Prossigo a série sobre a infraestrutura antiga a que venho aqui chamando Primeira Doca (PD) do porto de Lourenço Marques (LM), actual Maputo, e que foi referida em 1907 num artigo da revista "O Ocidente" como sendo "uma doca para abrigo e descarga de lanchas - ou lanchões - do serviço de carga dos navios fundeados ao largo". Neste artigo focar-me-ei principalmente nas construções que rodearam essa doca para norte dado que para sul estava o estuário.
A FOTO A é reproduzida do livro Xilunguíne de Alexandre Lobato (AL) e já a tinhamos visto muito parcialmente aqui a propósito da torre no Allen Wack. A legenda que AL lhe colocou foi de que se tratava de "aterros para a Avenida Teixeira de Sousa e terraplenos do porto, segundo uma foto de cerca de 1903 no Museu da Sociedade de Geografia de Lisboa", o que trás dois pontos a analisar aqui conjuntamente, o conteúdo / localização da actividade e a data.
A FOTO A é reproduzida do livro Xilunguíne de Alexandre Lobato (AL) e já a tinhamos visto muito parcialmente aqui a propósito da torre no Allen Wack. A legenda que AL lhe colocou foi de que se tratava de "aterros para a Avenida Teixeira de Sousa e terraplenos do porto, segundo uma foto de cerca de 1903 no Museu da Sociedade de Geografia de Lisboa", o que trás dois pontos a analisar aqui conjuntamente, o conteúdo / localização da actividade e a data.
FOTO A (# 69 Xilunguíne)
Obras junto ao recinto portuário de LM a sul da Praça 7 de Março, ao fundo a barreira da Maxaquene descendo para a enseada do mesmo nome |
Na MONTAGEM 1 coloco a FOTO A, uma FOTO 1 que já vimos da Torre do Tombo e a foto publicada em Agosto de 1907. São todas de tempos próximos e do mesmo local embora a FOTO A seja uma vista para NE e as outras duas sejam vistas no sentido oposto, para SW, estas tiradas do canto a SW do Capitania Building (CB), o grande edifício que se vê ao fundo da FOTO A e que era recente nesse altura.
MONTAGEM 1 (clique para aumentar)
Carmesim: muro de suporte a leste da PCA anterior aos trabalhos para a PD
Linhas e setas castanho claro: terrapleno dos trabalhos para a PD
Branco: linha férrea colocada na zona para os trabalhos
e que mais tarde terá sido usada para as mercadorias na PD (à direita)
Laranja: armazém imediatamente para oeste da PD mais junto à ponte-cais
Ocre: cabine do lado oeste no corredor de acesso à PP inicial e que estava para SW do CB
Castanho claro: terrapleno construído com a PD e nova PP
Amarelo e verde: parte mais a norte da nova Ponte de Passageiros (PP)
Verde claro: avenida em acabamento, detalhes em baixo
Vermelho: rua Tavares d'Almeida, a do lado leste da praça 7 de março
e que pode ser prolongada para sul com os trabalhos da PD
Hexágono castanho: mesmo poste de iluminação pública nas três fotos
Na parte inferior da montagem está uma FOTO 1 que vimos antes aqui da Torre do Tombo / ACTD e na qual podemos observar à esquerda = para leste do limite a leste da antiga Plataforma do Cais da Alfândega (PCA) "carmesim" montes de pedra e terra que iniciavam o aterro dessa área que até aí tinha sido de estuário. Via-se também por aí uma ponte estreita com pilares em madeira sobre a qual assentava uma via férrea, a qual vinha do lado oeste = direito da foto, lado esse onde tinha sido instalada a rede ferroviária para a primeira estação como se via aqui. Ainda nessa FOTO 1 vê-se que no chão da antiga PCA, imediatamente para sul da linha férrea que ia até à referida ponte, estavam montículos que também seriam de pedra e/ou terra e que certamente tinham sido para aí levados em vagões e descarregados por trabalhadores. Terão sido precisamente esses trabalhos e trabalhadores que foram captados na FOTO A e por isso concluí-se pela relação intrínseca entre as FOTOS 1 e A (da relação entre a FOTO 1 e a publicada em 08/1907 falámos no artigo G).
A legenda da FOTO A no livro Xilunguine refere os "aterros para a Avenida Teixeira de Sousa e terraplenos do porto". Quanto aos terraplenos vimos já nos artigos G e H que se tratou duma faixa da frente do CB até à parte mais a norte da nova Ponte de Passageiros (PP) e que aparece concluida a "castanho claro" na "FOTO publicada a 08/1907". Esse terrapleno veio a ficar distante do local que estava em primeiro plano na FOTO A e que era o da antiga PCA, a qual tinha sido aterrada no estuário vários anos antes, pelo que presumo que os materiais a serem descarregados fossem para acabamentos de pavimento na zona próxima na foto, os materiais para o terrapleno terão sido descarregados mais para a frente mas certamente que a obra avançaria por fases.
Quanto à "Avenida Teixeira de Sousa" que é referida na legenda como estando relacionada com os aterros da FOTO A tratava-se da que marquei a "verde claro" na MONTAGEM 1 (como explicarei noutro artigo ela chamou-se depois da implantação da República, Almirante Cândido dos Reis mas antes de 5.10.1910, por isso ao tempo da FOTO A terá sido Teixeira de Sousa). Como se pode ver na FOTO 1 essa avenida estava na quase totalidade sobre a antiga PCA pelo que o aterro feito nas obras da PD só resultou na sua extensão para formar o cruzamento com o prolongamento para sul da rua Tavares de Almeida permitida pelo terrapleno "castanho claro" (quer dizer o terrapleno serviu para essa duas vias nessa zona comum). Essa avenida Teixeira de Sousa era a que aqui marquei com a mesma "verde claro", veja-se nessa foto o armazém da marca "laranja" em posição equivalente à que se vê em duas das fotos da MONTAGEM 1 (ver NB 1 em baixo) e o local da FOTO A actualmente seria por aqui ao centro.
Isto tudo quanto ao conteúdo / localização da FOTO A. Quanto à sua data, os trabalhos da PD terão decorrido entre 1905 e 1906 por isso como a foto os mostra a decorrer ela será posterior ao "cerca de 1903" que Alexandre Lobato estimou. Essa minha estimativa é reforçada pelo facto de nela estar o Capitania Building que terá sido construído cerca de 1904/5. Segundo os dados disponíveis foi por volta de 1905 que a ponte-cais Gorjão atingiu os 500 metros de comprimento o que acarretou o fecho da PD do lado oeste, a situação que se verificava nas duas fotos da MONTAGEM 1 com vista para SW (no desenho da PD do plano hidrográfico do porto actualizado em 1906, essa situação está já representada).
Com o que aqui vimos podemos relacionar melhor as posições da PCA e do corredor de acesso à PP inicial digamos até 1903 com a da Primeira Doca, nova PP e terrapleno que por aí apareceram depois. Tudo isso passados mais de 100 anos resultou no que actualmente está por aqui ao centro.
Ver série completa no HoM sobre a primeira doca.
NB 1: Tal como a FOTO A, essas duas fotos da MONTAGEM 1 mais esta um pouco posterior ou esta um pouco mais (estas duas mostrando o mesmo local mas incluindo parte da praceta de António Enes, que na FOTO A estaria para a esquerda da avenida) e a praça 7 de março que estava imediatamente para norte da praceta, foram tiradas do Capitania Buildings.
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