Continuamos a falar sobre a primeiras instalações portuárias de Lourenço Marques (LM), actual Maputo do final do século XIX (19) ao início do século XX (20) dando sequência aos artigos anteriores sobre o que se passou a sul da praça 7 de março, actual 25 de junho, aqui referida como a "praça". Como vimos neste artigo a primeira ponte de desembarque tinha sido a frente à Casa da Alfândega na direcção da rua a oeste da praça e no artigo anterior vimos que em 1889/90 estava em construção uma ponte (molhe) em alvenaria um pouco a leste = nascente dessa direcção.
É dessa zona a sul da praça a foto seguinte que abrange à esquerda para o fundo construções em terra firme ou resultante de muro e aterro, ao centro a praia de areia original mas um pouco assoreada como se vê pela curva para o canto inferior direito (SW) e à direita = para sul água da margem norte do estuário. Esta foto foi então tirada do lado onde teria estado a ponte da Alfândega inicial pois vemos da sua esquerda para o centro direita o que seria a quase a totalidade da largura da praça do seu lado sul (visto aqui de oeste para leste), só que já ocupado por um coberto. No entanto a ponte / molhe donde a foto foi tirada e de que se vê uma parte em primeiro plano não tinha a grade da ponte da Alfândega inicial e tinha carris no tabuleiro que essa não tinha, por isso esta ponte tratar-se-ia de construção posterior, o que esclareceremos mais abaixo.
Quanto ao coberto, que estava "encaixado" de oeste (à esquerda na foto) a leste (à direita) no lado sul da praça, este foi o segundo da Alfândega. Pelo que deduzo da informação disponível ele e o respectivo aterro foram construídos entre 1897 e 1899 sob a direcção do Eng. Silvério e enquadrados nos melhoramentos do porto. Daí diria que a FOTO 1 seja de digamos de 1897 em diante mas como pouco depois essa zona marginal aparece radicalmente transformada, presumo que a "vigência" da situação mostrada na FOTO 1 terá sido no máximo de um par de anos mas ....
FOTO 1
Azul claro: ponte ou molhe sobre o estuário donde foi tirada a foto Verde escuro: secção de praia ao fundo da praça 7 de março com 90 m de largura total Amarelo: baluarte junto à esquina a SW da fortaleza e que foi demolido mais tarde Verde médio: muro construido a partir da esquina a SW do baluarte em direcção à praça e paralelo ao estuário Azul médio: fachada principal do quartel do batalhão n. 4, depois Capitania do porto, a fachada virada a sul estava encostada à copa da "árvore da Fortaleza" Púrpura: porta principal da Fortaleza do seu lado virado a oeste Castanho escuro: lado da Fortaleza virado a sul onde não tinha muralha acima do nivel térreo Rosa: segundo coberto da Alfândega, ao fundo da praça 7 de março |
Dentro do objectivo destes artigos de compreendermos e visualizarmos o que foi sendo construído e como foi sendo ocupado o espaço (o natural e o conquistado ao estuário) a sul da praça desde as primeiras construções na zona, vamos primeiro comparar a foto de cima com o que por aí tinha existido talvez uns 15 anos antes e que vimos em fotos do artigo 18.
