Prédio Pott - cobertura do estúdio dos Lazarus (7/12)

Nos artigos anteriores (este e este) levantei a hipótese do salão = estúdio dos Lazarus de 1906 a 1908 que sabemos ter estado no terceiro piso da secção a norte do prédio Pott de Lourenço Marques, actual Maputo ter sido no barracão isolado na traseira. 
Mas falta prová-lo por exemplo com fotos ligassem o seu exterior às duas fotos conhecidas do interior (a mostrada aqui e uma outra semelhante um pouco posterior), nomeadamente provando que na vertente do seu telhado virada a nascente = leste havia uma parte em vidro como se via do interior.  
Curiosamente veremos aqui fotos exteriores do telhado que não solucionam essa dúvida mas têm dados interessantes. É o caso da seguinte de 1934 que mostra ao seu centro direita e vista de frente a secção norte do prédio Pott e que deixa ver a traseira do seu terceiro piso e o referido barracão que aqui vou marcando a "roxo" (foto do Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro como vimos aqui).

FOTO 1 (vista para "oeste")
Preto e "preto e branco": respectivamente níveis do pavimento e do tecto do 3o piso 
estando as torres gémeas acima da sua placa de tecto
Roxo: lado sul do barracão que possívelmente teria sido
 o salão = estúdio dos Lazarus na traseira do 3o piso do prédio Pott
Azuis claro e escuro: vertentes a oeste e a leste respectivamente 
nos limites a sul do telhado a duas águas desse barracão "roxo"
Azul e branco: cumeeira do telhado a duas águas desse barracão  
Azul médio: topo de pala no telhado desse barracão acima da cumeeira
 e virado para o lado leste = nascente
Rosa: actual Av. Samora, antiga D. Luis e Aguiar

Esse barracão "roxo" da traseira e a sua pala 
aparece nas duas fotos da montagem seguinte na qual a principal é de Santos Rufino e de cerca de 1929 e a inserção é dos fotógrafos LAZARUS e.de entre 1906 e 1908:

MONTAGEM 1 (foto de c. 1929 e pequena dos LAZARUS de entre 1906 e 1908)
Roxo: lado sul dum barracão recuado na traseira do 3o piso (o superior) do prédio Pott 
Circunferência azul: pala no telhado do barracão vendo-se ser opaca

Com a foto pequena podemos dizer que a pala existiu desde a instalação do salão = estúdio dos LAZARUS no prédio Pott em 1906 até 1934, que sempre foi opaca e que teria pelo menos uns 1.5 m de largura (profundidade). Esta constatação levanta uma nova questão a respeito da foto do interior do salão = estúdio pois se ele estivesse no interior desse "barracão roxo", porque não se veria nessa foto a pala por cima do telhado de vidro e/ou a sua sombra? Elimina isto a possibilidade do salão = estúdio ter sido no "barracão roxo" como tenho defendido? É um dado contra que é importante considerar e não sei a resposta com os elementos disponíveis. Mas no sentido inverso posso também perguntar, para que teria sido precisa a pala no "barracão roxo", claramente um elemento único em Lourenço Marques e que também nunca vi em edificios noutros locais, se o barracão não fosse para um uso especial em que o controle da iluminação fosse importante como seria o caso dos salões de fotografia desses tempos antigos? 
Apesar das questões que ficam em aberto (voltaremos nos artigos 89 e 12 ao tema da pala observando mais fotos da fachada este) e com os dados disponíveis tento a seguir imaginar, depois da tentativa baseada no Google Earth e tendo em conta as suas medidas, como seria esse terceiro piso do prédio Pott entre 1906 e 1908 quando estava a ser usado pelos Lazarus. A sua peça principal seria então o "barracão roxo" recuado na traseira e que, à falta de melhor hipótese, continuo a considerar que era o seu salão = estúdio:

"ACHISMO" HoM dos traços gerais da PLANTA do 3o PISO do PRÉDIO POTT 
Roxo: lado sul do barracão na traseira do 3o piso (o superior) do prédio Pott 
Azul e branco: cumeeira do telhado do barracão a duas águas
Azul médio: topo duma pala opaca acima da cumeeira
 e virada para o lado leste = nascente
P1: posição de presumida porta do público para o salão = estúdio dos Lazarus
Verde normal: terraço da construção no 3o piso que se vê nalgumas fotos 
sobre uma grande sala à profundidade do prédio e sobre o corpo de escadas
Púrpura (à esquerda): ao centro de corpo saliente na traseira 
?: sinalizando que não há dados para localizar muitos dos espaços 
e compartimentos referidos no artigo de 1906 e o seu uso

