Porto de LM, 1a doca: fotos tiradas do Capitania Building para SW (O)

Continuo a série sobre a estrutura antiga do porto de Lourenço Marques (LM), actual Maputo, a que chamei Primeira Doca e que foi referida em 1907 num artigo de revista como sendo a "doca das lanchas ou lanhões", o equivalente a doca de barcaças.
As duas fotos que se mostrarão aqui foram publicadas em duas edições da revista Ilustração Portuguesa (IP) disponibilizada pela Hemeroteca Digital de Lisboa. Nelas aparece essa Primeira Doca (PD) embora em segundo plano e não tendo sido específicamente mencionada nos textos que as acompanhavam. 
Tendo em conta o alinhamento da ponte-cais Gorjão que nas fotos aparecia do centro (sul para o fundo) para a direita (para oeste), a PD surge como uma reentrância para o interior dessa linha. Para nos apercebermos melhor nas duas fotos do limite da PD a leste, pode observar-se à esquerda a guarita da ponta da nova PP em forma de "L", a qual fechava a PD do lado a sudeste e que se via aqui na foto de baixo ou que se via aqui (nas duas primeiras fotos). 
Note-se ainda que nas duas fotos deste artigo, imediatamente à direita da PD aparecem umas estruturas a serem montadas na ponte-cais e que seriam a base dos guindastes eléctricos, ainda de lança fixa, que vemos aqui na 3a e 4a fotos e aqui e cuja numeração ia de 6 a 18, pelo menos. Um pouco mais para oeste = para a direita aparece nas fotos o primeiro armazém do porto nessa zona e do qual se falou aqui.

FOTO  1
"Primeira Doca" do porto de LM ao fundo em foto publicada a 25.11.1912 na revista IP

A FOTO 1 foi tirada do Capitania Building(s) mostrando em primeiro plano a área a norte da PD e a parte a norte do terrapleno seu contemporâneo (ver aqui). O desfile mostrado na foto vinha da avenida que tinha sido traçada entre a PD e a terra firme e que se chamava inicialmente Av. Teixeira de Souza, depois seria crismada Almirante Cândido dos Reis, um dos "heróis" da implantação republicana em Portugal em 1910. Dessa avenida se falou aqui e aqui e haverá mais 2 artigos para completar essa série sobre as avenidas novas junto ao cais. Prosseguindo a marcha, os participantes no desfile faziam um ângulo recto continuando pela rua Tavares de Almeida (Td'A) em direcção à praça 7 de março, actual 25 de junho.. 
Junto a essa esquina vê-se o edifício do relógio que continua aqui ao centro, mais de 110 anos depois, e com telhado vermelho. Esse edifício estava no interior do ângulo formado por  dois muros com gradeamento por cima, um à sua esquerda na foto colocado na direcção N-S e outro à sua direita colocado na direcção E-W, este último o que nesse tempo limitava o recinto do porto a norte. Relembro que até cerca de 1906, antes da construção da PD, na posição do muro na direcção N-S tinha estado o muro de suporte do lado leste da PCA e daí para a esquerda = leste estava o estuário. Este artigo fala desses muros e em que posição eles teriam estado se tivessem sobrevivido até à actualidade.
A FOTO 2 que se segue é semelhante à FOTO 1 pois foram ambas tiradas do canto a SW do Capitania Buildings que se via aqui ao fundo. Como referi antes, a PD está ao centro nas duas fotos, no entanto a FOTO 2 mostra mais do que exista para a esquerda = leste do terrapleno da PD. Ela mostra também um pouco melhor a parte mais a sul do limite a oeste da PD, a qual se ligava à estrutura em estacas da ponte-cais Gorjão.

FOTO 2
"Primeira Doca" do porto de LM ao fundo em foto publicada a 2.12.1912 na revista IP

Observemos alguns pormenores comuns nas duas fotos:

MONTAGEM (clique para aumentar)
Circunferência vermelho: tabuleta que parece indicar ser da antiga rua Td'A
Vermelho e branco: direcção da berma a oeste da antiga rua Td'A
Carmesim: posição do antigo lado a leste da 
Azul - carmesim: muro com gradeamento a leste do recinto do porto criado ao mesmo tempo que a PD e sobre onde tinha sido o antigo lado a leste da PCA
Azul escuro: muro com gradeamento a norte do recinto do porto
 criado ao mesmo tempo que a PD 
Seta castanho claro: novo terrapleno realizado com a PD a partir do 
novo muro "azul - carmesim", para leste deste e com largura de c. de 30 metros
Preto (ao fundo, acima da água): extremeidade a leste da ponte-cais Gorjão
Roxo: estrutura em estacas no limite a oeste da PD / extremidade a leste
 da ponte-cais Gorjão (aqui com marca também "roxo")
Laranja: primeiro armazém a leste da PD e ao lado da ponte-cais 
Verde claro: antiga avenida Teixeira de Souza / Cândido dos Reis 
Verde escuro: limites a sul e a leste da praceta de António Enes

Nas duas fotos da montagem a objectiva esteve virada mais para sul do que a objectiva da foto que já vimos aqui, a qual tinha estado mais orientada para SW. Daí não se ver nestas duas fotos a entrada mais a leste das instalações portuárias que ficava num intervalo do muro "azul escuro" e que tinha uma guarita, entrada essa que se via aqui marcada a "amarelo". De notar ainda que nessa foto se vê em primeiro plano o lado sul da praceta de António Enes (aí no "traço preto") enquanto que nas duas fotos deste artigo os limites dessa praceta nas proximidades da sua esquina a SE (próxima do poste e da tabuleta "circunferência vermelho") estão marcados a "verde escuro".
Quando à natureza das aglomerações de pessoas nas duas fotos:
- a legenda da FOTO 1 refere um cortejo na av. Cândido dos Reis comemorando o segundo aniversário da implantação da república, cuja data exacta teria sido a 5.10.1912. A maioria dos participantes activos na secção do cortejo à vista são crianças e jovens em idade escolar enquadrados por professoras (a assistência está nos passeios). Um dos estandartes visíveis em frente ao edifício do relógio terá escrito "ESCOLA" em cima e "MISSÃO SUÍçA" em baixo, o que corresponde à bandeira suíça que aparece em posição mais recuada desse grupo. Neste artigo na FOTO 3 vê-se um grupo de crianças participando na recepção ao Princípe Real em 1907 o qual tendo em conta a bandeira seria também da escola da missão suíça  
a legenda da FOTO 2 refere a passagem na Av. Almirante Reis duma procissão de banianes "seita religiosa que tem o culto de Vishnu originária do Guzerate", por isso relativa a uma festividade hindú e por parte de cidadãos de origem indiana (na altura a India Britânica incluia o que vieram a ser a India e o Paquistão actuais). 
Quanto às datas, estas duas fotos de 1912 não aportam dados novos sobre o que sabemos do calendário de existência da PD. Esta, como dissemos antes, deve ter sido criada em 1906 e quanto ao seu fim de vida tinhamos já tido em consideração esta foto que acompanhou a FOTO 2 na sua publicação, ou seja que para o final de 1912 a PD existia ainda. 
Ver série completa no HoM sobre a primeira doca em que vamos tentando entender o que existiu no lado mais a leste da zona portuária de LM entre cerca de 1903 e 1915, olhando principalmente para fotos dessa altura. Estas normalmente eram localizadas muito genéricamente e por isso podem ser agora compreendidas com maior precisão.

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