Missão Suíça em Ricatla: carta e religiosos A. Grandjean, P. Berthoud e A. Borel

Continuando a série de artigos sobre a estação da Missão Suíça em Ricatla, podemos ver a sua posição no mapa confirmando-se ser perto de Marracuene, que ficava a cerca de 30 km da de Lourenço Marques (LM) antiga, actual Maputo e dissemos no primeiro artigoComo dissemos também aí a estação tinha sido estabelecida em 1889 e esta carta é de 1892, por isso três anos posterior.
Roxo: Ricatla
Azul: lago de Ricatla
Preto: Eliashib, uma povoação próxima da estação
Castanho: Mahazule, devia ser a localidade do régulo da Magaia
Amarelo: Marracuene, nas margem direita do rio Incomati
Verde: Macaneta, na costa do oceano Índico
Laranja: Anguane onde havia um posto português
Não consigo localizar exactamente actualmente onde foi a estação da missão mas a lagoa de Ricatla fica aqui notando-se que a zona, contráriamente ao que aconteceria no final do século XIX (19) actualmente é densamente povoada. Nesta informação para se chegar ao local (túmulo de Junod) é dito que fica na zona da FACIM e como vejo por aí uma zona menos densamente ocupada e com o que parece ser um templo Ricatla pode ter sido aqui (impressão reforçada por aqui restar ainda um bosque).
A carta do Incomati inferior que vimos foi preparada por Arthur Grandjean também membro da missão em Moçambique e que podemos ver nesta foto:
Arthur Grandjean and his wife, Neuchâtel, Switzerland, [s.d.]  USC

Voltamos às primeiras instalações da  Missão Suíça com o que Eduardo de Noronha escreveu em 1895 em "A rebelião dos indígenas" na página 12: "A missão suissa cuja séde está em Neufchatel tem em Lourenço Marques as seguintes aggremiações: 
- A da cidade com duas casas, uma de madeira e zinco, ampla e vasta servindo de templo e outra d'alvenaria para habitação dos missionários, uma das melhores e mais pittorescas vivendas da localidade (ver aqui inclusivé as primeiras construções). Residem ali entre outros o padre Berthoud e Junod bem conhecidos pelas suas viagens, observações meteorológicas e estudo da fauna e flora do districto, suas esposas e madmoiselle Teuscher. 
- A de Rikatala, proximo do Anguane e da povoação de Mahazuli, um dos régulos revoltados. 
- A de Antioka, dirigida por mr. Grandjean, autor duma carta topographica muito apreciável de toda a região do Incomati".
Temos assim confirmada alguma da informação de cima e são-nos aqui apresentados Henri Alexandre Junod, Paul Berthoud (que já tinhamos referido no artigo anterior) e Arthur Grandjean, o autor da carta geográfica e retratado em cima.
Quanto a H A Junod e Paul Berthoud de facto iremos vendo que Junod foi na maior parte do tempo o residente em Ricatla e Berthoud em LM (lugar de Khovo, actualmente parte do Bairro Central), mas foi Berthoud que fundou Ricatla em 1887 e Junod durante algum tempo a partir de março de 1894 foi substituir Berthoud na cidade. Curiosamente nessa altura eles eram cunhados mas ao tempo da foto seguinte, onde aparecem com Grandjean e outros colegas, já não o eram como explicaremos depois. 
A foto seguinte foi tirada em Ricatla e como se vê já não eram os tempos épicos dos primeiros missionários. Paul Berthoud (1847-1930) parecia aí o mais veterano (aqui em Khovo também por essa altura), A H Junod (1863-1934) apesar de ter ficado com o cabelo branco cedo era bastante mais novo que Berthoud. A legenda original quanto à data é indefinida: "Group of Swiss missionaries, Ricatla, Mozambique, ca. 1896-1911 (USC)". mas atendendo à construção onde estão, que deve ser de 1907/1908 e que veremos noutros artigos (em construção e acabada), deviamos estar por esses anos.
Amarelo: H A Junod (a sua segunda Hélène esposa está sentada)
Azul: Paul Berthoud
Vermelho: Arnold Borel

O resto da legenda da foto de cima é: "Photograph of a group of Swiss missionaries on the porch of a building in Ricatla. Standing, first from left, Henri Alexandre Junod. Next to him, Samuel Bovet. In the first row, in the center, Arnold Borel. Behind him, Mrs Junod. Sitting on a chair, Paul Berthoud". 
Na Missão Suíça havia algumas relações familiares e por isso pode às vezes haver confusão de nomes de família, por exemplo vê-se aqui referido Henri Berthoud que foi também missionário no sul de África e que poderia ser irmão de Paul Berthoud. 
A foto de cima é creditada a Arnold Borel que foi também fotografado, pelo que ou foi usado um disparador automático ou foi efectivamente tirada por um ajudante. 
Aproveitemos para ver P. Berthoud na foto seguinte de pé na carroça e ainda em Ricatla por onde teria passado ao fazer uma viagem pela região:
Mr Berthoud on a round, Ricatla, Mozambique, ca. 1896-1911
Photograph of a group of Swiss missionaries traveling on a cart (USC)

A foto de cima também é de Arnold Borel que digamos na segunda metade da primeira década do século XX fez muitas fotos das instalações de missão, da cidade de LM e das terras e populações em redor. Foi ele que por exemplo registou muitas passagens relacionadas com a visita do Príncipe Real em 1907 (ver aqui as FOTOS 3 e 7).
Eduardo de Noronha em "O districto de Lourenço Marques e a África do Sul" de 1895 e que era muito negativo em relação às implicações políticas de missões estrangeiras e de doutrina cristã reformista, como iremos vendo, explica assim a vinda dos missionários suiços para Moçambique seguindo um Berthoud mas não sei se o Paul das fotos ou o referido Henri, seria preciso procurar mehor:
"A vinda d'elles para o districto não foi um caso esporádico, obedeceu a duas causas, senão a três. A primeira, a principal, a determinante, foi a ordem de expulsão que o governo no Transvaal lhe intimou, a segunda a bizarra hospitalidade das nossas leis, a terceira não no-la consentem dizer aqui. O governo do Transvaal, começara a reparar que as tribus mais irrequietas e menos submissas eram exactamente aquellas onde a religião levava a doutrina de Christo por meio dos seus missionários". 
A parte seguinte do texto de EN prefiro não mostrar aqui e escrevia ele depois: "Convencidos os boers, com boas ou más razôes, de que os missionarios eram agentes políticos foram estes por decisão do Conselho Executivo expulsos do território d'aquella república. Em 1885, o reverendo Berthoud fez uma viagem de exploração ao districto, percorrendo a grande região ao norte do Incomati. Pouco tempo depois estava a missão suissa estabelecida em terreno portuguez, sem reparos da nossa auctoridade, que julgou esse facto o mais simples do mundo".
No próximo artigo começaremos a falar da casa que se via na segunda foto.

Comentários