anos devem ter passado antes de aparecerem resultados visíveis no pântano e na melhoria das condições ambientais e sanitárias na Baixa.
Parece-me que a extração e a evacuação de água por simples efeito da gravidade do terreno de lama-argilosa dum pântano que tinha trechos com até 100 metros de largura para um canal único devia ser difícil e/ou pouco eficaz. Suponho que a função primordial do canal de drenagem pelo menos num local desabitado como o da FOTO 3  tenha sido a recolha da água de chuva e das nascentes que descesse da encosta, o que combinado com os diques instalados nos seus extremos pelo menos impedia o agravamento do problema do pântano. Assim sendo bastava esperar que o pântano secasse principalmente devido à evaporação pelo calor, como já disse anteriormente, e na FOTO 3 tirada após cerca de 8 anos de drenagem notava-se boa evolução desse processo. Faltava ainda a fase seguinte que seria aterrar essa depressão de terreno para evitar que lá se acumulasse de novo água por exemplo se os diques/comportas entre o estuário e a depressão onde o pântano se tinha formado abrissem em caso de avaria ou de tempestade e/ou se o canal de drenagem para a enseada - enquanto ele se mantivesse em funcionamento - não conseguisse conter as enxurradas descendo da encosta.
Esse canal de drenagem vazava a água que transportava numa praia que ficaria agora aproximadamente entre o Teatro Avenidao Tribunal (antigos Paços do Concelho) e o restaurante chinês antigo Macau (os trabalhos que transformaram esse ponto da enseada no aterro actual aparecem na quarta foto deste artigo). Não conheço foto antiga que mostre o seu dique/comporta nesse ponto mas na FOTO 5 em baixo onde aparece a enseada da Maxaquene (foto que deve ser de 1901 porque mostra os Paços do Concelho em acabamento) parece-me ver guardas laterais duma passagem sobre uma vala na estrada entre a Baixa e a base da Ponta Vermelha. Parece-me que essa vala teria sido a de drenagem, embora pela data e construções no antigo pântano que se vêm para a direita nessa altura estivesse provávelmente a ser usada como canal de esgoto da zona.

FOTO 5 - Wexelsen (clique para aumentar)
Branco: parece-me ver-se uma vala vinda do interior (da direita na foto)
e a passagem da estrada sobre ela 
Árvore verde: parte a sul do jardim botânico, donde viria
o canal de drenagem para esta zona do estuário/enseada
Mancha verde: onde tinha sido pântano numa depressão para sul da base da encosta
Setas azuis: direcção por onde teria sido escavado o canal de drenagem 
que vertia para o estuário a leste = nascente
Amarelo: direcção da Av. da República, actual 25 de Setembro
Laranja: esquina a nordeste do paiol, foi para lá da esquina oposta
 que foi tirada a FOTO 3

Aqui no canto inferior direito do Google Maps vê-se aproximadamente o local do ponto da marca branca da FOTO 5. Para se ter ideia do posição do pântano e do seu canal de drenagem nesta zona pode ver-se também na parte de cima dessa imagem e um pouco para a sua esquerda = poente o canto do jardim botânico que fica na esquina entre a Rua da Imprensa / Lenine, antiga Castilho e a Av. Manganhela, antiga Álvares Cabral que ladeia o jardim a sul. Foi por aí que esteve o lago e passou o canal de drenagem que constribuíram para a drenagem do pântano nessa zona. 
Para finalisar de referir que um relatório françês de 1903 dizia que havia grandes obras públicas em curso em Lourenço Marques, actual Maputo de que se destacava a secagem de um grande pântano. Cerca de 313 000 metros (cúbicos?) de terra já tinham sido trazidos sendo as necessidades de 500 000 metros (cúbicos?) para a conclusão deste trabalho que iria duplicar a área disponível na Baixa. Pela primeira vez vejo expressamente referido que para o pântano foi necessário trazer terra de fora mas não há imagens dos trabalhos executados nessa época, é possível até que se referisse com algum atraso aos trabalhos da Obras do Porto para aterro da enseada da Maxaquene, que na parte inferior da FOTO 5, e que tinham sido interrompidos cerca de 1899 e só recomeçaram depois de 1915. 

