Continuamos aqui artigo anterior em que ilustramos com uma foto parte do estudo de Lisandra Franco de Mendonça sobre o desenvolvimento inicial de Lourenço Marques, actual Maputo - tese de doutoramento (carregar aqui) e artigo (carregar aqui). O que pudemos destacar nessa foto desse artigo foi:
(1) o aparecimento do primeiro grande povoamento fora da ilha inicial no que são agora os bairros Central e do Alto-Maé,
(2) a abertura da Av. D. Manuel, actual Josina e Rua da Rádio ("azul escuro" nas fotos com marcas em baixo) segundo o plano reticular do Major Araújo, e
(3) ao fundo dessa avenida a posição defensiva estratégica do Quartel do Alto Maé ("castanho escuro" nas fotos com marcas em baixo) compensando a demolição da antiga linha de defesa na Baixa iniciada a partir de 1883 (porta da linha).
A foto seguinte do rijksmuseum mostra a mesma zona e do mesmo lado que a foto do artigo anterior e que era da Northwestern University, o que permite boas comparações:
FOTO 1 (parcial)
Vista do centro para oeste de Lourenço Marques a partir da crista da barreira da Maxaquene |
Nesta foto em primeiro plano à esquerda vemos a Estrada da Ponta Vermelha, depois Av. D. Amélia, Miguel Bombarda, Brito Camacho e actualmente Av. Lumumba e que deve ter seguido um caminho tradicional e não ter sido específicamente definida pelo primeiro plano de urbanização radial / hexagonal ou pelo plano reticular definitivo para a cidade. Vemos também a encosta da Maxaquene a descer da parte mais alta à direita = norte para a esquerda = sul onde é a Baixa e para o fundo a subida da zona central para a colina do Alto-Maé a poente da cidade.
Comparemos então as duas fotos principalmente para vermos as diferenças no construído que anoto na legenda:
FOTOS do artigo anterior e FOTO 1
Marcado o principal equivalente nas duas fotos, salvo:
Azul médio: construção do consulado britânico estava concluída, para essa fase, na FOTO 1
Roxo: braço da cruz da Igreja Paroquial mudou de lado, da esquerda = sudeste
na FOTO do artigo anterior para a direita = nordeste na FOTO 1 deste |
Da comparação pode-se concluir que não houve grandes alterações entre os momentos captados. Ainda assim conclui-se que a FOTO 1 é um tanto posterior à FOTO do artigo anterior que estimei fosse de entre cerca de 1894 e 1895 pois o consulado britânico foi construído nesse período (só bastante mais tarde teve uma ampliação) e daí eu estimar que a FOTO 1 seja um pouco posterior a 1894-1895.
No artigo anterior referimos seguindo os textos de Lisandra que a Av. D. Manuel foi regularizada em 1888 (o que interpretei como significando tendo sido aberta e o piso de terra / areia compactado, mas em princípio sem macadam). Lembro também que Lisandra referiu que houve dificuldade em completar depois os trabalhos nalgumas avenidas nessa zona por vários motivos. Mas pelo que se vê nas duas fotos aqui seguidas o traçado da avenida parece completamente aberto pelo que todos os terrenos necessários deviam ter sido comprados / expropriados até cerca de 1895. Quanto ao pavimento não se pode ter a certeza mas presumo que ao tempo da FOTO 1 (quer dizer em 1895 ou pouco depois) ele estaria ainda em terra compactada e que não teria ainda à superfície o cascalho do macadame pelo que pode ter sido umas das vias deixadas para o fim desse processo. Como contexto mais geral dissemos no artigo anterior e segundo Pereira de Lima que a Rua NS da Conceição foi macadamizada em 1892 (mas pode não ter sido a primeira!) e que a Av. da República só o foi 1904 pelo que o periodo de aplicação desta inovação na rede viária de LM foi longo (a cobertura por asfalto só surgiu na cidade em 1914).
A FOTO 1 mostra o importante eixo viário atravessando a parte mais baixa da encosta junto à crista das barreiras de leste = nascente = Ponta Vermelha a oeste = poente = Alto-Maé / Malanga. Como disse via-se na foto um extremo da Av. D. Amélia ("castanho claro"), actual Lumumba descendo para a parte central da cidade, a Av. D. Manuel, actual Josina ("azul escuro") subindo dessa parte central para o Alto-Maé e entre as duas o pequeno troço agora chamado Rua da Rádio ("verde claro"). Esse eixo na direcção leste - oeste é intersectado mais ou menos na perpendicular por outro eixo na direcção norte - sul que desce num vale (o resto d)a encosta até à Baixa, vale esse onde foi construída a actual Av. Samora (a parte superior do vale está marcada pela mancha "preta" nas duas fotos). Esses dois eixos formando um "T" partindo da Baixa foram aproveitados em 1904 para a abertura de linhas de eléctrico ligando a Baixa aos dois extremos a leste e oeste da cidade. Por isso vimos neste artigo para as actuais Avs. Samora e Lumumba, neste e neste para a Lumumba e neste, neste e neste para a Josina muitas fotos mostrando-as cerca de dez a quinze anos depois do que vimos nas duas de cima cobrindo especialmente as Lumumba - Rua da Rádio e Josina (mais ou menos tudo sobre carros eléctricos no HoM aqui).
De sublinhar ainda que usei recentemente elementos da FOTO 1 para clarificar alguns assuntos em artigos anteriores (caso do novo pavilhão do Hospital). Acontecerá o mesmo com outros artigos a publicar sobre a zona que vimos aqui onde foram feitas várias construções importantes tanto privadas (consulado britânico, hotel clube) como públicas (ruas, hospital) e semi-privadas (igreja) no final do século XIX (19).
De sublinhar ainda que usei recentemente elementos da FOTO 1 para clarificar alguns assuntos em artigos anteriores (caso do novo pavilhão do Hospital). Acontecerá o mesmo com outros artigos a publicar sobre a zona que vimos aqui onde foram feitas várias construções importantes tanto privadas (consulado britânico, hotel clube) como públicas (ruas, hospital) e semi-privadas (igreja) no final do século XIX (19).
Podemos voltar a ver a seguir a FOTO 1 do rijksmuseum na versão completa:
FOTO 1 (imagem completa)
View of the Hinterland of Delagoa Bay in Mozambique, anonymous, c. 1900 - c. 1920 |
Como se pode ver para o rijksmuseum a foto é anónima mas talvez não o seja para outros autores. Informação adicional do rijksmuseum é: "This object belongs to Album with 191 photos from a trip to and through South Africa (RP-F-F00999)". Era algo habitual que os viajantes da época com máquinas fotográficas criassem albuns onde juntavam às suas próprias fotos outras que achassem pertinentes e que fossem adquirindo pelo caminho. O site delagoabay atribui sem mais explicações a foto aos irmãos Lazarus mas tal como na versão que aqui vemos não existe marcação de autor na imagem por isso não se pode confirmá-lo fácilmente.
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