MONTAGEM 1 (em cima a FOTO 1 de c. 1897/99 e em baixo "foto anterior" de c. 1880/85)
Púrpura: mesma porta da Fortaleza do lado virado a oeste Amarelo: mesmo baluarte mas que da "foto anterior" para o da FOTO 1 foi aprimorado Azul médio: quartel do batalhão n. 4, na FOTO 1 a construção definitiva no local da desmontável da "foto anterior" Verde normal: muro para oeste do canto a SW da fortaleza, básicamente mantendo-se o mesmo Verde tracejado: muro a SE da praça a uns 30 a 35 metros da frente da Fortaleza e perpendicular ao "verde normal" Verde escuro: marcado na mesma posição a sul da praça, vê-se daí que a base do coberto na "foto anterior" estaria junto à água na praia original Rosa: coberto da Alfândega a sul da praça na maioria sobre aterro na praia (na na "foto anterior" a linha está aprox. onde o telhado veio a ser colocado) |
Como se pode observar na MONTAGEM 1, entre o tempo da "foto anterior" e o da FOTO 1 mais recente, no que respeita à Fortaleza não se viam diferenças mas havia-as nas construções circundantes. Aparece por exemplo na FOTO 1 uma cabine com duas janelas centrais que será lógico ter sido entretanto colocada no local, nota-se que o toopo do baluarte tinha sido aprimorado com a feitura de ameias e que a construção "azul" à esquerda da árvore de aspecto mais provisório que se via na "foto anterior" (e melhor aqui) tinha sido substituida por um edifício de alvenaria.. |
Quanto ao muro "verde normal" parece que a maior alteração terá sido a colocação duma grade na parte superior. Esse muro terminava numa esquina para o interior = norte por onde começava o muro "verde tracejado" que na "foto anterior" a partir de certo ponto parecia mais recuado do que posteriormente acontecia na FOTO 1. Foi então no espaço da Fortaleza até esse muro foi alargado e respectivo aterro que terá sido colocada a cabine que surge na FOTO 1. No entanto a mudança mais significativa na zona foi a construção do coberto a sul da praça que como dissemos acima envolveu também a execução de aterro dado que ele ficou para sul do paralelo do gasómetro e onde como se vê na FOTO I da MONTAGEM 2 havia terreno arenoso de nível mais baixo e pelo menos alagadiço. Recordo que mesmo a parte sul da praça anterior ao coberto não devia ter cota elevada nem ser muito firme dado que a Câmara foi pedindo aos habitantes do burgo para irem lá depositar lixo. No que respeita ao lado sul do coberto, o seu lado oposto ao que ficou próximo do gasómetro, as marcas "verde escuro" e "rosa" mostram que ele foi erigido onde tinha sido areal junto à água.
Continuando a tentar perceber a sequência de construção e de ocupação do espaço em terra e marinho a sul da praça para o final do século XIX (19), voltamos a usar a FOTO 1 como referência na MONTAGEM 2 (colocada ao centro e chamada II) comparando-a com fotos mais próximas dela no tempo do que a "foto anterior" da MONTAGEM 1.
MONTAGEM 2 (clique para aumentar)
Na foto I (que é a FOTO 3 do artigo 20 e de 1889/90) marco a linha "verde claro" que era a do limite de terra firme da praça ao seu tempo e marco também mais para sul a linha "verde escuro" que foi, aproximadamente até onde posteriormente se fez o aterro sobre o qual foi construido o coberto "rosa" o que constituiu a maior modificação na zona entra a foto I de 1889/90 e a II de cerca de 1897/99.
Podemos também intuir que a II (FOTO 1) foi tirada da ponte / molhe em alvenaria que estava em primeiro plano e em construção na I (marquei-a a "azul claro" nas duas fotos). Marquei também essa direcção a "azul claro" na foto III pois corresponderá aí à mesma construção, aparecendo claramente essa zona a sul da praça (com misto de terra firme, aterro, praia e estuário) na foto III em estado mais adiantado de desenvolvimento do que nas outras duas.
Entre as fotos I e II e no que respeita ao que ficava mais para sul = para o lado do estuário parece que não tinha havido alterações, continuando por aí a praia inicial a quase toda a largura da praça.
Note-se que marco a "carmesim" na II (FOTO 1) um pequeno molhe saindo da praia do lado leste do meridiano da praça e que me parece terá estado na "origem" da construção marcada com a mesma cor na foto III, posterior à II. Na foto II essa ponte ou molhe, muito maior que a inicial da foto II (FOTO 1) tinha fechado do lado leste o espaço aquático a sul do coberto e da praça que tinha existido até essa altura criando-se aí uma pequena doca.
Quanto à localização actual das posições do que vemos nestas fotos de há mais de 115 anos ela é explicada no artigo 22, específicamente nesta foto.
No artigo 21, ainda sobre as construções para as instalações portuárias a sul da praça voltaremos com mais detalhe à foto III da MONTAGEM 2 e tentaremos ver melhor como terá evoluido a parte a "carmesim" da foto II (FOTO 1) para a foto III.
Série completa aqui sobre o desenvolvimento do porto até ao início do séc XX.
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