Mais pormenores sobre a construção dos canais de drenagem e opções em função do perfil do pântano
1. MODELO com perfil de pântano para escavação de canal de drenagem (modelo de cima)
Assumindo (muito ilustrativamente) que o canal de drenagem a escavar no pântano tinha 8 unidades de comprimento e 1 de altura, nas duas Opções o volume de lama-argilosa que seria preciso escavar e remover do pântano era a mesma (4 unidades quadradas) e a que restaria no pântano (parte que não seria preciso aterrar depois de drenado que seria também um factor importante para a decisão) era também a mesma. Então do ponto de vista do volume de trabalho a efectuar com terra as duas Opções eram iguais. No entanto como vimos a Opção A era muito melhor em termos de escoamento das águas. Reverso da medalha é que na Opção A a área em que havia escavação do canal a maior profundidade era mais extensa mas como não eram os Engenheiros que iriam cavar é de supor que tenham preferido a Opção A. Para tal ter de de definir para meio da pântano um ponto de separação dos canais para os lados poente e nascente e que deve ter ficado algures entre as actuais avenidas Marx e Samora. Se possível esse ponto deveria acompanhar a que existiria na natureza mas os canais de drenagem viriam reforçá-la e também tentar reduzir o volume de água que correria naturalmente dessa zona para sul, fazendo-a prioritáriamente rodear a "ilha"..Sendo o ponto de separação dos canais definido em conjunção com a da natureza, isto é pela zona onde a terra firme seria mais alta estaria facilitado a criação do declive para os canais de drenagem para um e outro lado dela. Essa zona devia de facto ser a mais alta pois foi nas direcções dessas avenidas Marx e Samora que tinham sido abertas as duas saídas da Baixa pelo pântano para a parte alta do burgo. 

2. Perfil de pântano com modelo ideal para escavação de canal de drenagem
Vejamos um modelo mais favorável do que o visto anteriormente e provávelmente mais realista para a escavação dum canal de drenagem em termos de declive resultante que seria como se segue:

Perfil de pântano com modelo ideal para escavação de canal de drenagem
Como para o modelo de cima, mas sendo mais claro que o ponto de separação dos canais de drenagem coincide com o ponto de "separação de águas" natural
Com este modelo não se alteram as conclusões a que chegamos para o anterior desde que se assegurasse que o ponto de separação dos canais mais ou menos acompanhasse o ponto de separação de águas que existisse na natureza.

3. Perfil de pântano com modelo mais desfavorável para escavação de canal de drenagem
Se o pântano em vez ser mais elevado ao centro na direcção Oeste - Este fosse aí mais baixo, o declive do canal de drenagem seria menor. Se fosse necessário assegurar um declive mínimo (porque para além da viscosidade da água que tem de ser vencida pela componente da força da gravidade na direcção do fluxo, há obstáculos no canal, "ondas" no leito, pedras caídas, curvas, etc) seria obrigatório que o canal de drenagem entrasse para dentro do estuário, passando para lá da praia. Isso significaria menos tempo em que o canal pudesse escoar porque haveria menos tempo em que o nível da maré estaria abaixo do nível da saída do canal. 

