Defesa de LM em 1894 - na imprensa mundial da altura (8/14)


Como se viu aqui pela notícia de 15 de dezembro de 1894 na revista THE GRAPHIC, os acontecimentos de Lourenço Marques (LM), actual Maputo foram seguidos com interesse pela imprensa internacional e fizemos aqui também referência a artigo na ILN dessa altura. 
Começamos pelos logos do The New York Times dos EUA, The Spectator do RU e dos cabeçalhos dum jornal da Nova Zelândia, publicações estrangeiras que acompanharam a crise de LM:
Orgãos de comunicação com notícias de LM no estrangeiro em 1894

Vejamos primeiro as notícias publicadas na Nova Zelândia (NZ) como City edition (mas não sei se originalmente eram do Star de Johannesburgo, muito criticado por Eduardo Noronha, o autor que vimos primordialmente seguindo nesta série): 
Cobertura dos acontecimentos maiores de 25 de setembro (retirada de Anguane
a 21 de outubro (uma semana depois do grande ataque à cidade)


A primeira notícia alertava para uma rebelião nativa em curso ameaçando a cidade e como vimos no cronograma tinha sido quase um mês antes, a 27 de agosto de 1894, que ela se tinha iniciado. 
O maior ataque e que foi rechassado deu-se a 14 de outubro e disso aparece na NZ quase imediatamente a notícia, a de 15 de outubro. Fala de 12 portugueses mortos para o que deve ter contado os trabalhadores macuas e mulheres locais que trabalhavam do lado do pântano pois de resto terão sido contadas 1 ou 2 vítimas. Nos dias seguintes dá-se conta da chegada de reforços navais estrangeiros (ver aqui sobre os ingleses).
Vejamos outras notícias publicadas por grandes orgãos de comunicação internacional.
Aqui o britânico The spectator que, vendo as coisas da perspectiva de Londres, dizia o seguinte no dia ANTERIOR ao do maior ataque:
"13 OCTOBER 1894. The danger of Lorenzo Marquez, the port of Delagoa Bay, which may be of grave importance, is still extreme. The great chief of the interior, Gungunhama, has called off the tribe upon which the Portuguese relied (HoM: refere-se à esperada ajuda das tribos de Maputo que após reunião em última instância com indunas de Gungunhana regressaram às suas terras, ver na cronologia e ver aqui), and the garrison is reduced to its own resources. The native enemy has approached within a mile of the town, and if it has the nerve to make a rush, may easily master the place and massacre the inhabitants (HoM: não aconteceu porque houve divergências internas e usaram táctica errada, para além de segundo consta terem desanimado face à resposta portuguesa dado um feiticeiro no dia anterior ter dito que era má altura para atacar). 
The Portuguese have sent a battalion from Lisbon, but they may arrive too late to take part in the defence".
Por seu lado o estadunidense NYT, mais neutral nas questões anglo-boer-portuguesas escrevia o seguinte a 20 de outubro de 1894, seis dias depois do grande ataque à cidade, mencionando os eventos no título um tanto sensacionalista (problemas em LM, brancos massacrados pelo chefe da Magaia). Todavia, pelo menos no que é acessível na net, olhava mais para a linha férrea dizendo que estava pronta a funcionar até Pretória e cuja inauguração tinha sido adiada: 
"TROUBLE ON DELAGOA BAY; The Whites Massacred by Chief Mahazula's Tribesmen - The building of the Delagoa Bay railway line to Pretoria was completed on this date. It was scheduled to be opened for traffic on 2 November 1894, however, the official opening of the line only took place on 8 July 1895. The line was completed a few years after the end of the first Anglo-Boer War (also called Anglo-Transvaal War) and the restoration of the Transvaal Republic after annexation by Britain in 1877. This rail link between Transvaal en Delagoa Bay was one of the most important purposes of both President Burgers and Kruger, because it would make the republic independent of the harbours of the British Colonies, Natal and Cape. After discovery of the main gold reef on the Rand in 1886, the matter gained even greater urgency. On completion of the railway line, transport became safer, quicker and more profitable. Formerly, transport-riders used ox wagons to transport goods by road to Delagoa Bay and ran the risk of malaria, tsetse flies and lions".
Este artigo do NYT dá-nos então ideia mais alargada do que estava em jogo nessa altura na região. Num próximo artigo concluiremos esta série olhando precisamente para as implicações locais e internacionais do ataque à cidade e da sua defesa que acabou por ser feita com sucesso.

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