Demarcação de fronteira com a ZAR em 1890 - fotos e análises (31)

Sobre a missão de demarcação de fronteira de Moçambique em 1890-1891, continuamos a seguir principalmente o texto de Freire de Andrade (FA) na publicação "Explorações portuguezas em Lourenço Marques e Inhambane: relatórios da Commissão de limitação de fronteira de Lourenço Marques" (pdf aqui). Por seu lado as fotos tiradas durante a missão e na sua continuação para leste e para norte, penso que principalmente por FA, estão disponíveis no ACTD. Aparecem nesse site no álbum 3 com 37 fotos, no álbum 10 com 49 fotos, no álbum sem número com 43 fotos, no álbum sem número (azul) com 26 fotos mas estão aí um tanto misturadas com outras doutras comissões e há mais algumas "perdidas". 
Normalmente tantas fotos seriam motivo de grande satisfação relativamente à aquisição de conhecimento quase directo sobre a missão (o pessoal, os marcos de fronteira, a logística) e de tudo o que a rodeava (os habitantes, a natureza e geografia). Mas novas abordagens académicas dos "olhares" e "visões" coloniais poderão hipervalorizar os preconceitos e as intenções subreptícias que os fotógrafos podiam ter, pelo que o seu valor documental seria diminuido em relação ao anteriormente aceite - ver na série sobre artigo de MSP algumas ideias adicionais. 
Da minha parte observo as fotos, como acho que sempre se fez, tendo em conta tanto quanto souber do seu contexto histórico, social e técnico, considerando que para elas acontecerem houve uma escolha por parte do fotógrafo, que o fotografado podia lá estar contrariado ou não, que houve sempre alguma pose e artificialismo, que questões técnicas tiveram de ser tidas em conta, etc. Apesar disso tudo, para mim estas fotos têm na grande maioria dos casos um valor informativo primordial sobre o que venho discorrendo. Por exemplo FA e MS escrevem com qualidade em várias páginas sobre a sua passagem pela planície de Mabanine, mas sem as fotos com que imagem mental teriamos ficado desse lugar?
Continuo então com o texto de FA no relatório iniciado no artigo anterior e relacionado com o material fotográfico utilizado na missão: "As placas: Wratten (sensitómetro 19) não davam a rapidez que seria para desejar, o que attribuimos à acção do clima sobre ellas. As primeiras tiradas da caixa de folha (HoM: de alumínio?) que as encerrava ainda davam instantâneos; quando, porém, passavam alguns dias depois de aberta a caixa exigiam, para paizagens grandes, uma exposição de dois segundos pelo menos."
Aqui será uma dessas fotos em que a placa para instantâneo terá ainda funcionado bem porque os participantes, que presumo não estavam em pose, ficaram bem nítidos.
Suaries [? - Suazis] dançando (instantanea) (ACTD web_n4002)
Como dissemos antes os suazies eram os auxiliares da comissão sul-africana controlados por Eramus. Já agora e talvez isso retrate a personalidade de Freire de Andrade parece-me que ele achou todos os batuques a que teve de assistir como "monótonos" mas achou um "assustador" dado que as lanças dos dançarinos chegavam demasiadamente próximas da audiência.
No relatório da comissão da parte portuguesa FA faz referência a fotos (photographias) que foram tiradas durante a missão e que eram uma pequena minoria das estão agora disponíveis na colecção do ACTD. A versão do relatório que encontramos não contém essas fotos mas parece-me que a maioria se consegue identificar precisamente como vemos a seguir (alguns links a completar com artigos posteriores): 
página 27 - no dia anterior a chegarem ao rio dos Elefantes escreveu FA: "Junto ao marco há uma pequena lagoa, como se vê da photographia junta" - será a que vimos aqui (Serva Pereira concluiu o mesmo);
página 44 - crocodilo no Pafuri: "... animaes, de que porém a photographia junta dá uma perfeita idéa" - vimos aqui na FOTO 2;
página 47 - construção do bote para CX no Pafuri: "As photographias juntas dão idéa do modo de confecção e forma do barco" - vimos aquiaqui e aqui
página 61 - "N'um dia era que matei um danamau, cuja photographia vae junta, do tamanho de uma mula" - vimo-la aqui no artigo sobre caça e pesca
página 65 - cerca de 3 de Outubro: "apenas cacei dois pequenos antílopes (dykas) cuja photographia vae junta" - vimo-la aqui no segundo artigo sobre FA em torno de Mabanine;
página 72 - em terras de Novele - "A gente d'aqui já usa o cabello cortado ou antes rapado em parte como se vê nas photographias, deixando-o quasi sempre crescer em linhas longitudinaes, geralmente parallelas". Como se vê o jovem à direita com o cabelo rapado dos lados e poupa central suponho que Novele seja o mesmo que Dovil (o nome que consta das legendas do ACTD) e de que vimos a foto do régulo e séquito aquihavendo outra foto com o grupo mais distante;
página 75 - a 17 de Dezembro em Malasche, despedida "com a musica cafre que representa uma das nossas photographias", de que podemos ver uma a seguir (há mais uma na colecção do ACTD de batuque e outra da povoação que veremos aqui):
Batuque em Malasche ACTD web n_3285
página 176 - marco L dos rio dos Elefantes "Apresenta por vezes rápidos e quedas de agua, como as que (mostram) as photographias juntas" - vimos aqui e aquipode-se ainda ver mais esta e a seguinte:
Rio dos Elefantes ACTD web 3997
Por fim na página 179 - na portela do rio Ntzinza - "acha-se uma agglomeração de blocos de rocha de uma forma característica, que as photographias juntas representam" que vimos aqui.
Voltando ao texto de FA de cima e quanto às placas fotográficas "Wratten" só encontro na net essa marca para filtros da Kodak e para uma câmara, produtos que talvez tivessem sido evolução após aquisição do produtor original.
Diz ainda FA: "A câmara, apesar de exposta ao sol, nunca fendeu, conservando-se sempre perfeitamente vedada á luz ; bem assim os caixilhos. Para evitar a dificuldade do transporte das chapas com a imagem latente, fazia-se logo a revelação por meio do revelador Mercier, de uso muito fácil e commodo, podendo em seguida ser acondicionadas com facilidade". Sobre esse revelador Mercier não encontro nada actual.
Em conclusão a câmara e o material fotográfico escolhido para a Comissão Portuguesas de 1890 parece terem sido de boa qualidade e prestaram um ótimo serviço. Presumo que a comissão sul-africana tivesse feito também o mesmo tipo de registo mas essas fotos ainda não terão emergido na net.

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