Perfil de pântano com modelo mais desfavorável 
para escavação de canal de drenagem
Polígono preto: pântano inicial onde irá ser aberto o canal de drenagem,
 nesta opção caso separado em duas partes
Traço castanho: leito do estuário em declive a partir da praia
Traço azul escuro: declive mínimo necessario para o canal de drenagem

Traços azuis claro I: declive para a praia como nos modelos de cima 
mas que com o pântano mais baixo ao centro na direcção O - E não seria suficiente
Traços azuis claro II: bom declive para o canal mas que nunca atingiria o leito do estuário
 e era por isso impossível de realizar
Carmesim: ponto de separação dos canais de drenagem na Opção A em consideração
Mancha laranja claro (acima do traço azul): material a escavar 
e remover do pântano 
e da praia para se abrir o canal de drenagem
Cinzento: terra que ficaria no pântano depois do canal de drenagem ser aberto
Castanho escuro: terra firme sob o pântano de que neste modelo teria de ser retirada uma parte, preferenciamente o menor possível
Azul claro ondulado: nível do estuário na maré baixa normal
Verde claro ondulado:  nível do estuário na maré baixa excepcional, 
só nesse altura o canal do traço azul escuro drenaria para o estuário
Azul escuro ondulado: nível do estuário na maré alta, não inundava o pântano se houvesse diques
Vermelho: diques e comportas, estas neste caso construídas abaixo do nível da praia
4. Podemos ser levados a pensar que o canal de drenagem serviria também para evacuar a água da chuva que caísse directamente em cima do pântano e que retardava a sua drenagem. Mas a menos que a superfície do pântano tivesse declive natural descendo para a vala do canal, com os trabalhos que se fizeram essa água da chuva não seria evacuada rapidamente. Do que se trata aqui é sempre escavar-se um canal de drenagem que como disse no artigo sobre o pântano do Maé teria no máximo 1.5 m a 2 metros de profundidade e uns 2 a 3 metros de largura e que pouco modificaria o total da superfície do pântano. Trabalho muito diferente teria sido os de criar declive em toda a superfície do pântano de modo a que a água da chuvas descesse para esse canal de drenagem, que dizer que houvesse dois declives um das bordas do pântano para o canal de drenagem e outro daí para a praia no estuário. Esta opção teria drenado o pântano mais rápidamente mas como tempo não podia ser considerado grande problema dada a clara escassez de recursos a sua razão custo/benefício teria sido altíssima e terá por isso fácilmente sido posta de parte,

Referência a teses de doutoramento e um artigo
Os trabalhos académicos seguintes cobrem genéricamente o tema da drenagem do pântano de Lourenço Marques naturalmente com abordagens diferentes da seguida aqui pelo HoM e podem por isso complementá-la: 
Título da sua tese (clique na ligação): Conservação da Arquitetura e do Ambiente Urbano Modernos: A Baixa de Maputo
Orientadores: Professores Doutores Arquitetos Walter Rossa e Giovanni Carbonara
Coorientador: Professor Doutor Arquiteto Júlio Carrilho
Ramos de conhecimento: Arquitetura e Urbanismo/Restauro da Arquitetura

Titulo do seu artigo: As obras de saneamento e o traçado das primeiras avenidas em Lourenço Marques, Moçambique
Algumas passagens não exaustivas que me parecem mais relevantes sobre o conjunto dos trabalhos descritos nesta série de artigos do HoM:
Tese nota 33 de fim de página - página 55
"Pereira de Lima refere que, a Stuart Hall “se ficou devendo o estudo mais completo que conhecemos, datado de 1876, para o saneamento de Lourenço Marques. Propunha a abertura, no pântano, de um canal interior junto à base da encosta sobranceira à povoação, o qual serviria não só para o dessecamento do mesmo pântano, mas também para o serviço marítimo de uma nova cidade projetada nas alturas de Mavilene, junto à Estrada para Li(n)demburgo, no topo portanto da colina do Machaquene. A esse alto também chamavam de Alto de Buenos Ayres ou Bairro Alto” (Lima, 1969: s.p.)."