Note-se que as construções que estão marcadas a "verde normal" e a "púrpura" não desabaram com o incêndio por isso são ainda fácilmente identificáveis.
Os "?" no desenho indicam que segundo dos artigos do jornal de 1906 no 3o piso havia casas de banho, vestiários, sala escura para revelação e outros compartimentos para uso técnico mas não era dito exactamente onde estavam. Informava ainda o jornalista que em 1906 ao lado do salão = estúdio havia um espaço aberto (mas falta saber se isso era sinónimo de ser ao ar livre) para impressão. 
Nas fotos antigas não se consegue ter ideia muito exacta da distância do "barracão roxo" ao corpo principal do prédio. Mas tendo em conta as preocupações com a iluminação aparentes na foto do interior do salão = estúdio, esse afastamento do barracão (se fosse lá o estúdio como presumo) teria ser suficiente para que ele pudesse ser iluminado do lado direito = leste = nascente (o lado da sua face envidraçada) pelo menos durante uma parte do dia como aí se vê. Mas como o pátio não podia ser muito largo porque o barracão era grande e a traseira não era muito profunda para o interior do quarteirão, certamente que de manhã haveria projecção de sombras das torres gémeas do lado nascente para cima do salão = estúdio. Esses constrangimentos técnicos seriam naturais pois o prédio não tinha sido feito de raiz pelos ou para os Lazarus e as adaptações feitas pelo proprietário Pott terão sido limitadas (por exemplo Pott não iria retirar as emblemáticas torres para os Lazarus não terem sombras no salão = estúdio se este fosse no "barracão roxo"...). Presumo também que os fotógrafos poderiam adaptar-se de modo a evitar as zonas de sombra laterais quando as houvesse, eles podiam usar os cortinados das janelas e tecto para as disfarçar, tinham luz vinda pelo telhado sempre sem obstáculo e em 1906 dispunham já de potentes lâmpadas eléctricas, quer dizer teriam soluções pelo menos parciais para o problema dessas sombras. 
A foto seguinte de Corvaja deve ser das últimas tiradas antes do incêndio e do subsequente desabamento de muito do interior do prédio Pott. No entanto e no que respeita às nossas dúvidas principais, no terceiro piso da secção norte que foi ocupado pelos Lazarus: 
1. não se consegue ver a largura do pátio entre as torres gémeas e o "barracão roxo"; 
2. como já se tinha visto em fotos dos anos 50, o telhado do barracão era opaco e não tinha pala no topo. 
Com esta foto e a planta da zona tento também perceber melhor como seria a iluminação lateral no interior do salão = estúdio de manhã quando o sol lhe dava.

MONTAGEM 3
Roxo: limites do barracão onde assumo esteve o salão = estúdio dos Lazarus
Azul e branco: cumeeira do telhado do "barracão roxo"
aqui todo em chapa e sem a pala superior
Verde: terraço da grande sala e corpo de escadas do lado norte do 3o terceiro piso
Carmesim: parece haver um telhado entre o barracão e o corpo principal do prédio Pott
Amarelo: direcção este - oeste
Laranja: sombra projectada pelas construções ao sol de manhã

Se o salão = estúdio tivesse sido no "barracão roxo" pode ver-se que à hora em que a foto de cima foi tirada (digamos 10 horas da manhã), a sombra que seria principalmente da torre da direita = norte, estaria paralela ao telhado (inicialmente envidraçado) e tocando no seu limite a leste = da direita. Quer dizer a partir dessa hora (com o sol girando para o fundo da foto e por isso a sombra girando para cá do barracão) o salão = estúdio estaria bem iluminado tanto do lado leste = janelas à direita como pelo telhado como se pretenderia e aparecia na foto dos Lazarus do seu estúdio e digamos nas duas ou três horas seguintes continuaria assim até começar a aparecer sombra da pala do telhado à direita da cumeeira. Mas isso quer também dizer uns minutos antes da foto de cima ter sido tirada, com o sol mais baixo e mais para leste (para o lado de cá), a sombra da torre teria sido projectada sobre o telhado envidraçado o que os Lazarus terão tentado evitar para a sua foto ser mais cativante. Mas como é óbvio a posição do sol também varia ao longo do ano e o estudo aprofundado deste assunto seria complicado ...
Resumindo e concluindo parece-me que o salão = estúdio dos Lazarus esteve no "barracão roxo" tendo em conta a forma do telhado e as suas dimensões, para as quais não haveria  outra posição possível. Também não vejo que outra utilização poderia o barracão ter tido que não fosse essa sabendo que os Lazarus o tinham arrendado e até pintado o seu nome no telhado. A dúvida com que fico relaciona-se com não ter foto do barracão nessa altura que mostre uma parte do seu telhado virada a leste = nascente fosse em vidro (nas fotos que o mostram desse lado ele está sem vidro mas essas fotos são posteriores aos tempos do estúdio pelo que o telhado poderia ter sido alterado entretanto). De qualquer modo o telhado do barracão tinha uma pala que indica uma utilisação especial provávelmente no que se refere à iluminação, o que o relacionaria com a utilização como estúdio fotográfico. Mas tudo isto são "achismos", se aparecer uma boa foto ou um texto claro que mostre o contrário, óbviamente o que está aqui ficaria a valer nada e deveria ser alterado ou apagado.
No próximo artigo (8) falarei um pouco mais sobre a pala do barracão e temas relacionados.

NB: Segundo mostrava Paulo Azevedo (PA) noutra foto no seu primeiro livro, o salão = estúdio que presumo ter sido no "barracão roxo" depois dos Lazarus, cerca de 1916, esteve alugado pelo fotógrafo Bayly mantinha-se como inicialmente no que respeita ao tecto e parede envidraçados. 
No período de tempo entre os Lazarus e Bayly não sei que uso teria tido essa construção. Embora Casa ZUID tenha alugado a loja no rés do chão que tinha sido antes alugada pelos Lazarus para comércio não sei se alugou também as suas antigas instalações no terceiro piso e segundo a informação de PA nesse livro é possível que outra casa fotográfica tenha lá estado depois dos Lazarus..

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