Edifícios das antigas Obras do Porto fotografados c. de 1907, abaixo da barreira da Ponta Vermelha |
Amarelo: muro de suporte do aterro da Maxaquene construido entre 1915 e 1920
Vermelho: primeira parte de ponte-cais acostável construida entre 1902 e 1914
Branco: pequeno prolongamento da ponte-cais acostável para leste feito em 1916 e para fechar a primeira doca
Azul normal: grande prolongamento da ponte-cais acostável para oeste
feito depois de 1914 e até 1930
Seta azul escuro: a partir de 1930 fizeram-se extensões
como se vê aqui no plano geral do porto de 1965
Castanho escuro: cais das estâncias
Verde: primeira doca de pequenos navios
Roxo: doca da capitania / barcos de pesca actual
Laranja: doca seca actual
Preto com seta: onde foi a ponte da alfândega (junto ao cais da alfândega) |
Específicamente em relação às alíneas de cima:
1. O que foi construido em linha com o planeado mas um pouco mais tarde:
b) Uma doca de abrigo para pequenas embarcações junto e a montante da ponte de alfândega. Essa doca foi criada onde o Eng. Silvério propôs (a primeira doca marcada a "verde") mas uns 15 anos depois foi aterrada e substituida por uma nova doca um pouco mais para jusante (a marcada a "roxo"). Na primeira foto deste artigo via-se o início do desmantelamento dessa primeira doca através do pequeno prolongamento da ponte-cais para leste (em cima marcado a "branco") e até ao que veio a ser a actual doca da capitania.
c) Um cais acostável a grandes navios, em frente da cidade. Essa é a primeira parte "vermelha" da actual ponte-cais Gorjão cuja construção se iniciou em 1902 e que nas fotos de 1937 aparece marcada a "vermelho". No entanto a profundidade a que foi colocada pode ter sido diferente da que o Eng. Silvério tinha previsto (lembro que para esta alínea ele tinha feito só o plano, não havia projecto detalhado);
2. O que foi construído muito diferente do que tinha sido planeado e/ou muito mais tarde:
d) Um cais acostável a navios de menor calado para montante do anterior, que deve ter sido o cais das estâncias marcado a "castanho" e com pontões projectados no estuário. A sua construção não deve ter sido feita muito mais tarde do que o Eng. Silvério planeou mas o local foi diferente do planeado: o seu início (a jusante) ficou muito afastado da ponte dos caminhos de ferro e o seu fim (a montante) ficou muito antes do km 4 da via férrea (o que seria já perto do vale do Infulene);
e) Uma bacia de entrada e estacionamento dos navios e pequenas embarcaçães a remos, docas e plano inclinado. Não foi construida na sequência dos planos do Eng. Silvério e que eu saiba só em conjunto com os trabalhos de aterro da Maxaquene e a construção da Doca da Capitania apareceu a doca seca, por isso em momento e local diferentes do que o Eng. Silvério teria previsto que seria para montante da 3a secção, que dizer para o lado de cá dos porto nas FOTOS 2 e 3.
3. O que não foi construído dos planos do Eng. Silvério:
a) Um muro-cais para pequenas embarcações, entre a Ponta Vermelha e a ponte da alfândega. O trabalho foi iniciado ainda pelo Eng. Silvério mas sem sequência significativa (Obras do Porto). Nessa zona só depois de 1915 se construíu um muro de suporte para se fazer o aterro da enseada da Maxaquene da marca "amarelo" mas nessa altura o objectivo foi só urbanístico..
Sobre o que foi feito ainda pelo Eng. Silvério (e que foi acompanhado por Montague Jessett) disse o Eng. Galvão: "Muitos blocos artificiais (de betão) foram construidos mas ficaram sem utilização. Durante anos conservaram-se os estaleiros situados na parte baixa da baia logo por detrás do Hotel Cardoso (HoM: que me parece ser o edifício que se vê no alto da barreira na FOTO 1). Junto aos estaleiros foram construidos armazéns para material, casas para habitação do pessoal, linhas «decauville» para transporte de pessoal e material, etc.".
à esquerda: uma fiada de moldes para o fabrico dos blocos à direita: duas fiadas com blocos de betão empilhados (estimo aí 40 x 2 x 3 = 240 blocos) entre as fiadas: carris onde presumo se deslocava uma grua locomotiva para se encaminharem os blocos para a beira mar |
Em duas secções bem distintas pelas suas caracteristicas, eram
estas obras assim divididas:
A 1.a secção, compreendida entre a Ponta Vermelha e o cais
particular da casa Allen, Wack & C.", tinha em vista:
1. Rectificar
a margem esquerda do porto n'esta parte, com manifesta influência sobre a
vantajosa modificação do regimen das correntes de maré, no sentido de as fazer
incidir mais directamente sobre os bancos da Polana, impedindo assim o
crescimento destes, e podendo até produzir a sua diminuição.
2. Aterrando
toda a área limitada pela actual margem e pelo muro recto de revestimento a
construir, melhorar considerávelmente as condições de salubridade da cidade,
visto ficar actualmente toda essa grande superficie directamente exposta aos
raios do sol durante as baixa-mares.
3.
Dotar
a cidade com uma área de 72 hectares de terreno excelentemente situado e próprio
para a sua natural expansão.
4.
Obter
pela venda dos terrenos disponiveis assim conquistados, uma importante receita
liquida para ser aplicada nas obras do porto.
A 2.a secção, desde o terminus da 1.a
até à ponte do Caminho de Ferro, era especialmente destinada à acostagem de
navios de grande calado, e compreendia uma doca d'abrigo para pequenas
embarcações. Por efeito d'esta obra se conquistava ao porto, mesmo em frente da
parte mais central da cidade, uma área de 146 170 m2.
Foram os projectos definitivos
d'estas duas secções apresentados respectivamente em 17 de dezembro de 1898 e
15 de maio de 1899, havendo começado em maio de 1897 pelo lado da Ponta
Vermelha, os trabalhos da 1.a secção, com a construcção d'aterros acima da
linha dos máximos preamares e com a montagem d'instalações de servico, sempre
indispensáveis em trabalhos d'esta natureza.
Por falta d'accordo entre o general Silverio Pereira da Silva e a Comissão Superior Técnica d'Obras Públicas do Ultramar, sobre certas disposições do projecto e ainda sobre outros pontos do plano geral das obras pela mesma commissão elaborado, pediu este engenheiro a sua exoneração d'aquelle cargo e como consequência mandou o governo, por despacho
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de 22 de maio de 1899, suster os trabalhos, então em execução até ulterior resolução sobre o assunto, não tendo portanto nenhum d'aqueles dois projectos logrado obter a approvação superior. Havia n'essa data uma área de 7 hectares de terrenos conquistada ao mar com os aterros feitos, além de muito material de serviço e de construção adquirido para o proseguímento dos trabalhos com muito maior actividade.
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