Artigo pág 136
Projectos de Hall - "O “Projecto de esgôto do pantano” estabelecia uma rede de valas coletoras junto à base das encostas do Maé e da Maxaquene, para a recolha da água das nascentes que, juntamente com a água das marés, alimentava o pântano do Maé. Sucessivamente, um sofisticado sistema de valas guarda-mato, junto ao sopé “das colinas, passaram a recolher águas despejadas pelas nascentes e transportadas ao coletor central por valas de derivação, passaram a ser despejadas ao mar” (Lima, 1968: 48), durante a maré baixa"

Artigo pág 136
"As obras de enxugamento do pântano do Maé foram iniciadas a partir de meados de 1877 ...com a abertura de valas, a colocação de drenos e a construção de um dique marginal (onde assentou mais tarde o caminho de ferro) ..... Esse dique partia do extremo noroeste da vila, cercando “completamente todo o terreno lodoso descoberto nas pequenas marés”... , impedindo o seu alagamento com as águas salgadas. O saneamento do pântano arrastou-se até às primeiras décadas do século XX. 
As obras do caminho de ferro de ligação ao Transval, com o primeiro troço inaugurado no final de 1887, permitiram drenar uma faixa de terreno marginal bastante extensa, sucessivamente ampliada pelos terrenos conquistados ao rio pela construção faseada do porto. Todavia, e apesar do empenho nas obras, a baixa do Maé permaneceu até ao início do século XX com uma enorme superfície sem escoante a uma cota inferior à do mar, onde, naturalmente, as águas continuaram a acumular-se."

Citação em nota de rodapé de interessante texto de António Enes: "Segundo António Ennes, em 1895, pouco “[...] se havia feito do lado do pântano do Maé, que, todavia, também já estava dividido em ruas e quarteirões... no papel-tela. O [...] casario particular da cidade, apesar da míngua de terreno, parou aquém, enfileirada à espera que a engenharia e a ciência financeira resolv[essem] o problema de secar, consolidar, sanificar alguns milhões de metros quadrados de lameiros pestilenciais com os recursos disponíveis de um município que t[inha] 80 contos de réis de receita anual, ou de uma província que costuma[va] ter centenas de contos de défice orçamental.” (Ennes, 1945: 33-34)."

Tese página 71 sobre o p
lano da expedição das Obras Públicas: 

"O “Progecto de esgôto do pantano”, no plano de 1878, propõe uma rede de valas coletoras junto à base da encosta, para a recolha da água das nascentes, que deviam ser encaminhadas para as adufas na orla da praia (situadas, uma no Maé, e outra, na Maxaquene), a vazar na maré baixa. Essa operação foi iniciada a partir de 1877, com a abertura de valas, a colocação de drenos junto ao sopé da encosta da Maxaquene ...."

Tese página 125

"Paralelamente à obras de beneficiação do porto, decorriam as obras de saneamento das áreas alagadas em torno do antigo núcleo urbano. As águas das nascentes da encosta da Maxaquene corriam a céu aberto nas novas avenidas e os problemas derivados da falta de uma rede de esgotos ou de abastecimento de água eficaz agravavam as condições higiénicas da cidade e de vida dos seus habitantes."

Título da sua tese: De Lourenço Marques a Maputo : genèse et formation d'une ville.
Architecture, aménagement de l'espace. Université de Grenoble, 2014. Français. <NNT :
2014GRENH012>. <tel-01155128>
HAL Id: tel-01155128
https://tel.archives-ouvertes.fr/tel-01155128

Tese página 91
"... Une digue est également aménagée sur 1 200 m pour empêcher l’entrée des eaux salées des marées. Un grand caniveau (sarjeta) à ciel ouvert est aménagé pour l’écoulement des eaux des marécages (pântanos) qui apportent des préjudices tout autour du bourg. Une muraille en pierre est aménagée pour les sections de la digue les plus exposées. .... l’issue de trois ans, le bilan des travaux achevés indique une délocalisation des huttes en paille vers l’extérieur du rempart, l’assèchement du marécage, la construction d’un caniveau (sargeta) en pierre et sable pour refouler les eaux des marées. Ainsi, l’on a pris sur la mer une surface de 555 000 m2. Ces terrains, après avoir subi une période de dessalement naturelle par l’effet des pluies, servent alors comme jardins potagers. Des eucalyptus sont plantés, ce qui a sûrement contribué à la déshydratation de ces zones."

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