Jardim Mousinho de Albuquerque e Praça 7 de Março - vistas para sul (1/3)

Iniciamos nova série continuando o artigo anterior em que dissemos que inicialmente a actual Praça 25 de Junho, antiga Praça 7 de Março estava inicialmente dividida em duas partes. O terreno da parte mais a sul, ou seja a do lado do porto e do estuário, estava para o final do século XIX (19) ainda vazio como se pode ver à esquerda da FOTO 6 deste artigo. Mas por volta de 1900 tinha sido aí criado um jardim a que foi dado o nome de Mousinho de Albuquerque como veremos melhor neste artigo.
Segundo o livro Casas de Alfredo Pereira de Lima na página 120 o desenho do primeiro jardim na praça foi de Manuel Romão Pereira, o fotógrafo e a praça tinha sido terraplanada pelo empreiteiro Pablo Perez.
As três primeiras fotos / postais são do editor E. Peters de Cape Town e devem ser de cerca de 1904- 1905 pois como se pode ver no site rhodesianstudycircle há exemplares que circularam no correio em 1906 e o grande edifício Capitania Building (CB) que conhecemos por exemplo daqui e daqui já existia em 1905. 

FOTO 1 (de E. Peters)
Jardim de Mousinho em primeiro plano com o Capitania Building visto para sudeste

Na FOTO 1 à esquerda = leste da Praça / Jardim e à direita = oeste do CB passava a Rua Tavares de Almeida - uma perpendicular ao estuário definindo a Praça do lado nascente = leste - mas estava aí escondida na maior parte pelos arbustos do jardim. 
A foto seguinte oferece a mesma vista que a anterior mas de mais de longe pois foi tirada do Clube Inglês (aqui e aqui), um edifício de primeiro andar no topo (da parte) norte da Praça 7 de Março.

FOTO 2 (republicada no HoM)
Para o fundo, na parte mais a sul da Praça, o Jardim de Mousinho 
e depois dele o Capitania Buildings à esquerda e uma estrutura tubular para sul

Na FOTO 2, na primeira parte da Praça e olhando-se na direcção sudeste = estuário vê-se o kiosk Wolff e a seguir passava a ligação para leste da Rua Araújo, actual Bagamoyo que como se disse nessa altura dividia a Praça 7 de Março da Praça / jardim de Mousinho. A estrutura tubular do lado direito da foto estava para lá = sul dele e já dentro do recinto do porto. Embora ela aparente ter uma coluna do lado de cá da rua, trata-se de ilusão de óptica devido a um poste não relacionado e aí existente. 
Em baixo, outra foto de Peters da mesma altura e da mesma zona que as anteriores mas tirada um pouco mais para a direita em relação a elas.  

FOTO 3 (de E. Peters)
Final da parte norte da Praça, continuação da Rua Araújo, depois a parte sul 
com o Jardim de Mousinho à esquerda e o kiosk Garnier à direita

Vê-se na FOTO 3 para a direita do jardim o edifício da alfândega antiga identificável pelas "ameias" e situado onde agora aproximadamente está o edifício do Ministério de Comércio e Indústria. Para o fundo está a parte mais a poente = a oeste da estrutura tubular vista anteriormente e que como se comprova com estas fotos tinha mais ou menos os mesmos limites a este e a oeste que a Praça. Penso por isso que essa estrutura era para um armazém do porto que depois existiu nessa posição até aos anos 50/60 e que neste artigo aparecia à direita das FOTOS 1 e 2 e ao centro esquerda da FOTO 5 (o da marca carmesim no telhado de ferro zincado). Recordo que neste artigo sobre a primeira doca pode ver-se a zona do fundo da FOTO 2 mais próxima pois foi aí fotografada do lado do estuário.
A foto seguinte da DMO+ (missão suíça) disponibilizada através da USC digital library mostra o telhado desse armazém já completo pois isso algum tempo depois das fotos de Peters (a faixa indicada pela DMO de 1896-1911 DMO é demasiadamente larga para ajudar na compreensão).

FOTO 4
Do centro para a direita, depois do kiosk do Wolff vê-se a Praça / Jardim de Mousinho
e o armazém do porto para o fundo

Embora não se visse bem devido à perspectiva e distância das fotos anteriores, entre a parte a sul da Praça / JMA e esse armazém estava um espaço onde veio a ser criada a praceta de António Enes que foi inaugurada em 1910. 
Na foto seguinte tirada do Capitania Buildings com vista para poente = oeste (e já repetida no HoM) essa praceta já em obras (pelo que será de entre 1908 e 1910) e parte mais a sul do Jardim de Mousinho e por isso da Praça 7 de Março.  


FOTO 5
à esquerda: tapumes do lado norte para a construção do monumento 
a António Enes ao centro da precta com o mesmo nome
ao cento: Av. 18 de Maio, actual M. de Inhaminga, aberta da Fortaleza (nas costas) 
até às proximidades da Praça dos Caminhos de Ferro
à direita: parte mais a sul do Jardim de Mousinho e depois a Alfândega antiga

Na parte centro - superior da FOTO 5 aparece o porto de LM de cujo desenvolvimento falámos aqui.
Noto que aqui chamamos só Mousinho à parte sul da actual Praça 25 de Junho mas por vezes esse nome cobria toda a praça ou a sua parte norte como se via escrito no primeiro postal dos irmãos Lazarus visto aquiApesar dessas denominações pouco claras parece-me que podemos agora identificar claramente as fotos tanto do que ficava para norte como para sul dessa ligação da Rua Araújo para leste. 
Esta montagem mostra 3 cartas dessa zona da Baixa de LM com as três denominações da praça. Em 1876 era a praça do Picoto; depois aparece Praça Mousinho na parte norte, a do coreto, e com o jardim desenhado na parte sul; em 1909 aparece o nome com que continuou até à independência, 7 de março em alusão à data da chegada em 1877 da Expedição das Obras Públicas do Major Machado:

MONTAGEM
Verde: praça, que foi crescendo para sul à medida que a antiga praia foi sendo aterrada
Vermelho: Travessa da Fonte, a NE da praça
Amarelo: Fortaleza
Roxo: centro da Av. D. Carlos, depois da República, actual 25 setembro

Continuaremos a tratar deste tema no próximo artigo da série.

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